Mercado de trabalho reúne quatro gerações de profissionais pela primeira vez

Choque entre as gerações é um desafio a ser superado nas empresas, avaliam especialistas

Emilly Melo / Especial para O Liberal
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As empresas vivem, atualmente, um feito inédito no mercado de trabalho: quatro gerações de profissionais dividindo o mesmo espaço colaborativo. Agora, trabalhadores nascidos em épocas totalmente distintas – como os classificados Baby Boomer, nascidos entre 1946 e 1964, e a geração Z, que inclui os nascidos entre 1996 e 2010 — compartilham suas visões e experiências, apesar do choque entre as gerações. Conforme explica a psicóloga Elena Oliveira, o contexto social e econômico de hoje, somado ao aumento da expectativa de vida da população, faz com que o colaborador permaneça por muito mais tempo no mercado de trabalho.

“O contexto em que a gente vive, a questão da previdência, a complexidade da aposentadoria e o aumento na expectativa de vida fazem com que o profissional permaneça por muito mais tempo no mercado de trabalho. É possível observar que há pessoas de gerações anteriores que conseguiram se aposentar até com 60 anos, mas agora é um desafio conseguir uma aposentadoria que consiga contemplar todos os gastos”, afirma Elena.

A permanência das gerações mais antigas, pontua Elena, pode ser atribuída também ao alto custo de vida, embora aconteça o esgotamento físico e mental resultante de muitas décadas à disposição do mercado. Por outro lado, a psicóloga afirma ainda que algumas pessoas não conseguem se desprender da rotina e da “necessidade de sentir útil”. “Elas estão acostumadas àquele movimento cotidiano do trabalho que as fazem se sentir úteis, o que pode levar a outro paradigma, que é a questão do luto da quebra da rotina que aquele trabalhador construiu e reforçou ao longo de anos.”

Cooperação

A junção das diferentes gerações pode impactar de várias formas as empresas por meio da troca de experiências entre os funcionários. O conhecimento construído por anos solidificados em uma firma unido à criatividade pode ser uma boa estratégia empresarial.

“As pessoas mais antigas têm aquele conhecimento bem sólido baseado nas vivências delas, enquanto que essa nova geração chega mais com a parte criativa e de inovações, trazendo ideias e possibilidades que podem ser aplicadas para trazer melhorias. Quando há a junção dessas duas forças, do que pode ser inovado e daquele conhecimento de vivência, as coisas podem fluir melhor”, pondera Elena.

Entretanto, a comunicação pode ser um dos empecilhos nesse processo. Por terem crescido em diferentes momentos históricos, em que as questões sociais e valores são pautados de formas distintas, os trabalhadores “Baby Boomer” e a Gen Z podem entrar em discordância sobre a maneira de como lidar com determinadas demandas no emprego.

“As diferenças de ideologias acabam atrapalhando, por vezes, a comunicação desses grupos. De um lado temos os que já estão mais acostumados com um padrão mais estático, que defendem o discurso ‘sempre foi assim, por quê alterar?’. Então, quando uma pessoa vem com a intenção de inovar, pode causar incômodo naqueles que estão acostumados com um jeito mais tradicional”, avalia Elena.

Manoel Gomes, de 68 anos, trabalha como vigilante e destaca que a falta de compreensão dos funcionários mais novos do seu emprego é um dos principais choques entre as duas gerações.

“Muitas vezes, a gente fala uma coisa e eles acham que não é aquilo. Como se tudo fosse da maneira deles, mas existem coisas que adquirimos ao longo da vida, com as experiências, que a juventude tem dificuldade em aceitar”, relata Gomes.

Capacitação profissional

A capacitação teórica é um diferencial para as contratações independente da faixa etária, como aponta Elena, que atua no setor de recursos humanos. Ela constata que a busca pela qualificação formal, como cursos e especializações, é uma característica mais presente nas gerações atuais.

“A capacitação teórica, além das competências comportamentais, faz uma grande diferença, hoje em dia, para o mercado de trabalho. E isso já está embutido na cabeça das pessoas mais novas, porque elas sabem que apenas ter o ensino médio não é mais suficiente, como era tempos atrás.”

Essa busca pelo constante aperfeiçoamento pode gerar um conflito geracional quando a hierarquia é colocada em prova, especialmente quando as diretrizes são estabelecidas por uma pessoa com menos tempo de serviço.

“Levando pela questão de alinhamento hierárquico, quem tem um arcabouço teórico mais especializado pode enfrentar uma dificuldade em liderar pessoas que não estão dispostas a seguir as orientações de alguém mais novo, justificando que aquela pessoa não tem experiência.”

Já para a psicóloga organizacional Helianne Lobato, a cultura da empresa é determinante para estabelecer um espaço cordial entre os empregados. Lobato afirma que a organização deve atuar como facilitadora para criar um ambiente seguro para todos os profissionais, bem como, traçar estratégias para contribuir nos momentos em que possam se apresentar conflitos, e assim buscar integrar as equipes.

“Todas as gerações precisam de um espaço para que possam se expressar, se sentir acolhidos e não julgados, isso leva o profissional a entender e compartilhar com os colegas”, analisa Helianne.

Quando ingressou no trabalho jurídico, a advogada Rafaelly Cruz, de 22 anos, conta que as responsabilidades vieram acompanhadas de um sentimento de insegurança e uma necessidade de autoafirmação devido à pouca idade, e acrescentou que o fator do gênero também influencia. “A princípio, assumir responsabilidades sendo tão nova criou em mim uma necessidade de provar a minha capacidade às pessoas do meio. Trabalhar com gente mais velha faz com que você precise demonstrar credibilidade e firmeza, especialmente quando se é mulher, porque aí já desencadeia problemas relacionados ao gênero.

A advogada acrescenta que a rotina de trabalho com pessoas de diferentes gerações é muito enriquecedora e proporciona muitas trocas de aprendizado. “Estar com os ‘veteranos’ te possibilita ouvir o ponto de vista de quem tem mais experiências em assuntos específicos, ou seja, a troca é bem válida. Encaro isso como um desafio, no sentido de melhorar a comunicação para me adaptar a geração daquela pessoa, bem como desconstruir alguns estereótipos por ser jovem demais no mercado de trabalho”, finaliza Rafaelly.

Principais características das gerações:

Baby Boomer:

- Nascidos entre 1946 e 1964;

- Buscam estabilidade e fidelidade no emprego;

- Desejo por cargos estratégicos;

- Carreira já consolidada e segura;

- Querem ser reconhecidos por sua experiência e capacidade criativa.

Geração X:

- Nascidos de 1965 a 1980;

- comprometidos com a carreira;

- Desejo por uma carreira sólida e estável;

- Gostam de trabalhos rotineiros;

- Valorizam os feedbacks dos superiores.

Geração Y ou Millenials:

- Nascidos entre 1981 e 1995;

- Capacidade de serem multidisciplinares;

- Buscam ocupar cargos de alta posição;

- Criatividade e capacidade de inovar;

- Tendem a buscar empregos que não sejam monótonos;

Geração Z:

- Nascidos entre 1996 e 2010.

- Costumam ser mais realistas e pragmáticos

- Nômades digitais;

- Absorvem múltiplas informações;

- Familiarizados à tecnologia.

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