Três jornalistas do Grupo Liberal são agredidos pelo prefeito de Parauapebas dentro da COP 30

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, por meio da Seccional da Sacramenta

O Liberal
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Três jornalistas do Grupo Liberal - Wesley Costa, Isis Bem e Vanessa Araújo - foram agredidos nesta sexta-feira (14/11) dentro da Blue Zone da COP 30, em Belém, pelo prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano (Avante). Isis e Vanessa foram alvos de xingamentos e ofensas de gênero, enquanto Wesley foi agredido fisicamente com um tapa no rosto durante a cobertura. O​ óculos do jornalista caiu ao chão e foi recolhido por uma pessoa que passava pelo local. Ele realizou o exame de corpo de delito, que deverá ​ficar pronto em até 15 dias para ajudar nas investigações da Polícia Civil, que apura o caso por meio da Seccional da Sacramenta. O prefeito foi retirado do evento pela equipe de segurança da ONU.​ Nas redes sociais, Goiano se manifestou em tom de deboche, dizendo que “tudo inventam para nos queimar”.

A agressão aconteceu dias após Wesley ter registrado uma cena que chamou atenção na Green Zone: o prefeito, conhecido por seu alinhamento declarado ao ex-presidente Jair Bolsonaro conversava de forma aparentemente íntima com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (Psol). Wesley publicou o registro em suas redes sociais, gesto que, segundo ele, gerou grande repercussão em Parauapebas.

Comportamento agressivo

No dia seguinte ao registro, a assessora do prefeito procurou o Grupo Liberal pedindo que ele fosse entrevistado. A equipe aceitou. Quando Aurélio Goiano chegou ao estúdio e percebeu que a entrevista seria conduzida por Wesley Costa, recusou-se a participar, alterou o comportamento e passou a atacar verbalmente as duas produtoras, Isis Bem e Vanessa Araújo, do programa Comando Mais Liberal, apresentado por Wesley.

“Assim que chegou, ao perceber que seria eu quem faria a entrevista, ele disse que não daria mais a entrevista, discutiu com as duas produtoras e agrediu as duas profissionais que estavam lá com a gente”, disse Wesley.

Isis e Vanessa confirmam que, antes mesmo da agressão física, o prefeito já havia invadido o estúdio e proferido ofensas e ameaças. Vanessa relata ter ido recebê-lo com educação, conforme já estava combinado pela assessoria, mas ele reagiu com hostilidade. “Eu me apresentei e disse que ele poderia se dirigir ao estúdio, porque sua assessoria já havia confirmado a entrevista. Ele me pede um minuto, mas diz que não vai começar com o Wesley por questões políticas”, contou Vanessa.

Pouco depois, ele percebeu que Wesley e o apresentador Max Sousa estavam ao vivo. “De repente, ele entra no nosso estúdio proferindo palavras de baixo calão tanto para o Wesley quanto para mim”, disse Vanessa.

Isis confirma que tentou impedir a invasão do estúdio, mas apenas com gestos, já que jornalistas não podem entrar durante gravações. “Tentei contê-lo, não segurando ou puxando​, mas levantando as mãos e explicando que ele não poderia entrar porque estávamos no ar. Nesse momento, ele direcionou a raiva dele para nós que estávamos na produção, comigo e com a Vanessa, proferindo ofensas de baixo calão, inclusive ofensas de gênero, e continuou ameaçando o Wesley, dizendo que voltaria e que iria ‘pegá-lo’”, relembrou a jornalista.

As jornalistas relatam sentimento de humilhação e vulnerabilidade. “Nos sentimos humilhadas. Ele é um homem muito maior do que nós e foi violento verbalmente. Estávamos no exercício do nosso trabalho”, disse Isis.

Agressão física

Após os ataques iniciais, o prefeito deixou a área onde ocorria a transmissão do Comando Mais Liberal. A equipe imaginou que o episódio havia terminado. O programa foi encerrado e, em seguida, começaria o Tarde Mais, apresentado por Isis e Vanessa.

Wesley permaneceu no estúdio. “Eu permaneci no estúdio, e ele passou novamente pelo local, me xingou, e eu fui até ele para ouvir o que estava dizendo. Quando me aproximei, ele me deu um tapa. Foi o que aconteceu”, disse o jornalista.

Vanessa detalhou que o tapa foi extremamente forte. “O tapa foi muito forte. O óculos do Wesley caiu na hora, e uma moça chegou a pegar para devolver”, detalhou.

No momento da agressão, Isis e Vanessa estavam ao vivo. “Quem acompanhou o programa viu que, naquele momento, perdemos um pouco o foco, com medo de que ele entrasse no estúdio. O estúdio é aberto, estávamos ao vivo, e nos sentimos totalmente vulneráveis”, relatou Isis.

Após o tapa, o prefeito desapareceu no meio da multidão na Blue Zone. O jornalista Max Sousa foi quem saiu atrás da equipe de segurança da ONU, para que o prefeito pudesse ser detido.

Wesley reforça que jamais havia tido contato pessoal com o prefeito e que nunca o desrespeitou. “Eu sou repórter. Não tenho qualquer problema pessoal com ele. Não o conhecia. Nunca tinha visto pessoalmente. Aparentemente, ele não gostou de ter sua imagem vinculada ao Boulos. Isso gerou grande repercussão no município dele, e acredito que ele decidiu que a melhor forma de ‘resolver’ isso era vindo até aqui e me agredindo com um tapa no rosto”, declarou.

Advogado diz que prefeito deve responder por pelo menos sete crimes e critica atuação da ONU

O advogado criminalista Luiz Araújo, que representa as três vítimas, afirmou que o prefeito deverá responder por ao menos sete crimes, entre eles: lesão corporal, crimes contra a honra, constrangimento ilegal, coação, ameaça, misoginia e injúria discriminatória.

Araújo criticou a atuação da segurança da ONU, afirmando que os agentes disseram às vítimas que não tinham poder de polícia para conduzir o prefeito a uma autoridade, e também não podiam autorizar a entrada de policiais brasileiros na Blue Zone. “Daí o prefeito saiu ileso dentro da Zona Azul, e isso nos preocupa”, afirmou o criminalista.

O advogado solicitou medidas cautelares para proibir o prefeito de retornar à Blue Zone e pediu o descredenciamento de Aurélio Goiano para que ele não possa mais acessar o evento. Também solicitou que a organização da COP garanta segurança à equipe do Grupo Liberal.

“Esse caso deve ser tratado com a maior seriedade possível. O ataque a qualquer jornalista é um ataque à liberdade de expressão. Estamos diante de crimes de misoginia”, afirmou.

Jornalistas registram boletins de ocorrência

Isis, Vanessa e Wesley registraram boletins de ocorrência. Wesley realizou exame de corpo de delito, na sede da Polícia Científica, em Belém, que deve confirmar oficialmente a agressão física. Isis reforça que ninguém encostou no prefeito em momento algum.

“Não o desrespeitamos, não tocamos nele, não o empurramos. Apenas o convidamos a não entrar no estúdio durante a transmissão”, comentou.

Repúdio

Após a repercussão do caso, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor-PA), Vito Gemaque, repudiou o ocorrido. “Soubemos do caso por meio da imprensa. Nós repudiamos a agressão do prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano, contra o jornalista Wesley Costa e as agressões verbais contra a equipe da Rádio Liberal+, que fazia a cobertura da COP 30. O Sinjor-PA entrará em contato com os jornalistas para prestar apoio e cobraremos apuração rigorosa dos órgãos de segurança sobre o fato. É inadmissível que jornalistas sejam agredidos dentro de um evento internacional da ONU em Belém”, afirmou.

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