Belém tem 65% do território guardado por 39 ilhas e usa trunfo verde para gerar renda

A peculiaridade urbana da metrópole da Amazônia, hoje com 1,5 milhão de habitantes, é ser o berço da floresta

Cleo Soares e Daleth Oliveira / O Liberal

“Sobre o verde berço da floresta, onde brota fauna e flora tão vibrante, nasceste tu, minha Belém, entre o leve alento dos igarapés e agrados de rios afluentes”. Os primeiros versos do hino da capital do Pará dão uma pista: trata-se de uma composição para uma cidade banhada por água doce. Mas, talvez, nem o compositor desse hino, Eduardo Neves, imaginasse o tamanho do patrimônio ecológico da chamada Metrópole da Amazônia, ao escrever sobre aquela que era sua inspiração: uma Belém que também é formada por um arquipélago de 39 ilhas, ricas em biodiversidade – e das quais muitas hoje convivem com o avanço progressivo da ocupação humana, inclusive em áreas protegidas por lei, e com uma integração cada vez maior à rotina urbana que as cerca.

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E é esse pedaço de Amazônia que forma justamente a maior parte da cidade de Belém. Da totalidade das terras da capital (com 50.582,20 hectares, ao todo), as ilhas ocupam 65,64% da sua área, o que representa dois terços de todo esse território. A outra fatia, formada por terras continentais, equivale a 17.378,63 hectares, ou o correspondente a 34,36% do município. 

Hoje a capital paraense conta com população estimada em 1,5 milhão de habitantes. Desses, são mais de 78.377 as pessoas que vivem apenas na região insular de Belém (segundo dados de 2010 do IBGE). Em 2.000, as comunidades dessas ilhas somavam 58.351 moradores. Ou seja: essa fronteira verde da cidade viveu um salto populacional de 20 mil moradores, em apenas uma década.

image (Infográfico: Alynne Cid / O Liberal) 

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Área das ilhas: 33.203,57 hectares (65,64% do território de Belém)
População de Belém: 1,5 milhão de habitantes
Populações nas ilhas: 78.377 habitantes 
Fontes: CODEM, INCRA (2010), IBGE (2010).

Algumas ilhas da capital ingressaram mais cedo em etapas de urbanização e convivem há mais tempo com iniciativas em negócios no turismo - como é o caso de Outeiro e Mosqueiro. Curiosamente, o crescimento populacional mais recente nessa região insular se volta justamente às áreas verdes mais próximas de Belém – embora, por muito tempo, essas zonas tenham se mantido protegidas, cercadas pelas águas, nas outras margens dos rios Pará, Guamá e da baía do Guajará, que banham a cidade. O novo movimento de ocupação avança por esses cenários naturais, como em Cotijuba, Ilha Grande e ilha do Combu, ganhando contornos diferentes dos de outros tempos, e incluindo novos temas e parâmetros como a sustentabilidade.

"Privilégio de Belém ser a única capital do país a dispor de um enorme patrimônio ambiental de inquestionável riqueza" - José Mariano Klautau de Araújo, escritor e sociólogo.

E em outras ilhas, menores, áreas pouco conhecidas seguem se mantendo como tesouros naturais ainda menos ocupados, com riquezas em biodiversidade. Não por acaso, o já falecido escritor e sociólogo José Mariano Klautau de Araújo registrou em publicação a importância do olhar do poder público para essa região da capital. Em seu livro “A Dimensão Insular” (1995), Klautau fala do “privilégio de Belém ser a única capital do país a dispor de um enorme patrimônio ambiental de inquestionável riqueza”, citando essas ilhas.

