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Empreendimentos de economia criativa fortalecem mulheres negras

Negócios contribuem para visibilidade e autonomia em uma sociedade distante da igualdade de oportunidades

Eduardo Laviano

No Brasil, 40% dos adultos negros são empreendedores, com negócios que movimentam R$ 1,7 trilhão, segundo a Pesquisa Afroempreendedorismo Brasil, realizada em 2021. O estudo destaca que 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres, mas que esse percentual sobe exponencialmente quando o foco é o empreendedorismo negro, com as mulheres representando 61,5% do total. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), esses negócios representam 17% do total no país e que, entre essas mulheres, 49% são as responsáveis financeiras pelo próprio núcleo familiar.

Motivadas pelo respeito a ancestralidades e pela busca de uma sociedade antirrascista, o coletivo Pretas Paridas de Amazônia reúne 20 microempreendedoras de diferentes segmentos em Belém, com o objetivo de fortalecer pequenos negócios pensados e executados por mulheres negras. Na opinião de Maria Luiza Nunes, pensar em negócios que resgatem heranças tradicionais de um povo é um diferencial que engrandece a contribuição das mulheres negras para a sociedade, ao mesmo tempo que abre portas para a reflexão. "As ceramistas trazem os ensinamentos das avós, que trabalhavam com barro. As costureiras também buscam elementos da memória afetiva. Estar em um coletivo nos faz pensar o quanto esses talentos e empreendimentos sempre foram potentes, mas também muito solitários, sem apoio. Como fazemos isso há tanto tempo e estamos tão invisíveis nessa cidade?", pondera.

Empreender é um ato político

Maria Luiza Nunes afirma que uma rede de afroempreendedoras em Belém é capaz de pensar uma moda, um estilo e uma consciência própria para outras mulheres que não se enxergam ou não se identificam com os empreendimentos que já existem. "É também um ato político. Não é um glamour no sentido de virar empreendedora depois de largar seu belo emprego para tentar uma coisa nova. Não é fácil. Mas estamos aqui", diz.

image Maria Luiza Nunes explica que empreendedorismo e moda criam identidade e consciência (Thiago Gomes / O Liberal)

O afroempreendedorismo também mira na correção de distorções econômicas históricas que também espelham o racismo no Brasil. Em 2012, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o rendimento médio mensal dos brancos foi 57,3% maior que o dos negros. Em 2019, quase nada havia mudado: a população branca recebeu, em média, 56,6% a mais que a população negra. Além disso, há dificuldades estruturais como dificuldade de acesso a capacitação e a contração de crédito com bancos.

Aos 28 anos, Vanessa Mendonça está prestes a completar cinco no comando da Fogoyó, uma empresa familiar dedicada à produção de bolsas, pochetes, camisas e diversas peças de vestuário enaltecem elementos e símbolos culturais do continente africano, misturados com signos da Amazônias. A empresa familiar conta com o trabalho de cinco mulheres negras. "Elas possuem autonomia, autossustento, mas é também uma arte que te traz autoestima e empoderamento. Uma fica na produção das fitas e alças, outra faz batas e croppeds. Eu já fico no design e nas vendas. Isso é muito legal", conta.

image Vanessa Mendonça está à frente de uma empresa familiar (Thiago Gomes / O Liberal)

Segundo Vanessa Mendonça, ver a maneira como famílias negras são diretamente impactadas por esses empreendimentos é o principal motor do coletivo. "Acho isso muito importante porque temos um contexto histórico de mulheres negras que sempre empreenderam, sempre se reinventam para sustentar a família e Belém precisava desse olhar, para valorizar a moda afroamazônica, com as nossas estampas, como o nosso jeito de fazer. Ainda somos uma capital muito atrasada nesse sentido, mas estamos buscando mudar essa realidade", afirma ela.

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