Casa da Ciência na COP 30 é inaugurada com apelo à integração entre ciência e saberes tradicionais
O espaço fica no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, e terá mais de 40 eventos ao longo de dez dias, incluindo palestras, painéis e mesas-redondas sobre iniciativas tecnológicas, sociais e ambientais desenvolvidas na Amazônia
A “Casa da Ciência”, que fica no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, foi inaugurada na terça-feira (11/11). Ela terá mais de 40 eventos ao longo de dez dias, incluindo palestras, painéis e mesas-redondas sobre iniciativas tecnológicas, sociais e ambientais desenvolvidas na Amazônia, e é um dos principais pontos científicos da COP 30. Durante cerimônia nesta quarta-feira (12/11), que contou com a participação do diretor do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), Nilson Gabas Júnior, Thelma Krug, coordenadora do Conselho Científico para o Clima da COP 30, disse que a crise climática exige ação imediata. Além disso, ela pontuou que a ciência, tanto a formal quanto a tradicional, deve estar no centro das decisões.
A palestrante apresentou dados alarmantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), enfatizando que cada 0,1°C de aquecimento global resulta em impactos substancialmente maiores. Ondas de calor mais longas e mortais, incêndios florestais mais frequentes e intensos, deficiências na disponibilidade de água, declínio na produtividade agrícola e elevação do nível do mar são consequências esperadas que aumentarão em frequência e intensidade.
O alerta mais crítico recai sobre a própria Amazônia. Segundo modelos científicos citados por Krug, caso o desmatamento alcance 20-25% e o aquecimento global chegue a 2°C, a floresta atingirá seu ponto de não retorno. Nesse cenário, cerca de 70% da floresta se autodegradará em 30 ou 50 anos, liberando mais de 250 bilhões de toneladas de CO₂ na atmosfera e causando perda irreparável de biodiversidade.
“Zerar o desmatamento não evitará que a floresta seja afetada pelos impactos da mudança do clima”, advertiu Thelma Krug, lembrando que, em 2024, a Amazônia vivenciou um aumento alarmante de incêndios florestais, com efeitos devastadores sobre biodiversidade, ecossistemas e comunidades indígenas.
Presença indígena na floresta
Um dos pontos centrais da palestra foi o reconhecimento do conhecimento científico dos povos indígenas. Krug destacou que esses povos chegaram à Amazônia há 14 mil anos e desenvolveram sistemas de conhecimento que sempre protegeram a floresta, utilizando mais de 2.300 produtos da biodiversidade e criando sistemas agroflorestais.
“O conhecimento científico desses povos não substitui, mas complementa a ciência do Ocidente, detectando alterações ambientais antes mesmo de serem observadas por instrumentos científicos tradicionais”, explicou a coordenadora do Conselho Científico para o Clima da COP30, ressaltando que os indígenas observam elementos não monitorados pela ciência convencional, como comportamento de espécies específicas e mudanças fenológicas sutis.
O IPCC reconhece que os povos indígenas, representando cerca de 6% da população mundial, desempenham papel crucial na luta climática por sua relação particular com a terra e por possuírem conhecimento ecológico tradicional relevante para encontrar soluções. Iniciativas de adaptação baseadas em conhecimentos e práticas indígenas são mais sustentáveis e legítimas entre as comunidades locais, segundo a avaliação do painel.
Museu produz ciência há quase 160 anos
A escolha do local para ser a Casa da Ciência não foi casual. O Museu Paraense Emílio Goeldi, carinhosamente chamado de “o Museu”, é a instituição científica mais antiga da Amazônia e celebra, no próximo ano, seu 160º aniversário, produzindo ciência sobre a Floresta Amazônica, sempre valorizando o conhecimento dos povos indígenas.
Nos próximos dez dias, a Casa da Ciência promete demonstrar, por meio de exemplos concretos, como parcerias eficazes e respeitosas entre pesquisadores indígenas e não indígenas podem aprimorar significativamente o planejamento e as ações de adaptação climática na região.
A mensagem final de Thelma Krug foi de urgência temperada com esperança: a ciência indica caminhos claros para evitar a catástrofe climática, mas o tempo para agir está se esgotando. A integração entre conhecimento científico formal e tradicional pode ser a chave para preservar não apenas a Amazônia, mas o equilíbrio climático de todo o planeta.
