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Feito doce (mas não é!)

Para desespero de muitos pais, promover a reeducação alimentar dos filhos não é tão fácil como parece. O segredo é manter hábitos saudáveis desde cedo

Rodrigo Cabral
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Tente se lembrar de um comercial de TV que tenha estimulado o seu apetite com um close em uma beterraba de dar água na boca. Agora, pare para pensar em quantas vezes já salivou vendo imagens de queijo derretendo ou ouvindo o maravilhoso som de mordidas em batatas fritas ultracrocantes. Quem nunca? O prático e saboroso mundo dos doces e fast foods se apresenta de uma forma altamente sedutora e busca envolver pessoas de todas as idades. As crianças têm sido alvos fáceis, o que gera preocupações em muitos pais em relação à saúde e ao desenvolvimento de seus filhos. Os adultos até sabem: é preciso aumentar o consumo de vegetais. Mas, e quando as crianças rejeitam?

A nutricionista Viviane Ares Lédo deixa claro que a alimentação saudável é uma escolha, que precisa permear o dia a dia da família. “A palatabilidade da criança é formada, na verdade, com o que é apresentado a ela. Os responsáveis não podem desistir de oferecer um alimento saudável porque a criança rejeitou logo na primeira tentativa. Na introdução alimentar, tudo é muito novo. É preciso apresentar outras vezes, quem sabe até de outras formas, para que ela possa assimilar. Além disso, é fundamental que os pais também tenham hábitos alimentares saudáveis e quem façam suas refeições na presença das crianças, para que elas copiem aquele comportamento, entendendo que aquilo faz bem e que é saboroso”, orienta.

image A nutricionista Viviane Ares Lédo (Naiara Jinknss / Troppo)

 

Essa tem sido a nova rotina da casa da psicóloga Renée Porpino e do publicitário José Porpino Neto, na busca por um maior equilíbrio na alimentação da filha, Ana Eduarda (Duda), de oito anos de idade. Mas o processo de reeducação alimentar não tem sido tarefa fácil. E a motivação foi dolorosa. “Se a deixávamos escolher o que comer, só apareceriam no prato: batata frita, muita farofa e uma carne vermelha. ‘Na sobremesa tem que ter um chocolatinho, né, pai?’. Ela sempre pedia. Chocolate é algo que não podia faltar um dia sequer. Ela tomava um achocolatado em pó misturado no leite líquido, comia uma colher de creme de avelã com chocolate, fazia aquela papinha de leite em pó com achocolatado ou comia uma barrinha de chocolate mesmo”, conta Neto.

image José Porpino Neto e a filha Ana Eduarda (Naiara Jinknss / Troppo)

 

Com o tempo, a receita desandou. O consumo de chocolate todos os dias, literalmente, passou do ponto e levou a criança a desenvolver enxaqueca. “Segundo os médicos e para nossa surpresa, é muito comum em crianças. Eu achava que enxaqueca era coisa da vida adulta, outra gafe de pais inexperientes. Uma má alimentação associada à falta de atividade física e fatores genéticos são elementos que desencadeiam as dores de cabeça, nos alertou a pediatra. Então, buscamos mudar a alimentação da Duda. Já melhorou muito, mas ela ‘enrola’ demais pra comer diante de um prato com legumes e verduras. Minha esposa chega antes de mim em casa, no intervalo pra almoço e prepara uma salada pra gente, sempre variando entre legumes cozidos e crus. Cortamos a farofa e as frituras nos dias de semana. Chocolate e refrigerante somente aos finais de semana. Sobremesa agora é fruta e nem pode ser fruta gordurosa, como o abacate”, detalha o pai.

Se, para cozinhar, é preciso ter paciência. Para ensinar uma criança a comer bem, a paciência precisa ser triplicada. “Já vimos que, se forçarmos a barra, empurrando um alimento que não goste, a Duda força o vômito. Precisa sair correndo da mesa pra cuspir o que tem na boca. É estressante pra ela e pra gente. Mas buscamos sempre contornar, oferecer outras alternativas. Passamos a fazer nossas refeições juntos. Eu e minha esposa comemos saladas, sempre que podemos, na frente dela, mas sabemos que mudar um hábito não é nada fácil. No lanche da escola, trocamos os biscoitos industrializados por frutas e sempre mandamos um suco natural diferente a cada dia. Faço questão de acordar mais cedo pra preparar esse lanche. Ainda deixo um bilhetinho carinhoso dentro da lancheira pra incentivar o consumo. Sabemos que ainda estamos longe do ideal, mas isso precisa ser feito aos poucos e repetidamente. Afinal, quem nunca fez careta pra um alimento desconhecido e nunca experimentado antes?”, questiona José Porpino Neto.

