Transporte público por ônibus tem redução de 44% dos passageiros, em 10 anos
Levantamento revela queda de mais de 19 milhões de usuários pagantes em relação a 2014
O Brasil registrou uma redução de 44,1% no número de passageiros pagantes no transporte público nos últimos dez anos. Em 2023, os ônibus urbanos transportaram menos 19,1 milhões de passageiros equivalentes (pagantes) por dia, em relação à quantidade transportada em 2014. Os dados foram apresentados no Anuário NTU 2023-2024, da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
Mudanças de hábitos, e-commerce, home office e priorização de veículos particulares são as principais causas da queda no número de passageiros. Além disso, os anos de pandemia também contribuíram para mudança do comportamento do usuário. Desde 2020, um em cada quatro passageiros deixou de utilizar o transporte coletivo por ônibus, nas cidades pesquisadas na amostra. Os dados do Anuário cobrem dois períodos diferentes de cada ano da série histórica, os meses de abril e outubro, entre 1994 e 2023.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel) comentou os dados destacando os desafios para o setor. “A pandemia impactou significativamente todos os segmentos, especialmente o transporte coletivo, que é o principal meio de deslocamento de milhares de pessoas para suas atividades diárias. Só no período de 2019 a 2022 a redução de passageiros equivalentes chegou a cerca de 31,86%. Entretanto, no período de 2002 a 2022, a redução foi ainda maior, chegando em torno de 51,80%”, afirma nota do Sindicato.
As empresas de transporte coletivo vêm se empenhando para manter o atendimento diário aos usuários, mas a receita é insuficiente para cobrir os custos operacionais e realizar os investimentos necessários para melhorias no transporte.
Defasagem tarifária
Presidente do Setransbel e membro do Conselho Diretor da NTU na região norte, Paulo Fernandes Gomes, pondera sobre as dificuldades em reverter ou mitigar essa tendência.
“Infelizmente, a capacidade de ação é limitada sem o apoio de subsídios. Contudo, temos tentado melhorar a eficiência operacional e otimizar as rotas para atender melhor os passageiros restantes. Também temos dialogado com as autoridades para buscar soluções conjuntas, mas a ausência de subsídios continua sendo um grande obstáculo para reverter essa tendência” - Paulo Fernandes Gomes, Presidente do Setransbel e membro do Conselho Diretor da NTU na região norte.
O custo real da operação exige uma correção da defasagem tarifária sem impactar nos passageiros. “A solução mais viável seria a implementação de subsídios, como ocorre em várias outras cidades, para que possamos manter a tarifa pública acessível enquanto cobrimos os custos operacionais reais.
A falta de investimentos pode comprometer a qualidade do serviço nos próximos anos. “Sem novos investimentos, a tendência é que a qualidade do serviço se deteriore progressivamente. A manutenção das frotas existentes vai se tornando cada vez mais cara e menos eficiente, o que pode resultar em maior tempo de espera, ônibus mais cheios e mais problemas técnicos. Estamos tentando manter o melhor serviço possível com os recursos disponíveis, mas sem apoio, a situação tende a piorar”, avalia o presidente.
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