Marabá está entre os 20 municípios com pior saneamento do Brasil

Avaliação é resultado do "Ranking do Saneamento 2023", elaborado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados

Tay Marquioro
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Trafegar pelo núcleo Nova Marabá é encontrar cenas de contraste em uma área considerada central pela grande concentração de imóveis tanto residenciais quanto comerciais, na Folha 12. Nessa localidade, é possível encontrar um modelo de habitação nada comum para a região sudeste do Estado, as palafitas. O asfalto cruza um canal (também conhecido na cidade como ‘grota’) cuja água corre quase despercebida, se aproveitando também da invisibilidade de quem mora nos arredores.

O aposentado Ednaldo Sena é um dos que convivem com a água do canal. Mesmo com a mudança relativamente recente para a área, ele conta que já viveu momentos de bastante desespero, principalmente, nos períodos chuvosos. “Quando chove, alaga tudo. Dentro de casa, a água já chegou a dar na altura do meu umbigo e é uma água suja. Eu não sei como ainda não fiquei doente do contato com essa sujeira toda. Mesmo agora no verão, é ruim, porque água passa por debaixo da minha casa, praticamente, então eu tenho que conviver com o mal cheiro”, explica Ednaldo. O aposentado também conta que basta o tempo fechar para que os vizinhos fiquem apreensivos. “Quando chove aqui, ninguém dorme. Teve vizinho que já perdeu cama, colchão, sofá, tudo, porque esse canal transborda muito rápido”.

Quem perdeu os móveis lamenta, mas este não é o único transtorno causado pelo mau tempo. A dona de casa Meire Borges, por exemplo, afirma nem precisa chover muito para os problemas começarem a aparecer. “Uma chuvinha rápida é o suficiente para aumentar um pouco a água e aí já desce bicho demais aqui, tanto vivo quanto morto. Já tive que tirar restos de cachorro, de gato morto, da frente de casa, que o pessoal joga na grota lá em cima e, com a chuva tudo desce aqui”, comenta. “Mas dentro de casa já entrou cobra também, sucuri, essas cobras d’água, tem muita. Outro dia, uma quase picou a minha filha. A minha menina estava arrancando mato e a cobra deu bote na mão dela, mas não chegou a picar. Meu netinho também caiu na água e a cobra enroscou na perna dele. Foi um milagre ele não ter sido atacado”.

Para a cozinheira Maria Graciete Alves, um grande problema para quem vive no entorno do canal é a falta de educação de quem mora em outras partes da grota. “Prejudica muito a gente porque, por mais que a prefeitura limpe, as pessoas jogam muito lixo lá em cima e, quando chove, a sujeira toda desce, acumula aqui e atrapalha que a água vá embora”, avalia. Mãe de um garoto portador de necessidades especiais, ela também sente na pele as dificuldades pela falta de mobilidade no local. “Já teve dias em que eu precisei ir para o serviço e não consegui sair. Meu filho é especial, sempre tenho que levar ele às consultas médicas e é muito ruim para sair de casa. No inverno, precisa atravessar aqui com o pé na água mesmo, esbarrar em sacos de lixo, restos de animal morto, fora o mal cheiro que é horrível, a gente vive com dor de cabeça. Eu morro de medo de um dia adoecer por causa disso”, afirma. “Mas no verão também é muito ruim, porque essas passarelas fomos nós mesmos que improvisamos, para ter como sair. Só que já aconteceu de ter gente que tenta atravessar aqui sem conhecer e acaba caindo na grota. Eu mesma, que moro aqui, tenho muito medo de pisar em falso ou uma madeira dessas ceder e eu acabar dentro da água”.

O Ranking do Saneamento 2023, elaborado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, trouxe um retrato do que vivem essas famílias ao colocar Marabá na lista dos 20 municípios com piores condições de saneamento do país. De acordo com o levantamento, elaborado com base nos dados do Ministério das Cidades, no ano de 2022, o município recebeu um investimento médio em serviços de saneamento de apenas de R$18,84 por habitante. Entre os municípios paraenses, Marabá ocupa o quarto lugar entre os piores, em uma situação melhor apenas que Ananindeua, em primeiro, Belém, em segundo, e Santarém, em terceiro.

Segundo informações do próprio Instituto Trata Brasil que, desde 2009, monitora os indicadores relacionados a saneamento básico no país, cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta regular de esgoto e essa escassez do serviço pode ter reflexos na saúde da população, levando inclusive à hospitalização por doenças de veiculação hídrica. Números do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) apontam que os investimentos na área historicamente não acompanham o ritmo de crescimentos dos centros urbanos e, por isso, o país ainda tem grandes dificuldades com o tratamento do esgoto. Assim, apenas 51,20% do volume de esgoto gerado é tratado. O restante é despejado diariamente na natureza sem qualquer tipo de tratamento.

Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Marabá informou por meio de nota que cabe ao município a promoção de obras de drenagem e limpeza das águas pluviais. A nota diz ainda que Marabá, nos últimos anos, tem realizado o maior programa de drenagem de águas pluviais do estado, mas que enfrenta um problema crônico, que são as habitações em áreas de alagamento abaixo da cota 82, onde as moradias são proibidas por lei. Já a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), disse que contratou uma operação de crédito para a viabilização do projeto de Desenvolvimento do Saneamento no Pará. Os investimentos serão feitos, segundo a Cosanpa, para melhorar a qualidade de vida da população em todos os municípios do Estado.

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