Cuidados com a introdução alimentar

Segundo a nutricionista Viviane Ares Lédo, quando a introdução alimentar não é feita de maneira adequada, provavelmente será comprometida a assimilação do paladar dos alimentos saudáveis. “Uma outra questão que se precisa acompanhar é que, em determinadas faixas etárias, as crianças passam por mudanças de comportamento. Por volta dos dois anos, por exemplo, elas começam a ser mais seletivas, intensificam suas escolhas. Então, os pais precisam estar preparados para orientar a opção por alimentos mais saudáveis”, destaca. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que uma criança seja amamentada até, no mínimo, aos dois anos de idade. Além disso, orienta que ela siga em amamentação exclusiva até os seis meses de vida, ou seja, que não receba nenhum outro alimento além do leite materno. “A introdução alimentar deve ser feita somente depois disso, pois é quando o sistema digestivo já está bem formado e pronto para receber as novidades, porém de forma gradativa para que não haja nenhum tipo de rejeição”, explica. Ainda segundo a nutricionista, a alimentação infantil precisa conter proteína, carboidrato, legumes, verduras e uma leguminonsa (feijão ou grão de bico, por exemplo), para o equilíbrio nutricional. “Basicamente, as crianças precisam fazer de cinco a seis refeições: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e, para algumas crianças, a ceia”. 

A ingestão constante de alimentos com alto teor calórico tem elevado o número de casos de obesidade infantil. A OMS estima que 41 milhões de crianças menores de 5 anos sejam obesas ou estejam acima do peso no mundo. “Com esse índice de obesidade, a gente tem visto o aumento do número de crianças com desenvolvimento de diabetes e hipertensão arterial causados por excesso de peso, pelo consumo excessivo de gordura, de açúcar. Tudo isso pode prejudicar o crescimento, causar retardo no desenvolvimento da fala e até no desenvolvimento intelectual, com atraso de aprendizagem na escola”, alerta Viviane Lédo.

Nutrição equilibrada bem antes do nascimento

Há um ano e cinco meses, Angélica Rodrigues, 30 anos, experimentou pela primeira vez o sabor da maternidade. Mas a preocupação com a alimentação da pequena Gabriela começou bem antes do parto. “Eu sabia que precisava me alimentar bem para garantir um bom desenvolvimento para o meu bebê. Então, procurei um profissional pra me ajudar a fazer as escolhas certas para ter uma gestação saudável e mudei bastante a minha alimentação nesse período. Depois que a Gabriela nasceu, ela seguiu na amamentação exclusiva até os seis meses. Em seguida, com orientação da nutricionista, comecei a fazer a introdução alimentar, com um cardápio bem variado. No começo era meio frustrante, eu passei duas semanas cozinhando e tudo ia pro lixo, porque ela não comia quase nada. Mas eu não desisti”, relata.

image Angélica Rodrigues, 30 anos, e a filha Gabriela (Naiara Jinknss / Troppo)

 

Combinando ingredientes como atenção, paciência e criatividade, Angélica encontrou receitas especiais que tornaram essa fase mais tranquila. “Recebi muitas dicas da nutricionista, também fuçava na internet e ia testando em casa. A Gabriela aceitou muito bem o brócolis, ama até hoje, e sempre se deu bem com as frutas. Mas, logo no início, não aceitou a maçã. Foi o primeiro alimento que eu ofereci a ela. A pediatra me orientou a cozinhar a fruta. Então, eu cozinhava no vapor, amassava e deu super certo. Ela comia tudo. Logo no início, a minha filha também não aceitava o frango. Para não excluir da alimentação, eu aprendi uma receita de hambúrger de carne de frango com linhaça e outras sementes. A Gabriela adorou. Realmente, a gente não pode desistir com a primeira rejeição das crianças. Aquilo é muito novo pra elas, a gente tem que oferecer várias vezes e de formas diferentes para entender o que elas realmente gostam ou não”, afirma. 

DICAS DA NUTRICIONISTA PARA REEDUCAR OS PALADARES:

Confira 5 dicas da nutricionista Viviane Lédo para melhorar a alimentação das crianças:

► Seja exemplo. Os filhos copiam os hábitos dos pais.
► Preocupe-se com a introdução alimentar. Garanta que os primeiros alimentos a serem oferecidos aos bebês (a partir de seis meses) sejam opções saudáveis.  
► Procure fazer suas refeições junto com as crianças.
► Use a criatividade para apresentar as refeições de maneira lúdica. Opte por alimentos coloridos. Ofereça vegetais em formatos de bichos, por exemplo.
► Conte com a ajuda de um profissional para montar um cardápio equilibrado.

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