COP 30 promete deixar legado para Pará e o mundo
Diretora-executiva da COP30, Ana Toni, destaca a importância da implementação das metas climáticas já pactuadas e o papel transformador do evento para a conscientização ambiental

A poucos meses da COP 30, os desafios e as oportunidades que envolvem a realização do evento no Brasil - e, especialmente, na região amazônica - movimentam diversos setores e reúnem uma força-tarefa para que seja bem-sucedido e traga ganhos significativos. Em entrevista exclusiva ao O Liberal, Ana Toni, diretora-executiva da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), destaca a importância da implementação das metas climáticas já pactuadas, o papel transformador da COP para a conscientização ambiental e os possíveis legados para a Belém, como cidade-sede, além da liderança do Brasil no enfrentamento da crise climática. Confira!
1 - O que se pretende avançar em termos de contenção e redução dos impactos, a nível mundial, do aquecimento global?
Ana Toni - Na COP30, o que a gente quer fazer é acelerar a implementação e dar escala ao que já foi decidido, o que precisa ser feito nessa década crítica. Então, a implementação do balanço geral é absolutamente fundamental, tanto na área de mitigação quanto na área de adaptação. Nesse sentido, a COP pode avançar não só no que já foi decidido na COP 28, mas pode avançar muito mais, como dar escala e aceleração das ações.
2 - De que forma um evento como este pode impactar e contribuir para a mudança de mentalidade, ampliando a consciência ambiental da população, em especial, da região amazônica?
Ana Toni - As COP’s se tornaram o maior evento das Nações Unidas e, por isso, elas são, sim, um momento muito importante de educação climática ambiental, de engajar atores que antes não estavam engajados. Em relação à população da Amazônia, primeiro a gente precisa reconhecer que a população rural da Amazônia, principalmente a população tradicional, os povos indígenas e os quilombolas, eles são os primeiros a já ter consciência do problema real, já estão vivendo nas suas peles, nas suas casas, nos seus territórios, os problemas reais da mudança do clima. Então a gente, primeiro, tem que aprender com eles, são os provedores de solução. Em relação à população urbana da Amazônia, como grande parte do Brasil, que é um país muito urbanizado, eu acho que agora as consequências das mudanças do clima estão chegando cada vez mais fortes e nesse sentido a COP é uma oportunidade tanto para a população urbana da Amazônia como a população urbana do resto do Brasil a se conscientizar que a gente não está mais seguro, ao contrário, em relação à população rural. A gente precisa assegurar que as populações que vivem em áreas vulneráveis nas cidades estejam protegidas e que depende muito das nossas atitudes como de transporte, de uso de energia, de consumo nas cidades, que é parte dessa solução ao combate à mudança do clima.
3 - Quais legados a realização do evento deixa para a cidade? E como essas mudanças impactam o meio ambiente?
Ana Toni - O primeiro legado é colocar o Brasil com muita visibilidade, como um grande provedor de soluções climáticas baseadas na natureza, floresta, agricultura e energia. Demonstrar que a gente pode ser um país próspero investindo na nossa natureza e não só tirando da nossa natureza. É a grande oportunidade para o Brasil conseguir captar recursos nacionais e internacionalmente. O Brasil já está muito bem e a gente tem que agora mostrar ao mundo e, logicamente, fazer regulamentações nesta direção.
Em relação à população da Amazônia e à população de Belém, a infraestrutura que está chegando logicamente vai beneficiar a cidade como um todo, mas a gente precisa ter consciência que pode ter impactos também negativos ou populações específicas, em regiões específicas, e isso tem que ser considerado de maneira com muita prioridade para, principalmente, o governo federal e estadual, de forma a assegurar que as populações que podem ser impactadas negativamente também sejam impactadas positivamente. Mas eu espero e acredito que o impacto geral para a cidade de Belém vai ser muito positivo e, consequentemente, para a economia, para o turismo e para colocar Belém no mapa internacional, trazendo investimentos para a cidade e para a região.
4 - Como o agronegócio, um dos setores estratégicos da economia brasileira, pode ser incluído nas ações de combate às mudanças climáticas?
Ana Toni - O setor do agro já faz parte do debate sobre como fazer a transição para uma economia de baixo carbono. Os agricultores estão sofrendo muito com as mudanças do clima e sabem que práticas do passado - seja desmatando ou abrindo novas frentes de exploração - não são sustentáveis e precisam mudar essas práticas. Então hoje em dia já temos agrofloresta, já existem práticas, tem um grande programa no Brasil, o programa ABC, que mostra que os agricultores pequenos, médios e grandes estão precisando, querendo, fazendo parte dessa mudança e são parte da solução também. E querem fazer parte da solução mesmo tendo ainda um grupo pequeno de agricultores que estão fazendo coisas ilegais e tem que ser, logicamente, penalizados para isso, mas o mundo já entendeu que as práticas agrícolas precisam mudar, a gente precisa fornecer alimento de uma maneira sustentável, o agro entende o seu papel nisso e a sociedade também, os consumidores sabem os seus papeis nisso para a gente também poder consumir alimentos mais saudáveis e que venham de produções também mais saudáveis.
5 - Quais as especificidades da COP no Brasil, de que maneira ela pode fazer a diferença no avanço a questões climáticas, como financiamentos, redução de emissão de gases do efeito estufa e de desmatamento?
Ana Toni - O Brasil tem um histórico no tema de mudança do clima. É um dos poucos países que conversa com todos os outros, tem uma diplomacia climática muito robusta. Temos combustível fóssil, renovável, floresta, uma população grande. Então a gente tem dentro do Brasil também um caldo de aprendizado da dificuldade de ter esse caminho e ao mesmo tempo a gente tem muita ambição climática. Eu acho que o Brasil está bem posicionado com uma sociedade civil muito ativa, de a gente ir para uma COP preparado para ter debates difíceis, mas para que a gente avance com soluções. Soluções essas também são muito pragmáticas. O Brasil colocou na mesa, por exemplo, anos atrás, o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). Agora a gente chega na COP 30 com a proposta do TFFF (The Tropical Forest Forever Facility), um instrumento financeiro muito inovador para a preservação e conservação das florestas. Temos outros instrumentos, como o nosso Country Platform, nosso Fundo Clima, o nosso EcoInvest. Ao mesmo tempo que o Brasil tem ambição política na área climática, tem também o pragmatismo de instrumentos econômicos e regulamentação para colocar isso em prática. Eu acho que isso nos qualifica para liderar esse difícil debate que teremos na COP 30.
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