COP 30 entra na fase decisiva: análise de especialistas aponta impasses e caminhos possíveis
Esta semana chegam a Belém mais de 160 ministros e representantes de Estado de diferentes países
A segunda semana da COP 30 começa com um clima de urgência em Belém, e a chegada de mais de 160 ministros e representantes de Estado de diferentes países. Para o especialista em políticas climáticas Caio Victor Vieira, do Instituto Talanoa, este é o momento mais crítico da conferência: “Estamos discutindo como sobreviver a um mundo mais quente enquanto ainda não abandonamos o petróleo”. Segundo ele, as negociações agora se concentram em duas frentes indispensáveis: o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis e a agenda de adaptação climática, com foco em financiamento, prazos e ações urgentes.
Com os principais diplomatas reunidos, é hora de destravar temas que ficaram pendentes na primeira fase técnica das negociações. O Brasil, que preside esta COP, tenta articular compromissos concretos em torno da revisão das metas nacionais (NDCs), de um mecanismo confiável de financiamento climático e de uma agenda clara para adaptação. Ainda assim, impasses persistem em áreas estratégicas, como o abandono gradual dos combustíveis fósseis e a definição de prazos vinculantes para o aporte financeiro dos países desenvolvidos.
Caio Victor Vieira avalia que os avanços da primeira semana foram significativos, com mais de 60% dos textos encaminhados para consenso, especialmente nas agendas de energia, adaptação e sistemas agroalimentares. Agora, cabe aos ministros “colocar o poder de decisão na mesa” e resolver o que ficou travado, entre eles a criação de um mecanismo institucional para a transição energética justa. Segundo ele, a expectativa é que as discussões sobre o fim dos combustíveis fósseis “tenham, pela primeira vez, uma decisão concreta em plenária”.
Para Gustavo Menon, professor de Relações Internacionais em Brasília (DF), os ministros devem consolidar discussões sobre o roteiro da transição energética e o financiamento climático. Ele destaca que “a meta de alcançar US$ 1,3 trilhão anuais de financiamento parece distante, e o Sul Global deve pressionar por garantias antes de assumir compromissos mais ambiciosos”. O impasse sobre o artigo 9.1 do Acordo de Paris, que prevê recursos dos países desenvolvidos para a ação climática, permanece no centro das divergências.
Já o professor e cientista político Ribamar Braun chama atenção para a chegada de delegações de países emergentes com agendas diferentes sobre comércio e financiamento. Segundo ele, a discussão sobre financiamento climático deve esquentar, dada a pressão dos países em desenvolvimento por mais apoio dos ricos. Ele também aponta contradições no posicionamento brasileiro: “Como cobrar compensação para a conservação se o país planeja ampliar a exploração de petróleo, inclusive na margem equatorial?”
Mesmo com ausências notáveis, como a dos Estados Unidos em nível federal, o ambiente da COP 30 tem demonstrado engajamento. Países como China e União Europeia ampliam seu protagonismo, enquanto propostas como o Fundo Florestal Tropical (TFFF) aparecem como alternativas para canalizar investimentos diretos na proteção da Amazônia. “Mesmo em um cenário global fragmentado, as partes ainda veem este processo como essencial”, afirma Caio Vieira.
Com a temperatura do planeta já 1,2ºC acima da era pré-industrial e eventos climáticos extremos em alta, o recado é claro: esta semana pode definir como e se o mundo ainda conseguirá evitar os piores cenários climáticos. A ciência trouxe os alertas e a sociedade civil ampliou a pressão. Agora, é a vez dos ministros negociarem o que chamou Caio de “última chance de reorientação”.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA