Acordo de Paris: marco global pela sustentabilidade climática
Desafio continua: limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5oC e buscar a neutralidade de carbono até a metade do século
Um acordo internacional firmado diante da crise climática completa dez anos em 2025, marcando um ano crucial para o futuro do planeta. O Acordo de Paris nasceu na 21a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 21, realizada na capital francesa, em 12 de dezembro de 2015. No entanto, só entrou em vigor em 4 de novembro de 2016.
O Acordo foi adotado por 195 Partes. No ato, os países assumiram o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. O principal compromisso é limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5o Celsius. No entanto, outras metas estão elencadas como a de inserir a mitigação e a adaptação no mesmo patamar de importância, além de atingir a neutralidade de carbono até a metade do século.
“Uma outra coisa que é crucial e revolucionário no Acordo de Paris é que foi a primeira vez que se conseguiu colocar todos os países para terem metas. Então, ele tem o grande mérito de não dividir o mundo em países com metas e países sem metas. Tem a chamada abordagem de baixo para cima, onde todos se sentam à mesa de negociação, todos concordam em ter metas, mas cada um vai dizer a meta que vai se colocar, com a maior ambição possível, com os maiores esforços", explica Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.
Mesmo sabendo em 2015 que o Acordo não seria suficiente para limitar o aumento da temperatura, foi criado um mecanismo de revisão de metas a cada cinco anos. As metas devem ser sempre mais ambiciosas, não permitindo retrocessos. Assim, o que for apresentado por um país em 2030, por exemplo, deve ser uma progressão na ambição climática em relação à meta de 2035.
Essa arquitetura flexível permite uma evolução contínua das metas, evitando a desatualização de acordos anteriores. Na prática, Acordo de Paris só vai se esgotar quando seu objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau até 2100 for concluído, mantendo sua vigência durante todo este século.
Evidências de sucesso e desafios atuais
Segundo Estela Herschmann, o Acordo de Paris tem demonstrado sua eficácia. Quando foi assinado, a previsão de aumento de temperatura era de cerca de 4 graus Celsius. Hoje, essa previsão está em torno de 2,5 graus. Isso indica que o Acordo funciona e já conseguiu reduzir significativamente a temperatura prevista, embora ainda não na velocidade necessária.
Outra evidência do sucesso do Acordo é a queda drástica no preço das energias renováveis nos últimos 10 anos, tornando-as mais custo-efetivas do que as energias fósseis. Além disso, a maioria dos países possui políticas nacionais climáticas, e diversas jurisdições nacionais implementaram avanços que não teriam ocorrido sem o Acordo de Paris.
Apesar dos avanços, o que impede muitos países de apresentar metas alinhadas com o objetivo de 1,5 grau são motivos internos, como a falta de apoio nacional e o comprometimento político insuficiente com o enfrentamento da crise climática.
No caso dos países em desenvolvimento, a falta de financiamento climático adequado é um argumento frequente. “Eles questionam como podem ser mais ambiciosos em suas metas se não recebem o apoio financeiro necessário para as metas já existentes. Já nos países desenvolvidos, a principal barreira é a falta de comprometimento político", explica Estela.
A COP 30 e os combustíveis fósseis
A COP 30, em Belém, representa uma oportunidade crucial para impulsionar a implementação e garantir um futuro mais sustentável. Uma de suas maiores contribuições seria tratar da implementação de uma decisão já adotada por consenso há dois anos, na COP 28: a decisão do balanço global de 2023, que fala da transição para longe dos combustíveis fósseis.
Gás, petróleo e carvão são responsáveis por 75% das emissões, e a crise climática não será resolvida sem atacar a causa do problema. Apesar da decisão da COP 28, não houve detalhamento em dois anos, e ela não foi traduzida em metas individuais. Isso ocorre porque a transição para longe dos combustíveis fósseis exige articulação entre os países e deve ser justa, equitativa e equilibrada. “No entanto, a realidade atual é preocupante. As metas apresentadas até agora pelos países, mesmo as mais ambiciosas, não são suficientes, chegando a apenas cerca de 10% da redução necessária. Além disso, existe uma lacuna significativa entre o que é prometido e o que é efetivamente implementado", afirma a especialista em política climática do Observatório do Clima.
A discussão sobre o que significa uma transição justa e equitativa é complexa. Envolve definir quem começará primeiro, quem receberá apoio tecnológico e financeiro, e quem poderá explorar combustíveis fósseis por mais tempo devido à dependência ou ao orçamento de carbono ainda não gasto. “Este detalhamento é um processo complicado que os países têm evitado, mas é o passo mais importante que a humanidade precisa dar. Se a COP 30 conseguir iniciar uma conversa sobre como implementar essa decisão, a humanidade estará mais próxima de reduzir significativamente as emissões e ter a chance de limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau", avalia Stela Herschmann.
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