 

Razões para o avanço tardio

Apesar do escritor ter total razão, a região insular, que é a maior porção de Belém, segue ainda como a mais esquecida pelas políticas públicas na capital, afirma doutora em ciências ambientais Leila Mourão, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA).

image (Sidney Oliveira / O Liberal)

“Isto não ocorreu ao acaso. A noção conceitual de ilha traz em si uma carga cultural simbólica e de representações cheias de conceitos e preconceitos na memória coletiva, desde os tempos ancestrais. Por longo tempo, entre os séculos XVII e XIX, as ilhas foram utilizadas como locais de esconderijo de indígenas submetidos, escravos africanos e afrodescendentes, ou fugitivos da Justiça. Ainda que as ilhas compusessem as áreas das cartas e datas de sesmarias concedidas, ao longo dos três primeiros séculos elas não foram ocupadas sistematicamente pelos sesmeiros”, explica.

Leila Mourão pontua que, de modo geral, até início do século XIX, algumas ilhas da Região Metropolitana de Belém foram utilizadas para o cultivo de cana-de-açúcar, cacau, arroz, urucum, baunilha etc. Outras tornaram-se sede de olarias e engenhos. “E ainda que houvesse moradores em algumas ilhas, eles foram relativamente ignorados pelo poder público”, afirma. 

"As ilhas (...) tornaram-se locais favoritos para a elite estrangeira e os novos ricos da comercialização do látex, da castanha e das madeiras" - Leila Mourão, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Foi somente no final do século XIX que parte delas passou a ser progressivamente povoada, através de projetos de governos e em função de políticas de imigração por eles promovidas, como em Caratateua (Outeiro). As outras ilhas, consideradas de menor importância, foram ocupadas por migrantes nordestinos, recusados nos projetos governamentais, ou pelos que vinham por conta própria para a Amazônia, sem condições financeiras para chegar aos seringais ou castanhais.

Com isso, somente no final do século XIX, e durante o século XX, o poder público começou a pensar na importância do turismo e do lazer para algumas ilhas da Grande Belém. “As ilhas de Outeiro, Mosqueiro, Onças, Cotijuba e algumas outras, tornaram-se locais favoritos para a elite estrangeira e os novos ricos da comercialização do látex, da castanha e das madeiras. Configura-se aí uma nova valoração social, econômica e cultural das ilhas, tornando-as economicamente atrativas”, pondera Leila Mourão.

Nova paisagem para a urbanidade de Belém

Belém ainda possui muitas árvores. Elas embelezam ruas e ajudam a amenizar o calor típico da região. Na área mais central, a maior parte é de mangueiras seculares - que deram à capital o apelido carinhoso de “cidade das mangueiras”. Mas, ao longo de seus 405 anos, ela vem perdendo mais áreas verdes, em decorrência do processo de ocupação.

image (Igor Mota / O Liberal)

Em contraste com essa paisagem urbana, a zona insular de Belém ganhou ares de porta de passagem para refúgios. A menos de 15 minutos de viagem, por lancha, um deles oferece paisagens paradisíacas, com direito a experiências gastronômicas e intenso contato com a natureza: é a Ilha do Combu, situada às margens do rio Guamá, na baía de Guajará, junto à Ilha Murutucum, e circundada pelos furos do Benedito e da Paciência. Literalmente de cara para a paisagem urbana, a ilha é umas das mais procuradas hoje, justamente por ser a mais próxima entre as 39 ilhas da região insular metropolitana. É também o maior de todos os novos recantos com procura crescente: soma 15,7 km² de extensão e cerca de 1.800 habitantes. E também é uma Área de Proteção Ambiental (APA), criada pelo Estado do Pará ainda em 1997.

O acesso às comunidades do Combu se dá pelos Igarapés Combu, Periquitaquara, Tapera e Traquateua. Lá já estão localizados, hoje, 33 bares e restaurantes, ligados ao Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará. A turismóloga Ágila Chaves, pesquisadora da UFPA, explica esse florescimento recente de empreendimentos na ilha: ela considera como únicas as possibilidades do turismo na região insular de Belém, pela forte presença da natureza. “Além de toda fauna e flora amazônica, as características regionais da cultura paraense potencializam a cadeia de valor de produtos locais e as inúmeras formas de uso e vivências. Isso tudo enriquece o turismo no Combu e nas demais ilhas de Belém”.

