Exportação garante crescimento para micro e pequenas empresas

Empreendimentos paraenses de pequeno porte exportaram R$ 190 milhões em 2022

Fabrício Queiroz

A quantidade, o volume de recursos e a participação de micro e pequenas empresas nas exportações brasileiras têm aumentado. Há dez anos, eram 5.105 microempresas, microempreendedores individuais (MEIs) ou empresas de pequeno porte com atividade no comércio exterior. Em 2022, esse número mais que dobrou, alcançando o patamar de 11.413 negócios. Essa evolução também é evidente no Pará, onde 196 MEIs ou micro e pequenas empresas exportaram no ano passado, enquanto em 2012 havia 111, o que representa um crescimento de 76%.

Os dados foram levantados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que mostram que quatro das dez empresas mercantis brasileiras que exportam são pequenos negócios.

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A classificação das empresas por porte é definida na lei complementar nº 123/2011. O texto esclarece que os MEIs não podem ultrapassar faturamento anual de R$ 81 mil, as microempresas podem faturar até R$ 360 mil e as de pequeno porte podem alcançar até R$ 4,8 milhões.

Segundo o estudo, esses negócios movimentaram US$ 3,1 bilhões, o que equivale a 0,9% do total das vendas externas, que ultrapassaram R$ 334 bilhões. Apesar do volume ainda pequeno, o avanço das exportações é mais expressivo entre esse tipo de empresa. O estudo indica, por exemplo, que o crescimento dos pequenos negócios no período de 2008 a 2022 foi de 76,2%. Por sua vez, as empresas médias e grandes cresceram a uma taxa de 24,3%. Paralelamente, o valor exportado pelos negócios menores subiu 161,4%, enquanto os empreendimentos maiores avançaram 70,1% nesse intervalo.

No Estado do Pará, os pequenos negócios aumentarem o valor exportado em 76% em uma década, passando de US$ 107,9 milhões em 2012 para US$ 190,2 milhões no ano passado. Desse total, US$ 84,4 milhões foram oriundos das atividades de MEIs e microempresas e os demais US$ 105,8 de empresas de pequeno porte. Já as empresas paraenses médias e grandes comercializaram US$ 14,6 bilhões há dez anos e alcançaram US$ 21,2 bilhões em 2022, ou seja, um crescimento percentual de 45%.

Para Cassandra Lobato, coordenadora do Centro Internacional de Negócios, da Federação das Indústrias do Estado do Pará (CIN/Fiepa), o avanço desse segmento, ainda que discreto é fruto de iniciativas que visam a implantação e expansão da cultura exportadora no estado e em todo o país.

“Essas ações de incentivo ao empreendedorismo são importante porque ajudam a posicionar o Brasil não apenas como um grande mercado consumidor, mas também com esse perfil de ser um grande fornecedor para o mercado internacional”, pontua Cassandra, que ressalta a representatividade que o setor de indústria de transformação tem nas exportações dos negócios de pequeno porte.

A pesquisa evidencia que entre as 6.691 microempresas ou MEIs exportadores, 5.482 são indústrias de transformação. Esse tipo de atividade também é responsável pela maioria das exportações entre as pequenas empresas. No total, são 5.915 negócios desse porte atuando no comércio exterior, sendo que 83%, ou 4.921, são indústrias de transformação.

“Essas indústrias fazem a diferença porque elas estão enviados produtos beneficiados, com agregação de valor e que diversificam a nossa pauta de exportações. O Brasil necessita disso”, enfatiza a coordenadora do CIN.

Empresários almejam vantagens com o comércio exterior

Na avaliação de Roberto Bellucci, analista do Sebrae no Pará, a participação cada vez mais grande de pequenos negócios nas exportações é indicativa do interesse e do amadurecimento do empresariado. “É uma tendência, pois muitos empresários já visam esse mercado internacional. Um dos fatores que contribuiu para isso foi a pandemia. As empresas tiveram um pouco mais de coragem para entrar no mercado, até mesmo por necessidade. Outro aspecto é que melhorou as condições de acesso aos mercados internacionais e isso é algo que tem se verificado a nível nacional”, diz.

Além disso, Bellucci considera que os empreendimentos locais tem a possibilidade de usar a seu favor o peso da “marca Amazônia”. “O mercado internacional está aceitando melhor os produtos brasileiros. No caso da região Norte, a Amazônia é a bola da vez no mundo. Muitas feiras e missões são feitas justamente usando esse apelo da Amazônia. E isso é apenas o começo porque a Amazônia ainda é um ambiente bem lembrado com potencial de crescimento”, comenta o analista.

Cumprindo os diversos requisitos necessários para vender para o exterior e mais esse trunfo em mãos, empresas regionais tem conquistado clientes nas diversas partes do mundo. Um exemplo é a Manioca, que há oito anos apostou na crescente demanda por ingredientes típicos da região, visando atender tanto o segmento da gastronomia quanto o consumidor final. Atualmente, a linha de produtos conta 24 itens produzidos com 20 matérias-primas diferentes, como tucupi, cumaru, pimenta de cheiro e chicória, que servem para a fabricação de geleias, temperos, molhos, granola, farinhas, snacks e outros.

“Estar na Amazônia e trabalhar com a Amazônia tem nos ajudado a ser vistos pelos clientes de fora. O fato da gente trabalhar com ingredientes locais não necessariamente fazendo os nossos pratos, mas olhando para esses ingredientes e entendendo como eles se aplicam para os pratos do mundo é um atrativo. Mas conta também o fato da gente gerar impacto socioambiental positivo na Amazônia, que chama muito a atenção, especialmente de mercados mais maduros, como é o caso da Europa e dos Estados Unidos”, conta Paulo Reis, um dos sócios da empresa.

