Em período de pandemia, vivência do luto se torna desafio ainda maior
Às vésperas do Dia de Finados, familiares que perderam entes queridos por conta da covid-19 relatam como é conviver com a saudade

Viver o luto se tornou um desafio ainda maior em meio ao cenário de pandemia da covid-19, especialmente em datas como o Dia de Finados, que será nesta segunda-feira (02). Em decorrência da doença, o Pará perdeu 6.743 vidas até a última sexta-feira (30). Mas um questionamento pode ser feito na esperança de dias melhores: como fortalecer a energia em família diante de tanta saudade?
Na casa da família Oliveira, de Belém, esse processo é vivido com muitas recordações da vovó Joana Dar'c, que estava com 85 anos quando foi vítima da covid-19, em abril. Um altar com fotografias, imagens de santos e vários outros objetos que remetem a lembranças dela foi montado na sala. De acordo com a neta, Allana Graim, 20, os familiares tentam agir como se ela estivesse com eles o tempo inteiro, vivenciando as coisas que ela ensinou, principalmente a prática da caridade e da fé.
"Guardamos medalhas de reconhecimento pelos serviços prestados à Educação, pois minha avó foi da primeira turma de Educação Física da Uepa, se tornou professora de Educação Física e Folclore, além de coordenadora do Movimento Bandeirantes e Legião de Maria por muitos anos", contou Allana.
Ela reforçou o exemplo de fé deixado por dona Joana. "Vovó foi mãe de muitos e sua maior característica sempre foi a fé inabalável e a devoção a Nossa Senhora de Nazaré. Cuidou de todos nós e de todos que batiam à sua porta. Guardamos os seus santos, terços e imagens com muito cuidado, é a sua principal marca e tudo que ela representa".
Essas recordações amenizam um pouco da saudade, contou Allana. "Pra mim, em especial, guardo suas batas, sempre trouxe seus vestidos longos para usar em casa como pijama e ela adorava, sempre dizia ser minha herança. Hoje, tenho todos os vestidos e guardo com todo meu amor".
Por conta da covid-19, o luto também está sendo vivenciado pelo autônomo Paulo Cunha, 52, de Belém, que se despediu da mãe dele, Isabel Cunha, que tinha 93 anos. "A perda de um ente querido torna-se muito complicado quando não podemos dar o último abraço, um carinho. Ver sua mãe num momento difícil da vida dela e não poder fazer nada, isso é uma dor imensurável", lamentou.
Para Paulo, a força vem da esperança. "Infelizmente, não podemos ir ao cemitério por conta da aglomeração, mas temos que ter esperança em dias melhores, temos que nos cuidar porque o vírus infelizmente ainda está no nosso meio. Esperamos dias melhores, mas agora é hora de nos proteger", disse.
Vivência do luto é necessária
De acordo com a psicóloga Roberta Flores, viver o luto é necessário para buscar meios de superação e fortalecimento, especialmente com a rede de apoio. "Manter essa conexão com pessoas que já façam parte dessa rede é um meio possível para renovação. E a dimensão da espiritualidade, a forma como cada família ou pessoa constitui sua espiritualidade. A partir de como está pautada a sua fé, costuma ser uma dimensão que traz um conforto", explicou.
Ela orienta que os ritos de despedida são fundamentais para a vivência do luto. "Alguns rituais são habituais, como realizar o velório, ir ao cemitério e outros. Em alguns casos, a pandemia impediu esses ritos. Mas de alguma forma a família precisa explorar a possibilidade de se despedir. E falar sobre isso também é importante. Mesmo que não seja na hora, mas depois é necessário falar, processar que aconteceu a perda", concluiu.
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