Eles também querem (e precisam) namorar

Rodrigo Cabral
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Se é necessário ter maturidade para encarar um relacionamento a dois, para eles isso não é problema nenhum. Maturidade é o que não falta para pessoas com mais de 60 anos, que estão redescobrindo o prazer de namorar. Sim, se você pensa que beijar na boca é coisa de gente jovem, volte três casas no jogo da vida e escute a voz da experiência. 

No mundo dos famosos, do alto dos seus 70 anos, a apresentadora Ana Maria Braga foi manchete, em novembro deste ano, ao apresentar seu novo namorado, o francês Johnny Lucet, 55. As informações que circularam na internet deram conta de que o casal se conheceu na última temporada de férias de Ana Maria, no final de setembro. Ela, que já foi casada três vezes, dá sinais de intensidade no novo romance, com direito até à tatuagem no braço com o nome do novo eleito. 

Longe dos holofotes, o amor também acompanha o avançar da idade e traz inúmeros benefícios para a saúde do corpo e da mente, como destaca a médica geriatra e professora do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), Niele Silva de Moraes, 35 anos. “Sim, o amor faz bem em todas as fases da vida. Quem não gosta de sentir-se amado, cuidado, ter alguém para dividir as alegrias e ajudar a superar as dificuldades e tristezas? A relação amorosa traz benefícios emocionais, libera endorfina e, na terceira idade, pode resgatar a vaidade que se perdeu ao longo dos anos e a vontade de cuidar mais de si, aumentar a autoestima e melhorar a qualidade de vida”. 

Nessa altura da vida, a felicidade é bem-vinda

A primeira vez que eles se viram foi no aeroporto de Curitiba-PA. Paraense, ela voltava para Belém. Paranaense, ele desembarcava em sua terra natal. Os olhares e os destinos da contadora Maria Ana de Oliveira, 67, e do servidor público Valdir Jarski, 60, se cruzaram no ano de 2013. Mas só em 2016 que eles assumiram para si a relação. E lá se vão quase três anos de um namoro à distância coroado com viagens românticas pelo país. “Depois que nos conhecemos, ficamos fazendo contato por mensagens e telefonemas. Mas, com o tempo, espaçou. Em fevereiro de 2016, na época do meu aniversário, ele me mandou uma mensagem e retomamos um contato mais intenso. Um ano depois, em fevereiro de 2017, o Valdir veio a Belém e ficou nove dias aqui, no período do carnaval. Na sequência, teve um outro feriado bom e nos encontramos em Parati (RJ), depois em Curitiba, em Santa Catarina... e assim foi”, conta Maria Ana.

Nos intervalos das viagens que fazem juntos, eles superam a distância com a presença digital. “Não passamos um dia sem nos falarmos. O Valdir é muito companheiro, cordial, me trata muito bem. De manhã, pergunta se eu dormi bem. Ao longo do dia, manda novas mensagens. À noite, conversamos pela internet até pegar no sono. Nos sentimos seguros um com o outro, confiamos mutuamente e eu me sinto muito bem nessa relação. E tem uma coisa importantíssima: ele escreve corretamente. Não dá pra trocar muitas mensagens com erros de português, né?”, conta ela, entre risos.

O próximo encontro será no Natal, o primeiro que vão passar juntos. “Ele está vindo passar o Natal aqui em Belém. Nunca passamos essa data presencialmente, assim como o Dia dos Namorados também, ainda, não coincidiu a nossa agenda. Os dois últimos réveillons, nós viramos juntos, um em Curitiba e outro em Paranaguá, a ilha do mel. Eu já vivi bastante, tenho dois filhos maravilhosos, dois netos, duas noras, que são como filhas pra mim. O Valdir veio somar. Temos muitas afinidades, gostamos das mesmas coisas, de viajar, de uma vida mais tranquila. Se tiver só feijão com farinha, a gente come; se tiver que ir a um restaurante chique, a gente vai. E, assim, vamos levado a vida. Na hora que der, nem que seja para botar a casa em cima de um trailler, mas a gente vai junto”.