"Entre as alterações espaciais que acontecem no Combu, ganham destaque os restaurantes criados para fins de lazer e turismo" - Ágila Chaves, turismóloga.

Ágila Chaves lembra que o potencial turístico dos espaços insulares de Belém está principalmente no forte contato com os rios. Assim, as ilhas favorecem várias atividades de lazer, como praias e igarapés, a apreciação da culinária nos bares e restaurantes, trilhas ecológicas e passeios em embarcações como lanchas e motos aquáticas, além de roteiros em sítios históricos e arqueológicos, acampamentos, eventos e possibilidades de compra de artesanato e práticas esportivas como a canoagem e stand-up paddle, entre tantas outras.

Especificamente na ilha do Combu, Ágila afirma que essa nova busca começou há pouco mais de uma década. “Mesmo sendo frequentada desde muito antes, a intensidade de passeios, inauguração de bares e restaurantes se intensificou a partir de 2010. Assim, entre as alterações espaciais que acontecem no Combu, ganham destaque os restaurantes criados para fins de lazer e turismo, oferecendo serviços e atividades como parquinhos para crianças, trapiches para banho, além das trilhas ecológicas aos que desejam aventurar-se ilha adentro”.

A pesquisadora aponta que esse potencial turístico e econômico é confirmado pelo aumento da exploração dos espaços por agências, mas com respeito ao cotidiano dos moradores. “A maioria dessas novas empresas são iniciativas de empresários locais, que interagem cada vez mais e fazem mais parcerias com os moradores das ilhas. E isso é muito bom!”, avalia.

Fuga da cidade pelo rio Guamá

A turismóloga Ágila Chaves justifica a crescente travessia de moradores da região metropolitana para as ilhas de Belém. Para ela, trata-se de uma necessidade de fuga da cidade. “A Ilha do Combu atrai regularmente visitantes de diversas regiões, em busca de contato com a fauna, a flora e com as populações ribeirinhas. Ou ainda somente pela possibilidade de usufruir de momentos de lazer e contemplação”.

image (Sidney Oliveira / O Liberal)

Assim faz o empresário Rodrigo Reo, que sempre que pode foge para o outro lado do rio, em busca da tranquilidade do Combu. Morador de Belém, ele diz sentir-se privilegiado por ter um pedaço da floresta tão próximo da capital. Em breve, Reo se tornará pai. E ele diz que não vê a hora de levar também seu filho para conhecer a ilha. “Ter a oportunidade de me desligar por algumas horas do dia, atravessando a cidade, é, sem dúvida, um privilégio. Não só para mim, mas para a família, que está crescendo. Estar em contato com a natureza e mostrar o que há de belo, tão perto de casa, já está nos planos para a chegada do meu primeiro filho”, diz ele, emocionado.

Aproveitando o mês das férias do quente mês de julho com a família, a universitária Amanda Guimarães também prefere o ambiente do Combu ao centro de Belém, onde mora. “Toda vez que venho para cá me sinto muito bem. Não tem a poluição e o barulho da cidade. Sempre que posso venho com minha família e amigos. Ainda mais eu, que estou no final da graduação. Preciso de mais tranquilidade. É isso que encontro aqui”.

"Gosto da minha cidade. Ela é bonita, tem muitos parques. Mas nada se compara com essa beleza que vemos aqui no Combu"- Amanda Guimarães, universitária.

A empresária Anne Porfírio percorreu uma distância maior para conhecer o Combu. Foram 3,2 mil quilômetros. Partiu de Curitiba, capital do Paraná, rumo a Belém. E se apaixonou pela região das ilhas. “Gosto da minha cidade. Ela é bonita, tem muitos parques. Mas nada se compara com essa beleza que vemos aqui no Combu. Essa é a primeira vez que estou aqui, mas quero me programar para voltar e trazer meu marido e meus filhos”, planeja.

