Futuro líquido: reflexões sobre resiliência hídrica pós-COP30
Entre expectativas e especulações, Belém do Pará sediou o maior evento global para discutir o enfrentamento das mudanças climáticas, a 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas. A Amazônia entrou em cena e debateu, e algumas vezes gritou, a respeito do futuro do planeta. Após intensas negociações, protestos inflamados, discursos genéricos e muitas articulações, o que conseguimos evoluir em termos de mentalidade capaz de moldar uma nova ética ambiental? É um questionamento importante a fazer.
Painéis e plenárias do evento buscaram caminhos rumo a uma ação climática realmente efetiva, baseada em soluções de mitigação do impacto humano sobre a natureza. Nesse sentido, o fortalecimento do multilateralismo climático na COP30 conseguiu aumentar o financiamento à adaptação e transição justa, registrada entre as 29 decisões do relatório final do Pacote de Belém (PA), aprovado por 195 países.
No cenário das implementações, o compromisso com a resiliência hídrica ficou intrínseco aos objetivos gerais da agenda do clima, constituindo-se pilar fundamental para debater energias renováveis, agricultura regenerativa, conservação das florestas, produção de alimentos, acesso à água potável, saneamento básico, recuperação de aquíferos, proteção do oceano e tantas outras derivações dessa temática.
O Pavilhão Água Para o Clima (Water for Climate Pavilion), localizado na azul da Conferência, realizou painéis com foco na proteção dos recursos hídricos, investimentos inteligentes de gestão da água e o papel dela na resiliência climática. Acerca do oceano, que cobre mais de 70% da superfície terrestre e é o principal fornecedor de oxigênio e regulador do clima, 17 países concordaram em participar do Desafio Azul NDC (Blue NDC Challenge), comprometendo-se a integrar soluções oceano-clima aos planos nacionais. Durante o evento, foi anunciada a criação do Pacote Azul (Blue Package), que compila 70 soluções oceânicas para mitigação do clima até 2050. Os Cinco Avanços Oceânicos (Ocean Breakthroughs) lançaram ainda um plano especial de aceleração de soluções alinhadas à conservação marinha, energia renovável oceânica, alimentos aquáticos, transporte marítimo e turismo costeiro.
Vivemos tempos líquidos, acentuadamente frágeis de ações concretas, verdadeiramente interessadas em uma mudança acelerada e radical. Completamos 10 anos do Acordo de Paris sem chegar a um consenso para estabelecer o Mapa do Caminho da transição energética, capaz de conceber um mundo sem combustíveis fósseis. O consumo dos recursos naturais e a capacidade de regeneração do planeta é uma conta que não fecha e a dívida ambiental tende a escalar. A chave da transformação está em cada um de nós, bem antes da ambição coletiva do “mutirão da COP”, pois precisamos renascer individualmente, como cidadãos conscientes do que somos e entregamos ao nosso planeta água.
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