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Bares LGBTQIA+ mostram história de orgulho

De Stonewall à Belém, luta por respeito à diversidade marca história de empreendimentos da noite

Fabrício Queiroz
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Música alta, bebidas, ambiente descontraído e um espaço propício para o encontro de amigos e namorados. A cena tão comum nos bares de qualquer parte do mundo não é diferente nos chamados “bares gays”, mas esse tipo de local semelhante a tantos outros acaba carregado de estigmas e preconceitos.

Apesar disso, o segmento desse tipo de empreendimento vem ganhando cada vez mais espaço em todo o mundo, influenciado por fatores como a maior visibilidade e representatividade das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e outros na sociedade, bem como pelo seu expressivo poder econômico chamado de pink money.

A existência desses locais não é recente, inclusive um ambiente como esse chamado Stonewall Inn, localizado na cidade de Nova Iorque, tem um papel decisivo para a história dos movimentos LGBTQIA+. Em 28 de junho 1969, o bar foi alvo de mais episódio de repressão policial contra os clientes e funcionários que frequentavam o local para expressar livremente suas identidades, sexualidades e afetos. A violência reiterada, no entanto, gerou uma grande revolta. Um ano após, ativistas da causa comemoraram a data com um evento que hoje é reconhecido como o pioneiro das paradas do orgulho LGBTQIA+.

As cenas de resistência e luta por direitos que representam a Revolta de Stonewall se fazem presente também em estabelecimentos de Belém. De forma pacífica, mas não menos provocativa, bares explicitamente abertos ao acolhimento da diversidade sexual vêm ganhando espaço nas noites da capital paraense. No bairro do Umarizal, por exemplo, a fachada de um empreendimento diz logo a que veio: “Aqui é uma monarquia e quem manda são as mulheres”.

O casal Larissa Matos de Oliveira, 26 anos, e Kathleen Peixoto de la Roque, 30 anos, está à frente do negócio, que surgiu, segundo as proprietárias, por conta da carência de espaços de entretenimento voltados para as mulheres, especialmente as lésbicas. “Um rapaz uma vez abordou a gente para perguntar aonde teria um local LGBTQIA+ que as mulheres se sentissem confortáveis. Ocorre que aqui em Belém a gente tem alguns lugares que a gente se apropria, mas nenhum local era direcionado. Quando a gente fez uma viagem, conhecemos vários bares que se denominam LGBTQIA+, que tem bandeiras, cardápio, drink, pinturas na parede, músicas e esses bares inspiraram a gente a abrir um bar focado para as mulheres do meio tanto as cis quanto as trans, as lésbicas, as bissexuais, mas é, sobretudo, um bar voltado para o público feminino no geral”, conta Larissa Oliveira.

Alguns aspectos podem chamar atenção aos não familiarizados, como os trocadilhos e brincadeiras com gírias no cardápio ou o cinzeiro em formato de vulva. Outros elementos aparentemente banais fazem toda a diferença para uma mulher, como a oferta de absorventes no banheiro. O tato diferenciado para a gestão pautado na própria vivência das empreendedoras enquanto mulheres e ex-funcionárias de bares da capital também imprime marcas particulares ao local, que atrai um público crescente mesmo com apenas três meses no mercado.

“As nossas clientes se sentem muito acolhidas. Muitas repetem que quando chegam aqui se sentem bem, que até vão em outros lugares para se sentir assim só que quando chegam aqui tem um acolhimento diferente, não tem aquele olhar que te deixa desconfortável, muito pelo contrário, até pessoas hetero se sentem à vontade aqui”, afirma Kathleen Peixoto.

Público busca reconhecimento e respeito

A pesquisa “Orientação sexual autoidentificada da população adulta”, divulgada no final de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que mais de 2,9 milhões de pessoas com 18 anos ou mais se declaram gays, lésbicas ou bissexuais. Além desses, cerca de 100 mil pessoas declararam se identificar com outras orientações, como a pansexualidade e a assexualidade. Porém, o IBGE ressalta que os números podem ser subnotificados, sobretudo por conta do preconceito que ainda cerca as vivências que não se enquadram no padrão heteronormativo. No quesito econômico, a associação Out Leadership estima que essa comunidade é responsável por movimentar uma economia de cerca de R$ 420 bilhões ao ano somente no Brasil.

Os dados são sintomáticos da importância que a comunidade LGBTQIA+ tem ganhado, se tornando o público-alvo de muitas marcas e campanhas, que se engajaram no conceito de gay friendly. Mas para quem integra os grupos sexualmente diversos, para apoiar um negócio, é necessário ir além do discurso e demonstrar um comprometimento efetivo com a causa.

image As amigas Natacha Barros e Angélica Rodrigues valorizam locais que acolhem mais abertamente suas sexualidades (Sidney Oliveira / O Liberal)

Ainda no bairro do Umarizal, em Belém, outro estabelecimento é prova de como esse público é consciente e reivindica seus direitos também nos hábitos de consumo. No local, o protagonismo feminino na gestão do negócio comandado por uma mulher lésbica, na ambientação em que artistas femininas tem todo o destaque e no cardápio, com produtos em homenagem às cantoras paraenses. “Hoje, nossa casa é composta por um público 80% LGBTQIA+, que fazem da nossa casa a sua casa e espalham amor, alegria, respeito e igualdade a todos”, afirma a proprietária que preferiu não se identificar.

É o reconhecimento desses e outros valores que pesa na escolha de pessoas como a produtora cultural Natacha Barros, 32 anos. “Ter um local que a gente possa demonstrar a nossa identidade de forma livre é muito importante porque você acaba criando uma rede de apoio para que as pessoas possam se sentir à vontade para dialogar e ter mais confiança de frequentar”, analisa.

No mesmo sentido, a contadora Angélica Macedo Rodrigues, 33 anos, pontua que as escolhas de consumo envolvem questões profundas, bem como a identificação do orgulho LGBTQIA+ como um valor coletivo. “É uma questão política mesmo porque é um local que acolhe a comunidade, você se sente mais livre, com segurança, você pode demonstrar seu afeto e em que a gente encontra pessoas que te olham como um igual”, diz Angélica, que ressalta: “o público LGBTQIA+ está ocupando todos locais na busca por mais respeito, liberdade e segurança”.

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