COP 30 pai d'égua: Cartilha traduz expressões paraenses para o inglês na Green Zone
Material traduzido para o inglês ajuda turistas a entender gírias locais
A "Cartilha Fraseológica Bilíngue COP 30", coordenada pela professora Carlene Salvador, do curso de Letras - Língua Portuguesa da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), será apresentada nesta quarta-feira (19) na Green Zone, espaço aberto ao público da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) no Parque da Cidade. O material busca reduzir barreiras linguísticas e evitar que expressões típicas do Pará gerem estranhamento ou mal-entendidos entre moradores e visitantes.
Segundo a professora Carlene, a iniciativa ajuda o turista a compreender que algumas expressões podem soar estranhas ou até ofensivas em um primeiro contato, mas carregam sentidos lúdicos e culturais. “Muitas vezes as fraseologias têm uma configuração pejorativa e, quando você vai olhar o significado, é só uma variedade. O turista não tem esse contexto para ajudar na interpretação”, explica.
Um dos principais desafios da equipe foi traduzir as unidades fraseológicas para o inglês. A opção foi não traduzir ao pé da letra, mas sim apresentar a definição equivalente. Assim, “pai d’égua” virou “very good!”, enquanto “eu choro!” ganhou a versão “I don’t care”. Já “não te bate” aparece como “don’t give importance”.
Expressões paraenses traduzidas para turistas
Entre as expressões incluídas na cartilha estão “hora da broca”, traduzida como “time to eat”; “dá teus pulos”, apresentada como “solve your problems”; e a clássica “não que não”, que corresponde a “of course”. A cartilha, com 150 fraseologias divididas em oito campos semânticos, foi distribuída em diversos pontos da cidade e também pode ser acessada por QR code. A escolha do termo “cartilha”, em vez de “glossário” ou “dicionário”, é intencional. O material não reúne definições literais, mas oferece contexto e consulta rápida.
“Fraseologias são construções linguísticas formadas por, no mínimo, duas palavras, instituídas pelo uso e pela frequência, e não pedem permissão à gramática normativa para existir. Elas emergem de um contexto social que deve ser valorizado”, afirma Carlene.
Guia acompanha rotina do turista em Belém
A distribuição das fraseologias segue o percurso típico de quem visita Belém, desde a chegada ao aeroporto, deslocamentos, alimentação, diversão e hospedagem. O material reúne expressões usuais no comércio e em situações de convivência, como “Olha a fita desse bicho” (quando alguém está mentindo), “Suave na nave” (tudo bem), “Chegou quem faltava” e “Não morre mais”. Termos como “sumano” e “parente” também são explicados, mostrando que não indicam intimidade, mas funcionam como formas comuns de saudação.
Valorização da fala paraense
Mais de 2 mil unidades fraseológicas foram reunidas ao longo de cinco anos no projeto Banco de dados fraseológicos do estado do Pará. A professora destaca que a fala paraense representa uma variedade da língua portuguesa, moldada por elementos da Amazônia. “Se nós estamos na Amazônia, o que faz parte do nosso léxico? Floresta, ribeirinhos, rios. Essas unidades vão sendo agregadas à nossa fala e isso nos torna particulares, não diferentes dos outros”, explica.
Segundo ela, o estigma sobre variedades não normativas ainda é comum. “O conceito de ‘diferente’ geralmente é vinculado ao não normativo. Isso pode levar à estigmatização, associando variedades de menos prestígio a falantes de áreas periféricas”, diz.
Um dos objetivos do projeto é fortalecer o valor simbólico da fala local, já que muitos moradores não reconhecem a riqueza de sua própria expressão. “A fala é uma memória cultural, uma memória espacial de onde é, de onde ela veio”, conclui Carlene.
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