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‘Mãezonas’ se destacam no ramo alimentício

Trabalho em comum reforça laços entre mães e filhos

Fabrício Queiroz
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A culinária é uma das marcas tradicionais da cultura paraense. A diversidade do povo ajudou a elaborar diversos hábitos alimentares e iguarias, como os pratos de peixe frito, maniçoba, vatapá e outras, que muitas vezes tem por trás as mãos, o tempero e o cuidado de mulheres. No ramo da alimentação, elas estão à frente de muitos negócios onde empregam seus talentos gastronômicos, mas sem abrir mão da vivência da maternidade.

São pessoas como Maria de Fátima Silva Araújo, de 69 anos, mas conhecida como Fafá, que há 36 anos atua com venda de comidas típicas no bairro da Campina, em Belém. Ela conta que começou a trabalhar no ramo devido às dificuldades econômicas que ela e o marido falecido passaram para sustentar os quatro filhos: Natalina, Ciane, Lindomar e Núbia.

“A gente tinha um mercadinho no Porto da Palha, mas o movimento era fraco. Foi então que me despertou essa ideia. Falei para a minha mãe e ela me ajudou a ir pra frente. Eu aprendi a cozinhar com a minha mãe. Isso que é o mais bonito porque passou de mãe pra filha e eu já vou deixar para as minhas também”, relata ela que gosta de estar no comando das panelas e do negócio, apesar de já ter passado por algumas cirurgias e problemas de saúde.

image As comidas típicas preparadas por Fafá atraem clientes do comércio há mais de 30 anos (Carmem Helena / O Liberal)

Segundo Fafá, esse envolvimento tão forte com o negócio foi o que a ajudou a conquistar a clientela que lota a calçada da rua 13 de maio para provar seus pratos. “As pessoas falam que meu ingrediente secreto são as panelas, que são muito bem limpas, e o meu modo de tratar todos os meus clientes”, afirma.

No entanto, para ela o reconhecimento dos consumidores é apenas uma parte da satisfação que o trabalho lhe proporciona. Isso porque durante toda a rotina, que inicia às 4h30 e se estende até às 19h, Fafá conta com a companhia de filhos, netos, uma nora, um sobrinho e um funcionário que ela já considera como parte da família. “Ela sempre me acolheu como uma mãe. É uma gratidão enorme que eu tenho por ela, por isso eu falo que ela é minha ‘mãesogra’, é algo de coração mesmo”, conta a nora Elizandra Araújo.

“Aqui é só família. Eu amo demais isso porque eles estão ao redor dos meus olhos. Eu fico protegendo todo mundo, sempre fui assim”, diz Fafá, que assume com orgulho o título de mãezona. “Desde que eu comecei a trabalhar na rua, eu protejo todos. Como mãe, eu me sinto realizada. Essa presença deles é o que me fortalece, é o que me dá energia”, ressalta.

image Filhos, netos, sobrinho e nora trabalham junto com Fafá (Carmem Helena / O Liberal)

Por sua vez, os filhos de Fafá também não escondem a alegria de poder compartilhar o dia-a-dia com ela. Lindomar Araújo, por exemplo, não esconde a emoção ao falar da mãe. “Eu e minhas irmãs amamos muito ela. É uma pessoa muito especial e uma heroína”, diz ele com a voz embargada. Já a irmã Ciane Araújo completa: “É muito gratificante porque ela é tudo para nós. Ela é o nosso esteio, ela é o nosso alicerce”.

Distante dos filhos, boieira acolhe família do coração

No Mercado do Ver-o-Peso, a presença feminina é grande nas diversas atividades, com destaque para as boieiras, que são as responsáveis pela preparação e venda dos alimentos servidos às margens da baia do Guajará. Assim como os demais feirantes, elas também possuem histórias de longa data com o principal ponto turístico da capital paraense, que acaba marcando a relação delas com o trabalho e com a família.

É o caso de Lúcia Torres, de 59 anos, que possui um box no setor de alimentação do mercado. O filé de peixe frito, o camarão empanado e o peixe ao molho de camarão são os carros-chefe do negócio, que diariamente atrai inúmeros clientes e já projetou o nome de Lúcia para fora do estado. “Eu gosto de criar, faço pesquisa e não pego prato de ninguém. Eu mesma faço na minha casa, chamo meus netos para degustar e ver se tá bom”, conta a chef que fala com orgulho do reconhecimento já conquistado, sem esquecer suas origens.

image A chef Lúcia Torres criou os dois filhos a partir do trabalho realizado no Mercado do Ver-o-Peso (Carmem Helena / O Liberal)

“Quando eu comecei aqui não tinha cobertura na feira. Só tinha um canteiro e uma samaumeira grande, onde eu montei embaixo uma banca para vender churrasco. Em 2000, teve a primeira reforma e eu me inscrevi para ganhar o box para trabalhar humildemente e apresentar uma comida melhor do que aquele churrasquinho de gato e deu tudo certo”, lembra Lúcia, que gosta de ressaltar a importância do Ver-o-Peso em sua história, contudo destaca que seu grande motivador foi sua família.

Mãe solo, a chef precisou desempenhar a função materna e paterna para criar, prover e educar os dois filhos: Jaimeson e Luciane. “Eu sempre fui uma mãe presente e também uma trabalhadora independente. Foi com esse trabalho que dei forças para os meus filhos e netos, ajudei eles no estudo e, graças a Deus, deu tudo certo”, diz ela, que gosta de recordar da época em que pode trabalhar com eles no Ver-o-Peso. “Era muito bom. Quem é a mãe que não quer ter os filhos do lado?”, comenta.

image Lúcia Torres conduz o negócio ao lado dos "filhos do coração" (Carmem Helena / O Liberal)

Hoje adultos, os filhos de Lúcia moram atualmente nos estados do Paraná e do Maranhão e, por isso, o contato é mantido pelos aplicativos de mensagens ou viagens eventuais. “Eu queria sempre tá com os meus filhos do meu lado. Eu gosto de ter a família completa, então eu sinto saudades, mas não estou sozinha porque tenho muitos filhos do coração”, relata a boieira citando a equipe de trabalho e outras pessoas a quem dedica seu carinho.

“Os meus filhos de coração não são só esses que trabalham comigo. Eu tenho filhos que adotei no Maranhão, tenho filhos ao redor da minha casa, que eu fazia almoço, ajudava e botava na escola. Tudo isso é uma gratificação pra gente. É gratidão a gente fazer isso pelo ser humano”, afirma Lúcia, que chora ao falar do que deseja ganhar no Dia das Mães. “Só amor e carinho, mais nada”, conclui ela sob lágrimas.

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