Imóveis rurais protegem mais de 80% do bioma amazônico
Estudo realizado pela Embrapa ajuda a reconhecer práticas responsáveis já adotadas no campo, fortalecendo iniciativas de incentivo à produção sustentável
Um levantamento recente sobre uso e ocupação do solo revela um dado decisivo para a compreensão da dinâmica ambiental da Amazônia: mais de 80% do bioma amazônico permanece preservado dentro de imóveis rurais. O número reforça o papel estratégico das propriedades privadas na conservação da maior floresta tropical do planeta e amplia a percepção sobre como o território é manejado por produtores de diferentes portes.
O estudo, realizado pela Embrapa, analisou informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dados de cobertura e uso da terra, identificando que a maior parte da vegetação amazônica se mantém preservada dentro de áreas cadastradas como imóveis rurais. Esses territórios concentram extensas faixas de floresta nativa, incluindo Reservas Legais, Áreas de Preservação Permanente (APPs) e fragmentos que se conectam a outras áreas protegidas, formando corredores ecológicos essenciais para a biodiversidade.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, destaca a importância do estudo para a preservação da Amazônia. "Eu sempre digo para quem vem ao Pará, o que você vê lá de cima? Floresta e rio. A transformação da sociedade vem da produção. Hoje, 44% das áreas preservadas no país estão sob a responsabilidade de produtores rurais. Na Amazônia, conforme mostra o estudo de Uso e Ocupação do solo lançado nesta semana pela Embrapa, os produtores rurais destinam 27,4% da área total dos imóveis rurais à preservação ambiental, contribuindo para que 83,7% do território do bioma mantenha cobertura de vegetação nativa", explica.
Os resultados mostram que essas áreas privadas funcionam como uma malha contínua de preservação, contribuindo diretamente para a regulação climática, a proteção dos recursos hídricos e o armazenamento de carbono, elementos fundamentais no enfrentamento da crise climática. Essa rede de conservação ajuda a manter a integridade de ecossistemas complexos, garantindo condições de sobrevivência para milhares de espécies e para populações que dependem da floresta.
"Os dados demonstram que a manutenção da vegetação nativa, dos corredores da biodiversidade, seja da fauna ou da flora, não é monopólio das áreas protegidas em unidades de conservação ou terras indígenas. Isso porque produtores de alimentos, fibras e bioenergias preservam parcelas significativas de vegetação nativa dentro de seus imóveis rurais. É a evidência empírica de que produção e conservação coexistem na mesma paisagem e que o produtor rural é agente ativo na manutenção de cobertura nativa, não apenas fonte de pressão”, enfatiza o chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti.
Além do impacto ambiental direto, o estudo oferece importantes benefícios para o planejamento territorial e para a formulação de políticas públicas. Ao revelar como o solo é de fato ocupado e preservado, os dados permitem identificar regiões vulneráveis, orientar ações de monitoramento e apoiar estratégias de preservação que integrem produtores, governos e sociedade. Também ajudam a reconhecer práticas responsáveis já adotadas no campo, fortalecendo iniciativas de incentivo à produção sustentável.
"O estudo quantifica a contribuição dos imóveis rurais para a manutenção da vegetação nativa e identifica que uma parcela relevante da cobertura vegetal está em áreas privadas. Isso transforma o produtor em parceiro estratégico do meio ambiente e da imagem do agro brasileiro no mundo", complementa Gustavo.
O levantamento reforça que a preservação da Amazônia passa necessariamente por uma visão integrada entre conservação e uso produtivo da terra. Com informações mais precisas, é possível ampliar a eficácia das ações ambientais e promover um modelo de desenvolvimento que valorize a floresta em pé, assegurando sua proteção a longo prazo.
"Com dados precisos é possível direcionar políticas de incentivo, fiscalizar com foco, calibrar licenciamento ambiental e estruturar mercados de cotas de reserva. Isso indica que o modelo produtivo brasileiro já incorpora amplitude de proteção e preservação territorial, e que o aumento da produção já pode e deve seguir priorizando a intensificação sustentável e uso eficiente da terra, em vez de conversão extensiva", finaliza o chefe-geral da Embrapa Territorial.
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