Prestes a receber a COP 30, Belém tem desafios para se tornar uma cidade mais sustentável

Especialistas apontam necessidade de investimentos em educação ambiental e em infraestrutura urbana, como saneamento e gestão do lixo

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal
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Próximo de sediar a COP 30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), em 2025, Belém tem uma série de desafios a superar, para se tornar uma cidade mais sustentável. Da gestão do lixo e saneamento ao investimento em arborização, do uso de tecnologias limpas à educação ambiental permanente e para todos, há um longo caminho a ser percorrido. 

Frente a tantos desafios, como construir um caminho para a sustentabilidade na cidade? A equipe de reportagem de O Liberal ouviu a opinião de especialistas na área.

A professora Vanusa Santos coordena o Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Federal do Pará. De acordo com a especialista, ao se falar de cidades sustentáveis, a referência necessária é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. “O ODS 11, ‘Cidades e comunidades sustentáveis’, prevê que é preciso garantir o acesso de todos a habitação segura e aos serviços básicos, como saneamento e limpeza urbana, em que a questão da destinação correta e ambientalmente responsável dos resíduos é um ponto fundamental. Enfim, significa urbanizar as cidades, garantindo todos os serviços essenciais a toda a população”, explica.

Nesse sentido, segundo a pesquisadora, para caminhar para um futuro mais sustentável, Belém precisaria priorizar políticas públicas de infraestrutura, como saneamento básico, sanando o problema dos alagamentos, e implantando o gerenciamento de resíduos sólidos de acordo com preceitos da Economia Circular.

“É preciso incluir os catadores de materiais recicláveis na cadeia dos resíduos, via coleta seletiva. E é preciso também investir em Educação Ambiental contínua. Assim, teríamos uma população mais consciente de suas responsabilidades com o meio ambiente”, destaca Vanusa. 

“Quando falamos em gestão de resíduos, é preciso entender que é necessário responsabilidade compartilhada, com conscientização do produtor, do consumidor e do Estado. A Educação Ambiental é fundamental nesta conscientização, para que estas novas práticas sejam implementadas na cadeia produtiva. As políticas públicas precisam ser claras para diferentes contextos sociais, dando condições para que a Economia Circular seja viabilizada. O município, que é o responsável pela destinação correta dos resíduos sólidos, deve dar suporte aos catadores na implantação da coleta seletiva”, defende a pesquisadora.

Vanusa também aponta para a necessidade de usar mecanismos de desenvolvimento limpo para auxiliar na redução de emissões de gases do efeito estufa. Algumas iniciativas, em Belém, envolveriam o incentivo à utilização de energia solar e eólica; mais investimentos em ciclovias e transporte público, diminuindo o uso do automóvel; e redução do gás metano produzido pelos aterros sanitários ou sua transformação em biocombustível. Além disso, a professora defende ainda o investimento em arborização

Áreas verdes

É justamente esse aspecto, o da arborização da cidade, o abordado por Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. A especialista destaca que é preciso haver planejamento para melhorar a distribuição dos espaços verdes em Belém.

“Temos bairros com alta concentração de área verde e bairros praticamente sem qualquer cobertura vegetal. Nas pesquisas que fizemos, fica clara a importância que a população dá às áreas verdes, porém é preciso que estas áreas tenham manutenção e cuidados”, pontua.

image De acordo com Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, é preciso haver planejamento para melhorar a distribuição dos espaços verdes em Belém (Foto: Marx Vasconcelos | Especial para O Liberal)

A professora aponta ainda que Belém pode investir na agricultura urbana. “É preciso incentivar e organizar a produção de alimentos, aproveitando os quintais e áreas ‘rurais’ e extrativistas nas ilhas. Isso levaria ao barateamento dos produtos para o consumidor, melhoraria a qualidade, com incentivo à produção orgânica, e conservaria a biodiversidade, mantendo sistemas agroflorestais consorciados com a manutenção de áreas com vegetação nativa para exploração extrativista”, esclarece.

De acordo com Marlúcia, uma cidade sustentável precisa ter uma população que acredite e aposte na sustentabilidade. “Isso significa compreender a importância da conservação da biodiversidade no ambiente urbano como oportunidade de renda e manutenção de qualidade de vida. A melhor forma de valorizar a biodiversidade é ter uma convivência contínua com as diversas formas de vida. Uma cidade bem arborizada e com espaços verdes agradáveis e bem distribuídos em todos os bairros certamente irá proporcionar aos cidadãos essa empatia e valorização da biodiversidade”, prevê.

Educação

Mudanças de atitude da população em relação à sustentabilidade passam não apenas pela convivência com a natureza, mas também, e necessariamente, pela educação ambiental. Ludetana Araújo, coordenadora do Grupo de Pesquisa Educação Ambiental na Amazônia, da Universidade Federal do Pará, lembra que esse processo precisa ser contínuo e permanente. 

“É preciso utilizar os meios, as mídias sociais, os espaços como educadores sustentáveis. É preciso que se forme uma nova mentalidade, para se vislumbrar um futuro sustentável. Todos podem contribuir, o coletivo é fundamental. Cada dia mais, a gente vai envolvendo a pessoa, envolvendo o indivíduo, para que ele torne o coletivo mais sustentável. As pessoas precisam entender que, quando fazem o bem, o bem está sendo feito para elas também”, finaliza a pesquisadora.

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