Passeios de aventura e gastronomia se unem na ilha

Para fomentar o turismo de Belém, a Coordenadoria de Turismo de Belém (Belemtur) implantou centros de apoio ao turista (CATs) em pontos estratégicos da cidade. Nesses locais, os agentes de turismo devem abordar, acolher e informar o turista. "São importantes essas ações em locais que são referências para turistas. É um trabalho valorizado no mundo inteiro”, explica o coordenador da Belemtur, André Cunha.

image Dona Nena (Thiago Gomes / O Liberal)

Atualmente, cinco CATs estão em funcionamento. Um deles fica no Solar da Beira, na área da feira e do mercado do Ver-o-Peso, o mais conhecido cartão postal de Belém. Os demais estão nas ilhas ou em pontos turísticos e de acesso a embarques para viagens pelos rios, como no Ver-o-Rio, no Terminal Hidroviário da praça Princesa Isabel, de onde partem barcos de Belém para o Combu, e nas ilhas de Mosqueiro e Cotijuba.

É justamente nas águas dos rios que a economia do turismo está se desenvolvendo em Belém: em ondas de aventura, esporte, lazer e experiências gastronômicas. “O movimento de busca por atividades ao ar livre tem crescido bastante. Há uma necessidade de se conectar com a natureza”, avalia Diego Barros. Ele é gerente de uma companhia que desde 2004 fomenta o turismo ecológico nas áreas de reserva ambiental de Belém.

Na ilha do Combu, o grupo de Diego trabalha com uma trilha ecológica que explora os sabores do chocolate original feito nas comunidades ribeirinhas. E também há programas para se fazer rapel em uma das paradas obrigatória na ilha: uma árvore, da família das sumaumeiras, que tem 23 metros de altura. "Muitas pessoas ainda desconhecem as ilhas, justamente por Belém ter crescido de costas para elas”, comenta Barros.

Mas as atrações encantam até quem é da cidade. Tudo isso no cenário peculiar de uma “fantástica fábrica de chocolate” tropical, onde se pode acompanhar de perto o preparo artesanal do cacau orgânico de Izete dos Santos Costa, 56, a reconhecida Dona Nena. 

image Dona Nena (Thiago Gomes / O Liberal)

Em dez anos de trabalho, com ajuda de seus colaboradores, Dona Nena se tornou a principal responsável por dar destaque ao Pará como marca forte de uma produção de chocolate 100% natural, rico em antioxidantes e também em histórias e respeito ao cultivo tradicional de ribeirinhos. Uma iguaria onde se prova, ao mesmo tempo, uma delícia e a cultura local da Amazônia.

Com o sucesso, Dona Nena ampliou seu leque para além dos serviços gastronômicos. “Nós começamos com chocolate. Hoje agregamos o turismo de experiência. O visitante inicia no terminal hidroviário, faz um tour no Rio Guamá, conhece o histórico do meu trabalho, faz uma trilha pela floresta de várzea e ouve sobre a importância de preservá-la. No final, temos também a oportunidade de cada um fazer sua barra de chocolate com o cacau da Ilha".

image (Sidney Oliveira / O Liberal)

Nena diz que o crescimento do turismo na região das ilhas é benéfico para atrair a atenção e os investimentos do poder público. Entretanto, ela alerta: é necessário cuidar mais do ambiente. “Hoje já temos coleta de lixo regular, mas precisamos ser mais organizados. Acho bom investir no turismo local, mas devemos olhar para a preservação ambiental, além de melhorar a nossa estrutura para recebermos melhor as pessoas de fora", reflete.

