Projeto 'Encantarias de São Benedito' reúne performances visuais em comunidades de Bragança
O objetivo é a produção coletiva de fotos e vídeos em dois terreiros do município
Rituais de passagem, som de tambores, rezas e ladainhas marcaram o início do projeto "Encantarias de São Benedito: performances visuais do Santo Preto em comunidades de terreiro em Bragança-PA”, selecionado pela Lei Aldir Blanc do Pará, prêmio Artes Visuais FotoAtiva.
O objetivo é a produção coletiva de foto e vídeoperformances em dois terreiros de Bragança, que dialogam com a relação ritualísticas dos cultos a São Verequete (Toiá Averequete da tradição afro-brasileira do Tambor de Mina) e São Benedito da tradição católica.
Foram escolhidos os terreiros de Pai Raimundo e de Pai Kauê, irmão e filho-neto de D. Rosa, maruja mantenedora da tradição da Marujada e do Tambor de Mina e Umbanda, salvaguardando a ancestralidade cabocla bragantina que resiste aos processos de apagamento dessa cultura na região.
As oficinas de foto-performances e videoperformances que iriam iniciar pelo Terreiro de Pai Raimundo, porém, precisaram ser suspensas por causa do falecimento do mestre, no dia 8 de março.
“Estávamos prontos para iniciar mas com isso, tomamos a decisão de priorizar os registros dos ritos de passagem que ocorreram na comunidade após a morte dele. Registramos, entre outras coisas, o Tambor de Choro, ritual do Tambor de Mina e da Umbanda, em que se toca o tambor e se dança para o ente querido em despedida, e transformar tudo em vídeo-performances”, diz Pedro Olaia, profesor, ator, performer e articulador cultural em rede, atuando no projeto na pesquisa e na condução das oficinas de foto e video-performances.
Raimundo Matos da Silva, 58, conhecido como Pai Raimundo, cuidava do terreiro localizado na Vila Que Era, o único que ainda recebe, em seu terreiro, na Vila que Era, a esmolação da Comitiva de São Benedito, além de manter viva a tradição do tambor de Mina e culto a São Verequete. Todos os anos, ele também participava, no dia 25 de dezembro, da festa da marujada, adentrando e dançando no barracão, saindo depois para o terreiro, onde as celebrações continuavam.
“No projeto, estamos propondo a interlocução entre fotografia, audiovisual e performance, apresentando ao público outras possibilidades de narrativas para preservação da memória social dos devotos de São Benedito de Bragança, que borram as fronteiras e caminham entre a fé ocidental e as tradições da sua ancestralidade local. Os resgistros feitos no terreiro do Pai Raimundo farão parte das exposições”, continua Pedro Olaia.
Nesta semana, a expectativa é retomar as atividades presenciais, com o fim do lockdown previsto para esta quinta-feira, 15. “Neste outro terreiro iremos realizar as três oficinas de fotoperformance e videoperformance, entregando os equipamentos nas mãos dos participantes, residentes naquela comunidade. Eles farão os registros, cujos resultados serão apresentados também numa exposição no terreiro e outra na cidade”, conclui Olaia.
O resultado contará com três momentos de exposição. Mostra dos registros em vídeo e fotografias (etnografias visuais), da Ladainha e do Tambor de Choro, na antiga casa do Pai Raimundo; mostra das videoperformances e das fotoperformances no terreiro do Pai Kauê e mostra dos dois trabalhos em praça central em Bragança.
O projeto conta ainda com Pierre Azevedo, pesquisador e produtor em projetos científicos, culturais e audiovisuais, voltados à cultura popular, comunidades amazônicas, patrimônio cultural e artes visuais; Mayka Melo, fotógrafa bragantina, mantenedora da cultura popular como maruja há sete anos; Marília Frade, artista-pesquisadora e educadora com estudos teóricos e práticos no teatro do oprimido, moradora de Bragança; Raquel Leite, fotógrafa bragantina com obras realizadas na área do audiovisual, e San Marcelo, operador de câmera, diretor, roteirista e montador.
Acompanhe o projeto, nas redes sociais @encantariasdesaobenedito no Instagram e no Facebook.
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