Projeto em Belém reaproveita pedaços de madeira que seriam destinados ao lixo
O objetivo é recuperar os móveis descartados e transformá-los em obras de arte
A madeira que seria descartada ganha uma nova utilidade com o projeto “Do Lixo ao Luxo”, uma iniciativa sustentável que recicla e transforma pedaços de madeiras e móveis antigos em novas peças, como mesas, cadeiras, armários e molduras refinadas. Inicialmente, os objetos eram recolhidos às margens do canal São Joaquim, no bairro da Sacramenta, em Belém. Com o restauro desses móveis antigos que seriam abandonados, o marceneiro responsável pelo projeto criou uma oficina de reciclagem de madeira para pessoas da comunidade, incluindo crianças, adultos e idosos. O objetivo é recuperar os móveis descartados e transformá-los em obras de arte.
“O projeto surgiu da necessidade de passar o conhecimento adiante. Além de que, ver pessoas descartando esse material no canal São Joaquim, me fez ver a necessidade de recuperar esses móveis. Uma vez, andando à beira do canal, eu encontrei um guarda-roupa do século XVIII, foi quando percebi que há muita matéria-prima boa, que as pessoas não conhecem e descartam. Então surgiu a necessidade de recuperar esses móveis e transformar", explicou o artesão Ronaldo Santos, de 57 anos.
A reciclagem e restauração de móveis abandonados, especialmente em locais públicos, como canais, calçadas e terrenos baldios, é uma prática de grande impacto ambiental positivo, uma vez que contribui para a conscientização sobre a responsabilidade ambiental nas cidades. Além disso, com o reaproveitamento criativo, a ação incentiva economia circular.
Atualmente, a oficina funciona aos sábados, com cerca de 15 alunos, incluindo estudantes do curso de restauração. De acordo com o marceneiro, o tempo de restauração das peças varia entre uma semana e 15 dias. “É conforme a peça que eu for pegar, por exemplo, uma cristaleira. Uma cristaleira leva uma semana para restaurar, vai depender muito do estado dela. Tem peça que a gente pega que não precisa de muita cor, mas tem peça que precisa trocar, fazer entalho. Tem cadeiras que precisa fazer a palhinha, fazer estufamento, tem móvel que demora uma semana, móvel que demora 15 dias, é conforme a peça adquirida”, pontuou.
Anteriormente, o marceneiro retirava os móveis do entorno do canal da Sacramenta e de outros locais públicos, no entanto, há mais de seis meses, as pessoas começaram a levar as peças direto para o ateliê, localizado na Passagem Hermínia.
Durante a manhã, participam das aulas de restauração crianças de 8 até 13 anos de idade. À tarde, as aulas são para adultos. “A pessoa pode vir aqui na oficina ou entrar em contato com a gente, pela nossa rede social. E quem tiver vontade de ajudar, pode entrar em contato para adquirir a camisa ou adquirir uma peça do projeto para que possamos continuar com a oficina ativa. No momento estávamos com 10, mas já aumentou, vai chegar a 15 crianças, é um processo que está crescendo conforme a divulgação. As pessoas estão vindo direto procurar participar”, ressaltou Ronaldo.
Oficina de reaproveitamento
A oficina funciona em módulos, e o primeiro deles é ministrado por Joyce Santos, esposa do artesão. “O primeiro módulo do projeto é o trabalho de palhinha, aí passa para a pintura, laqueamento, tintado, então são vários processos. A profissão de restaurador é uma profissão que agrega várias profissões só numa. Eu comecei a fabricar minhas peças com 18 anos e hoje tenho 57. Tem peças que eu que crio todas no estilo retrô. A gente pega até uma peça do século 18”, destacou o marceneiro.
No ateliê, os móveis em processo de restauração foram trazidos de outros lugares, como, por exemplo, uma cabeceira de cama antiga que foi encontrada em via pública. Além disso, pessoas chegam com mobílias do século XVIII em más condições, para que sejam recuperadas. Para o marceneiro, a madeira antiga é a mais importante de ser preservada, uma vez que a durabilidade, que ultrapassa séculos, marca a história da região. Na época colonial de Belém, o uso dessas madeiras era fundamental tanto para a construção e fabricação de móveis quanto para a ostentação do poder da sociedade.
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