A prática esportiva da canoagem se fortalece na região, seguindo essa mesma receita guardada por Dona Nena. E assim, reúne cada vez mais adeptos, entre muitos dos que buscam atrativos e bons motivos para se ligar à natureza. São vários os clubes e coletivos de Belém para os que desbravam os rios e furos do Combu e de outras ilhas da capital, com expedições que também incluem iniciativas socioambientais de preservação, em interação com os ribeirinhos. Atualmente, Belém tem também pelo menos sete iniciativas que unem empreendedorismo em turismo de aventura, ação social e várias modalidades náuticas e de exploração, para quem gosta de curtir o encontro das águas com a floresta. 

Entre essas expedições, a mais procurada é a que atravessa o rio Guamá até residências de moradores que também lucram com a cadeia do turismo. Uma delas está na Ilha das Onças, vizinha ao Combu, mas pertencente ao município de Barcarena. “Esse é o passeio mais lotado. São dez quilômetros do continente até a casa do Celso, que é uma pessoa fantástica e muito acolhedora. A casa e o café que ele oferece atrai cada vez mais gente”, conta Luciana Quintana, instrutora.

Economia do turismo: benefícios à comunidade

Um exemplo do ciclo virtuoso que o desenvolvimento do turismo já oferece à região das ilhas de Belém está na história do barqueiro Éder Lima. Ele é um dos que encontraram nisso novas oportunidades de experiências e garantias de renda extra. Lima trabalhava com o transporte de sacas de açaí, alimentos e material de construção quando, há quatro anos, começou a fazer travessias de turistas para os restaurantes do Combu. “Esse aumento da procura pela ilha tem sido positivo para nós moradores. A maioria dos estabelecimentos emprega pessoas daqui, e isso é muito bom”, comemora.

image Barqueiro Éder Lima (Sidney Oliveira / O Liberal)

Porém, apesar das boas perspectivas, Anderson Nascimento, vice-presidente da Associação dos Ribeirinhos, Barqueiros e Condutores das Ilhas de Belém, explica que as águas não estão calmas assim para as novas aventuras. A rota já teve 30 barqueiros trabalhando. O número foi reduzido para 20 durante o período mais crítico da pandemia da covid-19. Foi quando o valor da passagem também dobrou, de R$ 5 para R$ 10, para reduzir o número de pessoas nas ilhas.

No geral, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), órgão público responsável pela gestão e fiscalização dos transportes na cidade, lembra que o transporte urbano hidroviário que liga Belém às suas ilhas é atendido também por outras embarcações. Elas partem de trapiches públicos, como os encontrados no distrito de Icoaraci e na ilha de Cotijuba - a rota que liga dos dois portos é atendida por uma linha municipal que faz a travessia. Há ainda barcos que partem do Terminal Hidroviário Ruy Barata, na praça Princesa Isabel. Lá, a travessia para ilha do Combu é feita por duas cooperativas de trabalhadores de transporte por embarcações.

Empreendedorismo social floresce

A suspensão das aulas presenciais, em decorrência da pandemia da covid-19, no ano passado, incomodou a gestora Ana de Sá e a fotógrafa Grazi Caliman, que já tinha muito tempo de vivência em fotografia no Combu. Juntas, um dia elas resolveram abraçar o empreendedorismo social e fixar uma sede na ilha. O espaço idealizado por elas adotou as formas geodésicas - um tipo de construção sustentável e com geração de resíduos menor que a de estruturas construídas tradicionalmente. É dentro desse espaço, a primeira geodésica da ilha, que 37 crianças aprendem a cantar e compõem o “Canto Coral Combu”, com o apoio de professores de música voluntários e moradores locais.

image A gestora Ana de Sá e a fotógrafa Grazi Caliman (Sidney Oliveira / O Liberal)

As crianças assistidas pelo projeto têm programações realizadas todas as manhãs de domingo. “Antes nossos filhos não tinham nenhum estímulo para se envolver com música. Agora estão tendo esse contato com o ensino musical. Gostamos muito”, conta Rosimara Silva, moradora da ilha e mãe de uma das crianças atendidas. Rosimara também é uma das parceiras do projeto.