Aliado a isso, Paulo diz que foi importante uma postura estratégica. “A gente costuma fazer algumas coisas antecipadamente, por exemplo, ter uma embalagem bacana, investir em um trabalho de comunicação e marketing, assim como buscamos inovar na gestão administrativa. Com isso, nós tiramos certificado, fizemos a tradução de alguns produtos, interagimos com clientes, mandamos amostras e participamos de feiras antes mesmo de existir uma demanda. Quando a demanda surgiu, a gente já estava mais preparado e já tinha familiaridade com o processo”, relata o empresário.

Com isso, os resultados tem aparecido. Paulo não explicita os números, mas diz que o negócio já cresceu dez vezes vendendo para clientes de 20 estados brasileiros, além de cerca de dez destinos, como Hong Kong, Singapura, China, Áustria, Alemanha, França, Portugal e Estados Unidos. “O volume dessa exportação vem aumentando ano a ano. Começamos a ter maior regularidade em 2020, inclusive na pandemia esse volume aumentou e nos ajudou porque teve uma queda de receita. Em 2021 especialmente, essa exportação foi importante pra gente”, acrescenta.

Negócios devem se preparar para o mercado

Fatores como o aumento da receita e fortalecimento da marca tendem a ser atrativos para que muitos empresários iniciem uma jornada visando o comércio exterior. Contudo, para ingressar nesse segmento é necessário atender a inúmeros requisitos, que envolvem pesquisa de mercado, licenças, logística, aumento da produção, entre outros.

O analista do Sebrae ressalta a importância do planejamento nesse processo e, por isso, buscar por orientação técnica é um caminho obrigatório. Os passos iniciais podem ser dados nas 13 agências do órgão no estado do Pará ou mesmo por meio da internet em uma plataforma específica para esse público.

image O analista do Sebrae, Roberto Bellucci, destaca importância da orientação técnica para os empresários que querem exportar (Ivan Duarte / O Liberal)

“Se o empresário quiser exportar, ele tem que ir em vários órgãos e entidades. Além de ser dispendioso, se perde muito tempo. Então, o Sebrae e CIN/Fiepa criaram uma o vamosexportar.com.br, que é plataforma com informações, cursos, dados sobre a balança comercial, despachantes aduaneiros e toda a orientação necessária para começar um negócio para fora do pais”, orienta Roberto Bellucci.

No mesmo sentido, Cassandra Lobato indica a participação dos empresários nas chamadas “Caravanas do Comércio Exterior”, que vão ocorrer ao longo deste semestre nos municípios de Altamira, Santarém e Castanhal. “Esses municípios foram escolhidos por serem hubs de informação e infraestrutura, que contribuem para a balança comercial em diferentes aspectos. Em Altamira, nós temos a rota do cacau e dos derivados do chocolate. Em Santarém, está crescendo a cadeia dos cosméticos e óleos naturais e, em Castanhal, já temos estabelecidos negócios do ramo de alimentos e bebidas. É um trabalho desbravador, mas que serve para falar para esses empresários que eles são capazes e que o mundo anseia por produtos novos”, declara Cassandra.

Como se preparar para exportar

  • A principal iniciativa de apoio aos negócios que querem ingressar no comércio exterior é o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
  • Para ingressar é necessário sinalizar interesse enviando um e-mail para monitor.peiex.pa@fundacaoguama.org.br ou monitor.belem@apexbrasil.com.br ou ligar no número (91) 3321-8900.
  • Critérios de participação: ter CNPJ ativo, constituído há mais de seis meses; ser fabricante ou detentora do negócio; e ter produtos em comercialização no mercado local ou nacional.
  • Também é possível encontrar orientações no site www.vamosexportar.com.br ou ainda nas agências de negócios do Sebrae, localizadas nos municípios de Redenção, Santarém, Abaetetuba, Capanema, Paragominas, Marabá, Parauapebas, Castanhal, Breves, Soure, Belém, Itaituba e Altamira.

Participação dos pequenos negócios paraenses nas exportações

Quantidade de microempresas, MEI e empresas de pequeno porte exportadoras

  • 2008 – 174
  • 2009 – 136
  • 2010 – 122
  • 2011 – 121
  • 2012 – 111
  • 2013 – 108
  • 2014 – 104
  • 2015 – 113
  • 2016 – 128
  • 2017 – 140
  • 2018 – 144
  • 2019 – 169
  • 2020 – 190
  • 2021 – 190
  • 2022 – 196

Valor exportado pelos pequenos negócios do Pará

  • 2008 – US$ 115,5 milhões
  • 2009 – US$ 90,7 milhões
  • 2010 – US$ 114,9 milhões
  • 2011 – US$ 137,2 milhões
  • 2012 – US$ 107,9 milhões
  • 2013 – US$ 108,6 milhões
  • 2014 – US$ 114,5 milhões
  • 2015 – US$ 107,5 milhões
  • 2016 – US$ 80 milhões
  • 2017 – US$ 89,2 milhões
  • 2018 – US$ 130,3 milhões
  • 2019 – US$ 137 milhões
  • 2020 – US$ 142,4 milhões
  • 2021 – US$ 143,6 milhões
  • 2022 – US$ 190,2 milhões
  • Fonte: Secex / MDIC
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