Num futuro não tão distante, os namorados planejam morar juntos. “O Valdir está tendendo a morar aqui, em Belém. Ele gostou da nossa cidade e sempre diz que está cansado do frio. Mas, mesmo quando estivermos morando juntos, não vamos deixar de viajar”, afirma Maria Ana. 

Namorar revigora e exige cuidados

“Acredito que um relacionamento amoroso na terceira idade apresente os mesmos benefícios e riscos das outras fases, com alguns incrementos. Namorar revigora, motiva, embeleza, empodera, aumenta a autoestima, traz alegria, melhora o humor e o sono, traz mais estabilidade emocional, alivia o estresse. Na velhice, vive-se o presente mais intensamente, preocupa-se menos com o futuro e gerencia-se melhor as expectativas, o que pode trazer mais felicidade. Como ponto negativo, estão os riscos de qualquer relacionamento, de confiar na pessoa errada ou depositar expectativas em alguém que não corresponde verdadeiramente. Também há o preconceito da sociedade e, às vezes, dos próprios familiares”, pontua a geriatra Niele Silva de Moraes. 

Ainda segundo a médica, estudos mostram que as pessoas que envelhecem acompanhadas vivem mais e melhor. A solidão é um dos gatilhos para depressão e para outros problemas de saúde. O relacionamento amoroso na velhice pode trazer um novo sentido para a vida, revelando novas sensações e descobertas com os prazeres da afetividade, que previnem a depressão e melhoram a saúde. “A relação amorosa deixa as pessoas fisicamente mais dispostas e ativas. Além disso, muitos passam a praticar atividade física para melhorar sua aparência e seu condicionamento. E isso traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental” destaca. 

É natural que os familiares de pessoas idosas se preocupem e queiram acompanhar de perto essas situações, mas a geriatra reitera que deve haver respeito. “É compreensível e esperado que se tenha cautela com os novos parceiros, até que se conheça melhor e se adquira confiança naquela pessoa. Porém, não pode existir preconceito. A velhice não é uma fase em que o idoso deve se recolher ao aposento e se dedicar exclusivamente aos filhos e netos. Deve ser vivida como o idoso desejar e ser uma fase de novas descobertas e de felicidade. É importante pensar que todos queremos envelhecer, até porque, quem não envelhece morre antes! E todos desejamos ser amados até o fim da vida. Então, não só é permitido, como é um direito e faz bem, namorar nessa fase, se este for o desejo da pessoa idosa”, recomenda. 

Quebrar tabus, mas com segurança

Se há namoro na terceira idade, também pode haver sexo. Por que não? A geriatra Niele de Moraes salienta que “a sexualidade é uma das dimensões da vida, do jovem, do adulto e do idoso. Traz prazer, afetividade, disposição, vigor e contribui para a felicidade. Assim como em qualquer idade, é fundamental se proteger! É necessário sempre usar preservativos para evitar doenças infecciosas, como a sífilis e o HIV. É importante receber as orientações médicas e sentir-se à vontade para tirar as dúvidas. Muitos idosos não tiveram acesso a estas informações quando eram jovens. A sexualidade era um tabu, principalmente para as mulheres. O preservativo (a camisinha) não previne apenas a gravidez, como muitos pensam. Como a gravidez não é mais uma preocupação nesta fase da vida, muitos acabam não se protegendo e contraindo doenças sexualmente transmissíveis. O número de pessoas portadoras de HIV tem aumentado muito entre os idosos. 

Outra preocupação é com o uso de remédios para estimulação sexual, que só deve acontecer mediante orientação médica. “Vale ressaltar que a disfunção sexual no homem abrange problemas variados, como redução da libido e a dificuldade de ereção, e tem diferentes causas, entre elas: doenças cardiovasculares, depressão e efeito colateral de medicações. A disfunção erétil pode ser o sintoma de uma doença cardiovascular e aumentar o risco de infarto, por exemplo. Sendo assim, é importante que se procure um especialista para que seja investigada a causa e realizado o tratamento adequado. É indispensável seguir a orientação médica e tomar apenas medicações prescritas pelo profissional. Os efeitos colaterais mais comuns são dor de cabeça, desconforto gástrico ou intestinal, tontura e borramento visual, porém podem acontecer casos graves de redução da pressão arterial”, orienta a especialista.

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