Além do ensino musical, o Canto Coral Combu também trata de sustentabilidade, ensinando meninas e meninos a preservar o ambiente. “Os professores também dão aula de reaproveitamento de resíduos sólidos. Confeccionamos instrumentos musicais com garrafas pet, e as crianças adoram”, alegra-se Rosimara.

Ana de Sá, uma das administradoras do espaço e idealizadoras do projeto social, destaca a importância de o setor empresarial investir no turismo da Ilha. Mas ressalta que é importante olhar também para a comunidade, gerando educação, emprego e renda aos moradores. “Muitas pessoas não têm, por exemplo, preparação para trabalhar nos restaurantes. Então é importante que os empresários capacitem a mão-de-obra local. Isso é fundamental para o desenvolvimento dessa comunidade”.

Moradores sonham com melhorias

Foi também a partir do empreendedorismo social que a vida de Luanne Silva, de 22 anos, começou a mudar. Mãe, quilombola e ribeirinha, a moradora do Furo do Maracujá, na região das ilhas, este ano cruzou os portões da Universidade Federal do Pará (UFPA) como nova caloura. Para isso, muitos obstáculos pessoais foram superados, com a ajuda do cursinho da Rede Emancipa, mantido na própria UFPA, com professores voluntários.

image Luanne Silva é mãe, quilombola e ribeirinha (Thiago Gomes / O Liberal)

Hoje a mãe do Mateus, de 5 anos, é estudante do curso de Desenvolvimento Rural. E como o próprio nome do curso diz, ela não quer mudar só a própria vida, mas também da sua comunidade. “Quero ficar aqui. O curso que escolhi está diretamente relacionado com as questões ambientais, com a melhoria do trabalho rural”, pondera Luanne.

“Me preocupo com a questão do lixo que não é coletado aqui na ilha onde moro. Queria poder fazer oficinas de como reciclar os materiais reutilizáveis, com as crianças e adultos”, planeja a estudante universitária, que também se preocupa em incentivar a agricultura familiar. “Somos extrativistas, e seria muito bom também podermos plantar para o nosso consumo”.

image (Sidney Oliveira / O Liberal)

Para essas, e todas as demais possibilidades de condução do próprio futuro, com mais cidadania, empoderamento, bem-estar social e renda, as populações das 39 ilhas de Belém ainda encontram na educação um dos seus grandes desafios. Um exemplo disso está no Ensino Básico. A Secretaria Municipal de Educação de Belém (Semec) mantém hoje dez escolas da prefeitura em funcionamento em toda a porção insular da capital. Dessas, cinco estão na ilha do Combu, onde hoje atendem 500 estudantes. 

Este ano a Semec reconfigurou o atendimento das escolas das ilhas. Para isso, criou a Coordenadoria da Educação do Campo, das Águas e das Florestas. Entre outros objetivos, ganha força o de conciliar os estudos escolares com a vida de diversas populações e os ambientes que as cercam na Amazônia. A meta é garantir uma educação que reconheça a terra, as águas, as florestas e os territórios étnico-raciais da região.

Ilha do Combu: onde fica e como chegar

Ela é a quarta maior de Belém, em tamanho e população.

- 15,7 km² de extensão territorial;
- 1.800 habitantes;
- É Área de Proteção Ambiental (APA) desde 1997;
- Acesso pelo terminal hidroviário da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor, em Belém. A praça tem estacionamento;
- Saídas dos barcos: 9h, diariamente, com passagens a R$ 10 por pessoa;
- Tempo de travessia: 10 a 15 minutos;
- Tour pela ilha (50 minutos): R$ 40 reais por pessoa.
- São 33 estabelecimentos, entre hostels, pousadas, bares e restaurantes (funcionam de terça-feira a domingo, das 10h às 18h);
- Evite sapatos de saltos e leve roupa de banho para ir às ilhas.

Fontes: Inventário de Oferta Turística Belém (2020) e IBGE (2015)

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