Cientistas paraenses apresentam soluções para a sustentabilidade na COP 30

Projetos desenvolvidos por cientistas locais estão ganhando visibilidade ao apresentar soluções sustentáveis que unem tecnologia, inclusão social e preservação ambiental

Gabi Gutierrez
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Em Belém, na 30ª Conferência das Nações Unidas pelo Clima (COP30), o mundo deleita a culinária e cultura paraense. Mas a capital não tem se destacado apenas como polo cultural e gastronômico, também se consolida como um polo científico e de boas ideias sustentáveis. Os vários espaços da conferência tem sido vitrines de tecnologias e projetos concebidos por pesquisadores paraenses. São estudos que oferecem caminhos reais para um mundo melhor, com soluções que vão da energia renovável à descarbonização.

Entre esses talentos da ciência sustentável está Evelyn Mesquita, estudante da Universidade Federal do Pará e presidente da Enactus UFPA. Ela está à frente do BioLumé, iniciativa desenvolvida dentro da Enactus - grupo de extensão do qual faz parte - e leva energia limpa às comunidades ribeirinhas e em locais remotos da capital através de postes feitos de cano PVC, equipados com placas solares.

Evelyn apresentou o BioLumé na Green Zone, na última quarta-feira (12), após um ano e quatro meses em desenvolvimento. A iniciativa científica já tem mais de 121 postes instalados, beneficiando diretamente cerca de 13 mil pessoas. Os postes sustentáveis já podem ser encontrados também em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

Dispositivo promete reduzir emissões de CO₂ em veículos

Outra pesquisadora paraense que se destacou na COP 30 é Tati Yamamoto, que apresentou seu projeto na sexta-feira (14) na TechZone, no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. Tati é criadora do RHIIRA, um dispositivo de tecnologia amazônica capaz de reduzir em até 96% a emissão de carbono negro e de CO₂ equivalente em veículos a combustão — um avanço significativo num país onde circulam 127 milhões de automóveis movidos a combustíveis fósseis.

A Tati acredita que o dispositivo tem potencial real para enfrentar as mudanças climáticas justamente por atuar onde o problema é mais urgente: na redução das emissões das frotas antigas e altamente poluentes, que ainda representam grande parte dos veículos em circulação no mundo. Só no Brasil, são mais de 127 milhões de automóveis; globalmente, quase 2 bilhões, dos quais apenas 4% são elétricos. Para Tati, tornar essa tecnologia acessível a regiões vulneráveis significa não apenas reduzir o impacto climático, mas também combater desigualdades ambientais.

“Quando você leva uma solução como esta [RHIIRA] para comunidades historicamente mais afetadas pela poluição, você oferece ar mais limpo e contribui para uma transição energética mais justa”, afirma.

Evelyn também aposta alto no seu projeto como peça fundamental para uma transição energética justa. Ela explica que, nas comunidades atendidas até agora, o uso de geradores a diesel era a principal fonte de energia — caros, poluentes e dependentes de combustível fóssil. Por isso, a substituição desses equipamentos pela energia solar se tornou o grande diferencial da pesquisa. “A gente consegue trocar esses geradores pela nossa tecnologia, que é sustentável, ecológica e de baixo custo. Então, está com certeza ligado, conectado a esse combate às mudanças climáticas e às diversas ODSs que a gente trabalha também nesse projeto”, conclui a pesquisadora.

Ela explica que um poste produzido pelo Biolumé custa cerca de R$ 850, enquanto um poste convencional ultrapassa R$ 6 mil. “A lógica da tecnologia sustentável é justamente ser simples e de baixo custo”, afirma.

Parcerias fazem diferença na implementação

Para a jovem pesquisadora, a COP é a oportunidade de mostrar que essas tecnologias existem na Amazônia e que podem ser aplicadas em qualquer lugar. Mas destaca que, mais do que visibilidade, a conferência abre portas para a etapa mais necessária do projeto: financiamento.

“A gente precisa de recursos para expandir. A visibilidade é boa e importante, mas são os parceiros que de fato vão nos permitir ampliar o impacto da nossa iniciativa”, reforça Evelyn.

Yamamoto conta que a expectativa era alta para este momento. Ela diz que vem se preparando há anos — não apenas tecnicamente, mas também emocionalmente — para representar a Amazônia e mostrar que a região também produz tecnologia capaz de acelerar a descarbonização global com soluções reais e imediatas.

Assim como Evelyn, para Tati a conferência do clima é também uma oportunidade de buscar apoio financeiro para fortalecer e ampliar suas pesquisas. Segundo ela, o reconhecimento internacional é importante, mas não suficiente. Para que o desenvolvimento e a produção do dispositivo ganhem escala, é necessário atrair parceiros que compreendam o potencial global do projeto.

“Nosso objetivo é justamente conectar a inovação amazônica a investimentos que permitam escalar o impacto, levar o dispositivo para mais países e desacelerar a carbonização em larga escala”, afirma Yamamoto.

 

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