Marabá: artistas reivindicam pagamento da Parada do Orgulho LGBTQIA+

O evento foi realizado há 26 dias e várias atrações ainda aguardam pagamento de cachê pelo show contratado

Tay Marquioro
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Trabalhando como DJ há três anos, Samilly Mendes, conhecida no meio artístico como DJ Sammer conta que ficou feliz por receber, pelo segundo ano consecutivo, o convite da coordenação do evento para se apresentar na Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Marabá, no sudeste do Estado. “O Igo Silva – coordenador geral do evento - entrou em contato comigo, combinamos um cachê, cujo valor foi proposto por ele mesmo. Seria R$500 por 40 minutos de apresentação”, relembra. Ela conta que a primeira experiência como atração do evento foi tranquila, o que lhe deu segurança para aceitar o segundo convite. “Pelo fato de ter dado certo na primeira, eu confiei e não assinei nenhum contato. Não tive problemas para receber em 2022 e, este ano, acertamos tudo apenas por mensagem”.

Já no dia do evento, devido a sucessivos problemas e atrasos, a performance que deveria ser de 40 minutos se estendeu bem mais que o combinado. “Tinha todo um cronograma para seguir. Porém, houve atraso demais e eu acabei tendo que substituir outros DJs. Não recebi uma justificativa. E eu já estava chegando a duas horas de tocada”. Ao final da apresentação, a artista buscou o coordenador do evento para receber o cachê acertado e recebeu a resposta de que, no dia seguinte, seria procurada para que o pagamento fosse efetuado, o que não aconteceu. “Três dias se passaram até que ele me enviou mensagem pedindo minha chave PIX. No dia seguinte, ele mandou mensagem dizendo que a Prefeitura não tinha efetuado os repasses necessários para pagar todos os artistas. Foi então que o Igo pediu para aguardar até o dia 5 de outubro porque, devido a isso, ele usaria o seu próprio salário para honrar o compromisso”, conta a DJ. A essa altura, Sammer já calculava os prejuízos que poderia ter após tantos dias sem receber pelo seu trabalho. “Isso já era inviável para mim, porque a parada foi no dia 17 setembro. Nesse meio tempo, ele não respondeu mais, eu tentei contato pelas redes sociais, por telefone, e não tive resposta. Mas ele estava ativo nas redes, apenas ignorava minhas mensagens, minhas ligações iam direto para caixa postal. Fui bloqueada de tudo”, lamenta a artista que estuda acionar judicialmente o grupo responsável pela realização do evento.

A história se repetiu com Danilo Sotirakis, o DJ Sottirakis, nome conhecido na noite de Marabá. O artista conta que foi contatado pelo coordenador da Parada pelo Instagram e que foi a primeira vez que trabalharam juntos. Para Danilo, a proposta foi de uma hora de apresentação pelo cachê de R$250. “Eu estava programado para tocar às 22h. Cheguei no evento, ele me disse que tinha atrasado e eu tocaria às 23h. Depois, ele disse que eu tocaria só 00h30. Mas já lá no palco, nesse horário, ele me pediu para tocar até a polícia parar o evento. Eu concordei em tocar mais tempo sem cobrar nada, toquei até 2h20”, lembra o DJ. “Quando desci do trio, não encontrei mais ele e, somente três dias depois do evento, recebi uma mensagem falando que houve problemas com patrocinadores, mas que até dia 5 de outubro efetuaria o pagamento. No dia combinado, tentei contato, mas eu já estava bloqueado. Liguei de outro número, mas não tive retorno. Mandei mensagem no Instagram, ele estava sempre online, sempre postando stories, mas nunca tive resposta. Procurei o outro coordenador e não tive uma justificativa para aquilo”, lameta.

image Igo Silva (de camisa listrada) posa ao lado do DJ Sottirakis (de jaqueta) (DJ Sottirakis/Arq. Pessoal)

Já com o jovem cantor e bailarino marabaense Henrique Collins, a história foi diferente. Mesmo com a proposta de receber menos da metade do orçamento que fez para o evento, Henrique aceitou estar entre as atrações da Parada LGBTQIA+ de Marabá. “Quando o Igo me fez a proposta, ele disse que teria pirotecnia, três telões disponíveis para os artistas utilizarem e um palco grande. Isso me fez brilhar os olhos, apesar do cachê baixo. Eu aceitei para não perder a oportunidade, resolvi reduzir a equipe e ensaiei um show mais enxuto”, revela. Henrique conta que, dias depois, soube pelo coordenador que a estrutura havia mudado e que a sua apresentação seria em cima de trio elétrico de grande porte, vindo de Belém. No entanto, essa expectativa não se confirmou no dia do evento. “O trio que estava na parada era um trio local, muito menor, nada parecido com o que ele havia mostrado. O meu espetáculo se quebrou por inteiro”. Apesar da frustração, Henrique afirma que, uma semana antes da Parada, recebeu metade do cachê com a promessa de que o restante seria repassado após a apresentação. “Dia 20 de setembro, eu mandei mensagem para o Igo para saber do restante do valor. Mas ele disse que apoios que ele contava para a Parada não se concretizaram e prometeu o pagamento para o dia 5 de outubro. Depois disso, ele não respondeu mais as minhas tentativas de contato. Na última segunda (9), liguei para o coordenador adjunto para tentar mais informações. Mas nem ele sabia do paradeiro do Igo e disse que não podia ajudar, porque não tinha ficado responsável por contratação e pagamento de atrações”.

Procurado pela reportagem, João Vitor Cavalcante, coordenador adjunto da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Marabá, respondeu aos questionamentos por meio de nota. De acordo com ele, existia uma divisão de funções no Grupo Atitude LGBT, responsável pela realização do evento. Segundo a nota, a João Vitor coube a organização de questões como coordenação de monitores, suprimento de água e organização do trio. “Fiquei tão surpreso quanto os artistas contratados, uma vez que não sou responsável pelos pagamentos dos eventos organizados pelo grupo e, ao ser informado sobre o problema, diligenciei para resolvê-lo, além de prestar total assistência aos artistas”, diz o coordenador adjunto em nota que frisa também que um dos motivos para o não pagamento dos artistas foi a redução em 80% do apoio prometido pela Prefeitura de Marabá.

Por sua vez, o secretário municipal de Cultura de Marabá, Genival Crescêncio, informou por telefone que toda a estrutura acordada para o evento foi fornecida e que não coube à Secretaria a busca, contratação ou pagamento de cachês aos artistas que se apresentaram no evento. “Fornecemos estrutura de som, iluminação, trio elétrico e geradores, alguns desses materiais utilizados na festa pré-parada e outros na Parada. Mas não houve corte no apoio ao evento”, esclareceu o secretário.

A redação integrada de O Liberal tenta contato telefônico e por aplicativo de mensagens com Igo Silva, coordenador da Parada do Orgulho LGBTQIA+, sem sucesso até a conclusão dessa reportagem.

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