Clubes são acusados de integrar esquema de manipulação de resultados no Campeonato Amazonense

Atlético Amazonense e Tarumã são suspeitos de manipulação nos jogos no Campeonato Amazonense - Série B para lucrar em sites de apostas esportivas

O Liberal
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Uma série de escândalos têm manchado sistematicamente o futebol amazonense. No último final de semana um episódio bizarro envolvendo o Atlético Amazonense e o Tarumã viralizou na internet, levantando suspeitas de envolvimento de dirigentes dos clubes em um esquema de manipulação de resultados. 

A primeira suspeita recai sobre o Atlético Amazonense. A equipe iniciou a Série B do estadual sem maiores problemas, mas no dia 7 de agosto, durante o duelo contra o Librade, começaram a aparecer as evidências do 'acordo'. Na partida em questão, a equipe vencia por 2 a 0 até os 25 do primeiro tempo, até que o adversário teve um 'empurrão', conseguindo a virada e a vitória por 4 a 3. 

O técnico do Atlético, Rodrigo Fonseca, relatou o ocorrido em tom de revolta. "O Edirley (presidente do conselho fiscal do Atlético Amazonense) me buscou na porta do hotel, onde eu morava, para me levar ao jogo. Só aí eu já achei estranho, porque ele não tinha feito isso antes. Foi quando ele disse que eu teríamos que perder o primeiro tempo. Um jogo no qual eu seria vice-líder, teria de perder para o último colocado? Eu fiquei sem acreditar. Ele ligou para o Henrique (presidente do clube), colocou no viva-voz e o Henrique começou a fazer xingamentos, dizendo que ‘ia meter bala em todo mundo’”, explica o treinador, que registrou boletim de ocorrência contra Henrique Barbosa, por ameaça.

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“Antes do jogo, quando cheguei no vestiário, ainda teve jogador que perguntou se eu não ia dar a preleção. E gritei: ‘Acham que eu não sei o que vocês estão fazendo aqui?’. Comecei a quebrar as coisas no vestiário, de tanta raiva. Trabalhei aí por 40 dias, estava hospedado em um hotel e no começo estava tudo certo, com o clube pagando tudo, mas depois precisei tirar do próprio bolso para comer. Fiquei aguardando que o Henrique me pagasse, mas não o fez”, finaliza o técnico.

Segundo as informações do agora ex-técnico, o presidente do clube teria dito aos atletas que ‘não montou time para ser campeão, mas para ganhar dinheiro’. Na mesma semana, o Atlético Amazonense trocou de técnico, passando a contar com Naylson Bentes no comando. Em casas de apostas, a vitória do Librade chegou a ter a ‘odd’ 21. Ou seja: o valor apostado é multiplicado por 21, uma cotação muito alta. 

No último domingo, o Atlético Amazonense protagonizou um momento inusitado e incomum para uma partida de futebol. Edirley Julio Batista marcou um gol contra descarado, encobrindo o próprio goleiro. A cena viralizou na internet. O volante é filho de Edircley Campos, um dos fundadores e ex-presidente do Atlético. Entretanto, Edircley não sofreu represálias, mas sim o zagueiro Otávio, que precisou se proteger no vestiário do Sul América, conforme o relato de um jogador que não quis se identificar. 

“A missão era a gente perder o primeiro tempo e virar no segundo tempo. No primeiro tempo foi tudo certinho, com 1 a 0 pros caras. O Otávio era um dos melhores em campo, mas teve um lance onde ele errou e a bola foi pro gol. O presidente (Henrique) começou a xingá-lo e mandou que tirassem ele de campo, mas não o tiraram. Perderam a esperança de ganhar e apostaram que o time adversário faria um gol, só que eles (Sul América) não quiseram, pois já estavam ligados que a gente queria fazer um pênalti. Foi aí que o Júlio bateu pro gol e o presidente ficou p***, porque achou que o Otávio tinha feito uma aposta contrária a dele. Iam pegar ele lá dentro (vestiário) e ele saiu correndo, abandonou as coisas dele e foi pro vestiário do outro time, que ajudaram ele a fugir”, diz. 

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O técnico da equipe adversária Pedro Machado, falou sobre o ocorrido e garantiu que uma pessoa saiu do banco do Atlético para pedir ao goleiro que entregasse o gol. “No primeiro tempo, o Atlético Amazonense não jogou. No segundo, eles partiram pra cima, mas abrimos 2 a 0, eles descontaram pra 2 a 1 e, depois de um tempo, fizemos 3 a 1. Quando viram que não iam conseguir virar, um cara saiu do banco de reservas deles, foi até o goleiro e pediu para ele entregar o gol. Eles foram recuando a bola até o goleiro, mas o goleiro não quis participar disso e entregou a bola no pé do cara (Júlio). Nem estávamos marcando eles e esse cara (Júlio) simplesmente mandou no gol dele, contra. Ninguém entendeu”.

Veja o lance:

Início das investigações

No dia 31 de julho, outra partida entrou no radar das investigações. Até os 43 minutos do segundo tempo, o Tarumã vencia o Librade por 2 a 1, mas aos 44 e 45, o Papagaio do Norte conseguiu a virada, em duas bolas entregues de presente ao Librade e os atletas do Tarumã errando passes simples. 

O principal suspeito de ser responsável pela derrota seria o presidente da K&J Soccer Agentes, Júnior Bahia, que estaria obrigando os jogadores da equipe sub-19 e do profissional a entregarem os jogos.  “(Bahia) Ameaçava os garotos no vestiário, tirei o atleta do clube por isso, ainda queriam que ele ficasse pra jogar o profissional. Viu a derrota do Tarumã (para o Librade)? Coisa ridícula. Minha indignação é pelo sonho de todos esses garotos, sendo jogado fora. Nem os jogos na várzea são vendidos igual como está sendo, é revoltante. Fora a alimentação, que era muito ruim, só macarrão com salsicha. Café da manhã era só o pão, sem manteiga”, diz uma fonte também anônima. 