Veja a programação completa
Quinta-feira (13/11)
- Palestra Magna, às 9h: Open Data: The Brazilian Experience, com a participação de Marcos Antonio Chamon (AEB).
- Mesa redonda 1, às 9h30: "Space technology-based solutions: how to integrate internacional efforts for climate mitigation?" Com a moderação de Márcia Alvarenga dos Santos (AEB) e participação de Aboubakar Mambimba Ndjoungui (AGEOS), Frank Martin e Clemente Mathieu Jacques (ESA), Chris Chilcott (CSIRO) e representante da UKSA.
- Mesa redonda 2, às 10h50: Space, Technology and Innovation: Space-Based Solutions for Environmental Monitoring. Com moderação de Leila Fonseca (AEB) e participação de Cesar Guerreiro Diniz, Rafael Campos Mordente, Antonio José Ferreira Machado e Silva, Heitor Eduardo Ferreira Filpi, Sarita da Cunha Marques Severeien (Suzano).
- Palestra Magna, às 14h: Os Desafios da Transição Energética para o Brasil Sustentável. Com participação de Daniel Gomes de Almeida Filho (MCTI) & Rafael Lucchesi (TUPY).
- Mesa redonda 1, às 14h30: Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira. Moderação: Daniel Gomes de Almeida Filho (MCTI). Participantes: Clovis Zapata (UNIDO), Rogerio Meneghetti (ITAIPU), Felipe Marques (CIBiogás), Ana Paula Bernardes (FESPSP).
- Mesa redonda 2: Combustíveis Sustentáveis / SAF e Hidrogênio. Moderação: Sérgio Peres Ramos da Silva (UPE). Participação: Tassia Lopes Junqueira (CNPEM), Lilian Melo Barreto (Petrobras), Laís Forti Thomaz (MME).
Sexta-feira (14/11)
- Palestra Magna, às 9h: Impacto potencial da produção agrícola frente às mudanças climáticas no Brasil: padrões e implicações atuais, futuras e oportunidades. Com participação de Eduardo Assad (FGV).
- Mesa redonda, às 9h30: Mudanças climáticas e impactos na produção de grãos. Moderação: Eduardo Assad (FGV). Participação: Antônio Márcio Buainain (UNICAMP), Carlos Eduardo Cerri (Esalq), Alessandro Carioca de Araujo (Embrapa), José Francisco de Carvalho Gonçalves (INPA).
- Painel, às 14h: Energy Transition: Offshore Renewables. Participantes: Segen Estefen (INPO), Prof. Yasuyuki Ikegami (Saga University, Japan) e Ms. Amisha Patel Global Offshore Wind Alliance (GOWA).
- Mesa redonda 1, às 14h30: Economia Azul e Mudanças Climáticas. Moderação: Andrei Polejack (INPO). Participação: Flávio Andrade (Oceanpact), Claire Jolly (OCDE), Nabil Kadri (BNDES), Michelle Voyer (UOW).
- Mesa redonda 2, às 16h: O legado do Oceans20 no âmbito do G20 Social e potenciais futuras contribuições no enfrentamento às mudanças do clima. Moderação: Janice Trotte-Duhá (INPO). Participação: Gilbert Siko (IOC), Kilaparti Ramakrishna (Woods HOI), Erik Giercksky (ONU).
- Mesa redonda 3, às 17h: Ciência e Cultura Oceânica como agentes de transformação para a crise climática. Moderação: Leandro Pedron (INPO). Participação: Fabio Eon (UNESCO), Ronaldo Christofoletti (UNIFESP), Marinez Scherer (UFSC), Thauan dos Santos (UFRJ).
Segunda-feira (17/11)
- Palestra Magna, às 9h: Contribuições da Amazônia ao combate às mudanças climáticas. Com Marilene Correa (UFAM).
- Mesa redonda 1, às 9h30: Adaptações às Mudanças Climáticas – Soluções baseadas na natureza. Moderação: Marlucia Martins (MPEG). Participação: Jean Ometto (INPE), Arnaldo Carneiro (OTCA), Ayan Santos Fleischmann (IDSM), Fernanda Wernech (INPA), Everaldo Souza (UFPA).
