Finlândia evita compromisso com fundo de florestas: 'Temo que a resposta seja infelizmente não'
Questionado se essa posição poderia mudar no futuro próximo, o presidente afirmou que sim, mas que essa decisão não cabe a ele
Apesar de afirmar apoiar a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), o presidente da Finlândia, o conservador Alexander Stubb, afirmou que o país não deve colaborar financeiramente - ao menos por ora - com o fundo. "Achamos que o TFFF é uma ótima ideia, mas, se você perguntar se o governo vai investir dinheiro nisso agora, temo que a resposta seja infelizmente não", disse Stubb, ao Estadão. Ele é responsável pela política externa da Finlândia, (quem comanda o governo como um todo é o primeiro-ministro).
Questionado se essa posição poderia mudar no futuro próximo, o presidente afirmou que sim, mas que essa decisão não cabe a ele. "Precisamos do governo (para definir isso), dos ministros das Finanças e do de Comércio e Desenvolvimento para isso." Stubb, um político de centro-direita, reconheceu que Lula ficou decepcionado com a decisão da Finlândia.
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) é a grande aposta do Brasil para a COP-30. Proposto pelo Brasil em 2023, na COP de Dubai, o fundo seria um mecanismo para gerar recursos para pagar quem protege as florestas essenciais para conter o aquecimento global. Por ora, o Brasil anunciou um aporte de US$ 1 bilhão à iniciativa. Já Portugal doará US$ 1 milhão.
Stubb se encontrou por uma hora e 15 minutos com o presidente Lula na quarta-feira, 5, quando o brasileiro teve uma rodada de reuniões bilaterais com diferentes autoridades. Ele reconheceu que Lula ficou decepcionado com a decisão da Finlândia. "É claro que ele gostaria que os países apoiassem o TFFF."
Sobre as dificuldades da União Europeia para se chegar a um acordo para reforçar suas metas de reduzir as emissões, o presidente destacou que interesses nacionais têm sido um problema extra para as ambições climáticas do bloco. "Fico globalmente triste que a agenda climática esteja ficando em segundo plano, porque estamos focando muito em conflitos como a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia, ou Palestina e Israel. Esquecemos a visão mais ampla de que a mudança climática eventualmente será uma causa de conflitos."
A União Europeia se comprometeu a reduzir suas emissões em 90% até 2040 na comparação com 1990, mas com várias concessões. O acordo para isso foi atingido somente na quarta-feira, com um atraso de dois meses. Historicamente, o bloco lidera as regulações e ambições climáticas, mas, nos últimos anos, a ambição europeia perdeu força.
Stubb lembrou que a meta finlandesa é zerar as emissões líquidas de carbono até 2035. Hoje, 95% da eletricidade no país já tem uma fonte limpa. "Acho que estamos indo na direção certa."
Colega de Trump - com quem costuma jogar golfe - o finlandês disse nunca ter conversado com o americano sobre mudanças climáticas.
Defensor de um maior peso para o Sul Global nas discussões multilaterais, o finlandês disse ainda que conversou com Lula sobre a possibilidade de reforma do Conselho de Segurança da ONU. Stubb sugere que se dobre o número de membros permanentes, acrescentando um representante da América Latina, dois da África e dois da Ásia.
"Uma reforma é sempre difícil, mas realmente acho que a América Latina - e presumiria que, neste caso específico, o Brasil - merece um assento no Conselho de Segurança permanente da ONU. E, para ser honesto, quando faço essa exposição na Assembleia Geral da ONU, eu ouço cerca de 188 países aplaudindo e cinco não."
O conservador também defende que se elimine o poder de veto do conselho, que, segundo ele, basicamente impede o funcionamento do órgão. O finlandês afirmou também ser favorável à suspensão do direito a voto de um país caso ele viole a Carta da ONU - "como a Rússia está fazendo agora".
Também na reunião bilateral com Lula, Stubb tratou da guerra entre Rússia e Ucrânia. "Estamos trabalhando juntos (ao Brasil) para tentar encontrar uma paz duradoura e justa para a Ucrânia, porque todos entendemos que essa é uma guerra imperial russa e que a Rússia está violando flagrantemente a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU)."
A Finlândia é um dos países com fronteira com a Rússia e em 2023, em meio à invasão da Ucrânia, entrou para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
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