Várias pessoas vêm denunciando o esquema e elas dizem que Bahia tem participação decisiva na fraude, junto com Thiago Soeiro, condenado pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Estado do Rio de Janeiro, em julho de 2020, por suspeita de manipulação de resultados, sendo banido do esporte e multado em R$ 60.000,00. Na época, Soeiro trabalhava como auxiliar técnico do Atlético Carioca, na 3ª divisão estadual do RJ.

Veja:

Depoimentos

Com a suspeita em evidência, vários atletas passaram a enviar depoimentos sobre a conduta praticada no futebol amazonense, durante a gestão de Henrique Barbosa como gestor de futebol do Penarol, rebaixado para a Série B do Campeonato Amazonense do próximo ano. 

“Ano passado eu estava treinando no Penarol, daí quando fomos para o primeiro jogo, chegaram com o treinador para saber se ele aceitava, por tal valor, perder de 2 a 0. O treinador na época era o Maurílio (Silva) e na mesma hora ele deixou o clube. Alguns jogadores fecharam a cara e não aceitaram, enquanto outros sim. Tá muito escancarado aí no Amazonas, principalmente na base, onde os caras já estão querendo fazer a cabeça dos moleques”. 

Sobre o Tarumã, o mesmo atleta não poupou críticas, afirmando que a máfia domina o futebol do estado. “Às vezes que vi foi com os próprios e através de pessoas que são contra. Lá no Tarumã é aquele Júnior Bahia e o Lucas Castro, que é ruim, mas é titular e faixa (capitão). Eles dizem ser sócios de uma empresa de jogadores (K&J), mas é mentira. Eles trazem jogadores de fora, que pagam para jogar e completam com os jogadores de Manaus. Falam que você tem que deixar fazer gol, que daí pagam tanto. No primeiro tempo faz um pênalti, no segundo faz outro… A maior máfia que tem aí no Amazonas é a do Tarumã, depois vem a do Henrique, no Atlético”.

Resposta do Atlético-AM

Em nota à imprensa, o Atlético Amazonense diz ter sido vítima de sabotagem e diz ter pedido a impugnação do jogo para o Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas, a fim de refazer a partida e tentar conseguir a classificação para a próxima fase. O clube possui 6 pontos e enfrenta nesta quinta-feira o Tarumã, às 15h, no estádio da Colina. Confira a nota na íntegra:

O Sport Club Atlético Amazonense, em vista da grave sabotagem que sofreu na partida contra o Sul América Esporte Clube quando ainda lutava pelo acesso à série A estadual, vem tornar público o que segue.

Antes de qualquer coisa é fundamental deixar claro que a maior vítima desse acontecimento é o Atlético Amazonense. No início da 8ª rodada tínhamos sete pontos, e se vencêssemos chegaríamos a dez. Isso nos levaria à última rodada com possibilidades reais de ultrapassar o RB do norte na luta pela 4ª vaga. Na última rodada nós enfrentaríamos o lanterna que não venceu nenhum jogo, e o RB enfrentaria o líder, que venceu todos os jogos. Nós vencendo o lanterna e o RB perdendo pro líder invicto finalizaria a tabela com 13 pontos nossos, contra 12 do RB, e consequentemente estaríamos na semifinal. É óbvio que tínhamos chances altamente reais de conquistar a vaga e nosso desejo era lutar por ela até o último minuto.

A atitude antiética do atleta sepultou qualquer anseio de nossa equipe e deixou claro que o atleta desde o início da partida estava decidido a sabotar sua própria equipe.

A nós soa claro que há forte indício de atuação para manipulação de resultado. Não permitiremos que essa injustiça passe impune. No mesmo dia do jogo o atleta foi sumariamente desligado do elenco. Já acionamos o Ministério Público estadual para que investigue o fato. Apresentamos ao TJD/AM pedido de impugnação da partida, pois não há dúvida de que houve acontecimento particular com influência no resultado da partida, nos subtraindo a possibilidade de luta pelo acesso. Nas próximas horas apresentaremos também notícia de infração ao TJD/AM para que responsabilize o atleta na forma dos arts. 243 e 243-A, do CBJD.

Resposta do Esporte Clube Tarumã

Já o presidente do Tarumã, Aldemir Maquiné, se posicionou da seguinte forma:

Como já externamos, em outros veículos de comunicação especializados em cobertura esportiva, caso o clube tome comprovadamente conhecimento de quaisquer conduta de atletas ou dirigentes envolvidos com manipulação de resultados fará chegar às autoridades competentes e adotará as devidas medidas e procedimentos internos.

Esclarecemos que nossa campanha no Sub19 e no início da  Série B não tem haver com manipulação de resultados e sim com os seguintes fatores:

1: A alteração do calendário da competição Sub19, por falta de disponibilidade de campo, prejudicou a programação e preparação do elenco, aliado às questões de saúde familiar que obrigaram o Treinador a deixar o comando técnico da equipe no meio da competição;

2: A alteração do calendário do Sub19 que  gerou  conflito com a Série B (as competições ocorreram simultaneamente) e a saída do Treinador do Sub19, que também seria o Treinador do Profissional na Série B, comprometeu a Preparação da equipe Profissional,  pois fizemos o mesmo planejamento da temporada 2021 qual seja: Utilizar a mesma Comissão Técnica do Sub19 no Profissional e promover alguns atletas da Base para o Profissional que é a Filosofia de Trabalho do Clube o que infelizmente não foi possível.

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