A resiliência que vem do Marajó

Projeto reúne experiências representativas da Amazônia no campo da adaptação climática liderada por comunidades

Ize Sena / Especial para O Liberal
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As respostas mais potentes para a crise do clima podem ser encontradas nas ilhas e florestas do maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo: o Marajó. É nos municípios de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari que mulheres, quilombolas e jovens agricultores familiares integram saberes ancestrais com tecnologias modernas para combater desafios como secas prolongadas, salinização do solo e erosão costeira.

A iniciativa é do projeto Marajó Resiliente, que reúne experiências representativas da Amazônia no campo da adaptação climática liderada por comunidades. As soluções são construídas a partir da escuta e da vivência cotidiana dos territórios, em especial, os mais vulneráveis aos impactos da crise do clima.

Uma das principais ferramentas do projeto são os Sistemas Agroflorestais Diversificados (SAFs). A técnica combina o cultivo de espécies agrícolas, frutíferas e florestais, imitando a dinâmica da própria floresta amazônica. Entre os benefícios do modelo estão a recuperação ambiental, a produção de alimentos e a geração de renda para comunidades locais, ao mesmo tempo em que conservam o solo, a água e a biodiversidade. 

image Dayse Souza, de Cachoeira do Arari, é uma das multiplicadoras de saberes agroflorestais (Angola Comunicação)

A implantação das primeiras unidades demonstrativas de SAFs fomentou a capacitação de 30 pessoas que se tornaram referências em suas localidades. A ideia do projeto é formar multiplicadores para potencializar os processos de adaptação que já existem nas comunidades e aliar essas técnicas aos conhecimentos técnico-científicos, reforçando a urgência de reconhecer os saberes tradicionais como base da resiliência climática.

Uma dessas multiplicadoras de saberes agroflorestais é a agricultora Dayse Souza Seabra, natural de Cachoeira do Arari. Ela é uma das 30 pessoas que passaram por uma formação ofertada pelo projeto e se tornaram oficialmente 'Multiplicadores de Saberes Agroflorestais’. “Acima de tudo, esse saber, a socialização e essa troca de informações e experiências que eu adquiri vêm ser um elo entre o projeto e a minha comunidade. Quando a gente é multiplicador, a gente também se torna educador, coletivo, e agente da natureza”, define Dayse.

Ela, que conheceu o projeto por meio de um grupo de jovens agricultores, conta os desafios. “O principal desafio que enfrento é o fato de ser mulher, porque muitos agricultores têm aquela resistência de receber informações de uma mulher jovem assim como eu”. Dayse afirma ainda que outro ponto é a dificuldade de efetivar  a transição de uma agricultura tradicional para outro sistema diversificado, “porque alguma parcela dos agricultores ainda têm visão de que essas tecnologias podem não dar certo. A gente percebe que ainda é muito forte a atividade de monocultivo”, pontua.

No entanto, com a força que carrega dos ancestrais marajoaras, Dayse segue em frente valorizando o seu território e estimulando novas lideranças. “Eu percebo que a maioria abraça o projeto, principalmente os benefícios que ele traz para dentro das comunidades, como a distribuição de insumos e assistência técnica”, complementa.

image Projeto incentiva a recuperação ambiental e a produção de alimentos, valorizando a agricultura familiar (Lírio Moraes/ Angola Comunicação)

Com a proximidade da COP 30, em Belém, o Marajó Resiliente busca apresentar a experiência estratégica nos espaços oficiais e paralelos da conferência, demonstrando que é possível construir políticas e ações climáticas enraizadas no território, com protagonismo das comunidades amazônicas.

“A COP 30 é um momento super importante para posicionar o projeto, tanto para apresentar dados, quanto para fomentar discussões em torno da acessibilidade e apoio do financiamento climático às comunidades tradicionais, e também para posicionar os sistemas agroflorestais como possibilidade de enfrentamento às mudanças climáticas como uma medida de adaptação climática”, afirma Lanna Peixoto, coordenadora do projeto pela Fundación Avina.

Para a gestora, a expectativa com a COP 30 é que o Marajó se consolide como um exemplo de que as soluções para a crise climática não virão apenas de grandes acordos internacionais, mas da força, sabedoria e resiliência de quem vive e protege a Amazônia. O projeto, segundo Lanna Peixoto, é um convite para que o mundo olhe para as margens e reconheça que a verdadeira inovação climática está enraizada nas comunidades que mais precisam dela.

Marajó resiliente

O projeto já beneficiou diretamente mais de 1.130 pessoas, sendo 59,2% de mulheres, e outras 14.428 indiretamente, nos municípios de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari, promovendo resiliência climática territorial por meio de ações estruturadas em diálogo com os saberes locais e as urgências climáticas. O projeto envolve 20 comunidades quilombolas locais.

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