Sabores do Pará ganham destaque no mercado de vinhos durante a COP 30
Com a proximidade da Conferência da ONU sobre o Clima, em novembro, produtores paraenses veem no evento uma oportunidade para promover vinhos feitos com frutas amazônicas.

Com a realização da 30ª Coferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro em Belém, produtores e especialistas em vinhos do Pará se mobilizam para apresentar ao mundo um mercado em expansão: o dos vinhos amazônicos. Feitos a partir de frutas regionais, como bacuri, cupuaçu e açaí, esses produtos vêm ganhando reconhecimento tanto pelo caráter inovador quanto pela valorização da cultura local.
Para a sommelière Christianne Rosas, diretora institucional da Associação Brasileira de Sommeliers no Pará (ABS-PA), o consumo de vinho na região tem crescido nos últimos anos, e a produção artesanal de bebidas fermentadas com ingredientes amazônicos pode se tornar um diferencial competitivo durante a conferência climática.
“A COP vem trazer luz para o que a gente realmente já sabe. Nós que moramos aqui já sabemos que temos a melhor gastronomia do mundo… E hoje o mundo tá conhecendo, também por conta da COP 30, que vai ser realizada em Belém”, afirma.
Christianne explica que, embora o clima do estado não seja propício para o cultivo de uvas viníferas, há uma produção crescente de vinhos feitos com frutas nativas, um resgate da tradição fermentativa de povos originários.
“No estado o vinho que é produzido é de açaí, de cupuaçu, de bacuri, que são as nossas frutas amazônicas. A gente não tem vinho produzido de uva, por exemplo, devido a questões do solo e do clima”.
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Ela também chama atenção para o crescimento do mercado nacional e da cultura do vinho no Brasil, que já possui polos produtivos consolidados em estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia.
“O Brasil é um grande player, como se diz no mercado, porque ainda tem muito para crescer. A gente aqui no Norte não tem uma cultura do vinho ainda, mas a gente já tem um consumo de vinhos bastante alto.”
Para ela, a produção paraense pode se destacar ao oferecer uma experiência sensorial única, conectada com os sabores da região. “Eu brinco que o nosso prato de peixe frito com açaí foi atualizado com sucesso porque hoje eu consigo tomar um vinho de açaí com peixe frito, e isso é muito interessante.”
Vinhos com identidade amazônica
Quem também aposta nesse mercado é o empresário Marco Avelar, criador e CEO de uma vinícola paraense especializada em bebidas feitas a partir de frutos regionais e mel de abelhas nativas. A empresa tem apenas nove meses de atividade, mas já investiu cerca de R$2 milhões em tecnologia e desenvolvimento de produtos.
“Nossas bebidas são únicas e bem criativas. Unimos as técnicas francesas de vinificação com insumos italianos e nossas frutas regionais, o que originou bebidas incríveis, capazes de combinar com uma confraternização entre amigos até mesmo um jantar romântico a dois”, explica.
Segundo Marco, o maior diferencial da vinícola está na originalidade e complexidade dos sabores. Ele destaca que todas as frutas utilizadas são cultivadas por ribeirinhos da região, o que fortalece a conexão com o território e valoriza práticas de produção locais.
“As frutas usadas só são cultivadas em nossa região com tamanha qualidade.”
Com foco em ampliar sua atuação para o mercado internacional, a empresa está desenvolvendo embalagens que despertem a curiosidade dos consumidores estrangeiros e já prepara ações promocionais voltadas aos turistas da COP 30.
“Hoje vemos a COP 30 como uma grande vitrine. Afinal, estaremos nos holofotes do mundo. A culinária paraense já é bem vista mundialmente… então, se temos essa culinária tão querida, nossos vinhos também atrairão a curiosidade dos turistas.”
Avelar destaca, no entanto, que há desafios a serem superados, especialmente no que diz respeito à regularização dos produtos.
“Hoje o maior desafio está na demora dos órgãos em liberar e concluir nossos registros, além de ganhar visibilidade não somente local, mas sim internacional.”
Para ele, a oportunidade de apresentar os vinhos amazônicos a um público global pode abrir caminhos importantes para o desenvolvimento de um mercado ainda pouco explorado, mas repleto de potencial.
“O reconhecimento pelo trabalho e pela dedicação que temos para fazer um produto bem feito, para agradar a todos os gostos — desde o mais simples até os mais sofisticados — é o que mais nos gratifica.”
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