ONU e ministro Jader Filho visitam Barcarena, 1º Centro de Resiliência da Amazônia
Autoridades debateram financiamento para soluções climáticas no município paraense, considerado desde 2023 o primeiro ‘hub’ de resiliência urbana da região amazônica
Representantes do Escritório das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNDRR) e o ministro das Cidades, Jader Filho, visitaram a Escola Municipal Maria Naura Gouvêa do Nascimento, em Barcarena, na manhã desta quinta-feira (13), para discutir a resiliência urbana de infraestruturas amazônicas, financiamento e segurança climática. A visita, que integrou a programação da UNDRR na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), destacou o município por ser o primeiro Centro de Resiliência MCR2030 da região, referência em adaptação climática.
O chefe da UNDRR, Kamal Kishore, e a diretora executiva da UN-Habitat, Anaclaudia Rossbach, acompanharam a visita ao lado do prefeito de Barcarena, Renato Ogawa, e delegações especiais da COP. Barcarena, que se situa na confluência do rio Amazonas com o oceano Atlântico, está exposta a diversos riscos climáticos, como calor extremo, elevação do nível do mar e erosão, o que a torna um ponto estratégico para a discussão de resiliência urbana e segurança climática na Amazônia.
Kishore reforçou a importância da ação local para o sucesso global do clima.
"Essa é exatamente a mensagem que queremos passar: se esta é a COP da implementação, nós precisamos trabalhar com as lideranças locais. O que vemos aqui em Barcarena se torna um exemplo para o país e todo o mundo", destacou o chefe da UNDRR.
A diretora executiva da UN-Habitat, Anaclaudia Rossbach, reforçou o alinhamento das prioridades da organização com os desafios locais, mencionando a importância de conectar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). "A partir dessa conexão, a gente pode contribuir para frear as mudanças do clima. Cada vez mais, a gente descobre a interface entre as cidades e a floresta e a importância de proteger as pessoas", pontuou.
Financiamento é crucial para a resiliência urbana
O ministro Jader Filho destacou a necessidade de se reconhecer a "Amazônia das cidades", onde mais de 80% dos amazônidas vivem. Ele afirmou que a implementação das ações de resiliência é local, mas que o financiamento é o grande gargalo. O ministro usou o exemplo da visita para mostrar como os bons exemplos escolares são uma exceção e que há uma grande necessidade de infraestrutura básica. "Eu posso ir a Belém, a nossa capital, não muito longe daqui, e mostrar escolas que não são esse exemplo visto aqui em Barcarena", lamentou.
O ministro pediu apoio internacional para solidificar a Coalizão para Parcerias Multiníveis de Alta Ambição para Ação Climática (CHAMP) na COP 30, frisando que o Brasil não conseguirá fazê-lo sozinho. A CHAMP é um esforço global para fortalecer a cooperação entre governos subnacionais e nacionais no planejamento, financiamento, implementação e monitoramento de estratégias climáticas. O Brasil é signatário do acordo desde junho de 2024.
Ele ressaltou que a implementação depende do fortalecimento de líderes locais para que fundos climáticos cheguem aonde devem chegar.
"Eu tenho muita esperança que essa possa ser, de fato, a COP da implementação. A gente tem que encontrar uma maneira de financiar os municípios, os estados, as comunidades", concluiu.
Barcarena avança em saneamento e água
O prefeito de Barcarena, Renato Ogawa, informou que o município já está sendo impactado positivamente pela realização da COP 30, que permitiu a antecipação de investimentos em saneamento básico. "A COP é motivo de muito orgulho para qualquer paraense, mas, acima de tudo, ela já trouxe muita coisa boa para os municípios do Pará. Graças ao debate da COP, conseguimos, através do BNDES, com a concessionária de água e esgoto, um financiamento que antecipou investimentos programados para 10 a 15 anos. E até o final deste ano, teremos 90% da área urbana do município com esgoto tratado e 95% com água potável de qualidade na casa das pessoas", celebrou.
Ogawa também citou os próximos grandes desafios de Barcarena.
"Nós temos grandes desafios na mobilidade urbana, cujos investimentos talvez o município não seja capaz de resolver sozinho, por conta do volume necessário. O outro grande desafio do Pará, assim como do Brasil, é o tratamento dos resíduos sólidos. Minha mensagem é que, se eu pudesse reivindicar algo para os municípios na COP, seria que pelo menos cada município do Pará tivesse o seu projeto de tratamento de resíduos sólidos", defendeu.
Na Escola Maria Naura, os alunos apresentaram projetos de sustentabilidade, como tintas e sabão ecológicos, além de demonstrações de energia sustentável com painéis solares e eólicos.
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