- Mesa redonda 2, às 11h: Justiça climática nos territórios amazônicos, enfocado em populações tradicionais, impactos de eventos extremos e conhecimento tradicional e científico. Moderação: Dorival da Costa dos Santos (MCTI). Participação: Laercio Namikawa (INPE), Vinícius Zanatto (IDSM), Claudia López-Garcés (MPEG) e João Valsecchi (IDSM).
- Palestra Magna, às 14h: Vulnerabilidades do bioma Amazônico. Com Philip Fearside (INPA).
- Mesa redonda 1, às 14h30: Biodiversidade e restauração ecológica. Moderação: Alessandra Gomes (INPE). Participação: Danielle Celentano (ISA), Emiliano Ramalho (IDSM), Sâmia Nunes (ITV), Rogério Gribel (INPA).
- Mesa redonda 2, às 16h: A Comunicação Científica Amazônica no combate ao negacionismo climático. Moderação: João Valsecchi (IDSM). Participação: Luiza Magalli Pinto Henriques (INPA), Mayara Larrys Nogueira (MPEG), Sue Costa (MPEG), Angelo Martins Junior (Univ. Birmingham).
Terça-feira (18/11)
Palestra Magna, às 9h: Projeção dos Impactos Climáticos nos Biomas Brasileiros. Com Adalberto Val (INPA).
Mesa redonda 1, às 9h30: A Biodiversidade no Desenvolvimento da Bioeconomia. Moderação: Bruno Nunes (MCTI). Participação: Edel Moraes (MMA), Danilo Fernandes (UFPA), Braunilia Aurora (Povo Baniwa), Davila Suellen Souza Correa (IDSM).
Mesa redonda 2, às 10h30: A Bioeconomia como Impulsionadora da Neoindustrialização e da Transformação Ecológica da Economia Brasileira. Moderação: Henrique Vasquez (Finep). Participação: Mario Murakami (CNPEM), Julia Cruz (MDIC), Marcelo Poppe (CGEE), Lara Ramos (WTT).
Palestra Magna, às 14h: A Contribuição da Ciência para as políticas nacionais da mudança do Clima. Com Mercedes Bustamante (UNB).
Mesa redonda 1, às 14h30: O papel da ciência para as políticas de mudanças climáticas. Moderação: Osvaldo Moraes (MCTI). Participação: Aloisio Lopes de Melo (MMA), Virginia de Ângelis (MPOG), Pedro Ivo (MRE), representante da RNP (a confirmar).
Mesa redonda 2, às 15h30: Papel das Instituições de Ensino Superior no Enfrentamento das Mudanças Climáticas. Moderação: Marília Pimentel (UNIR). Participação: Jorge Audy (ABRUC), José Ticianelli (UFRR), Cicilia Raquel Maia Leite (UERN), Ana Paula Palheta (IFPA).
Quarta-feira (19/11)
Palestra Magna, às 11h: Os efeitos das mudanças climáticas no processo de desertificação e degradação do solo. Com Yasmine Fouad (UNCCD).
Mesa redonda, às 12h: Terras secas: impactos sociais e econômicos das mudanças climáticas nos territórios brasileiros e da América Latina. Moderação: Inácio Arruda (MCTI). Participação: Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins (Funceme), Cesar Moralles (CEPAL), Francisco Do O' Lima (Univ. Reg. Cariri), Haroldo Almeida (ASA), Jean-Luc Chotte (IRD).
Palestra Magna, às 14h: Diplomacia Científica para o Desenvolvimento Sustentável. Com Carlos Eduardo Higa Matsumoto.
Mesa redonda, de 14h30 às 17h: Clima e Biodiversidade Amazônica. Moderação: Adriana Thomé (MCTI). Participação: parte 1 - Henrique dos Santos (INPA), Émilie Coudel (CFBBA), Sonke Saehle (ATTO), Richrad Bett (Amazon Face). Parte 2 - Lu Xi (CBERS), Alexander Turra (IAI), Antonio Miguel Monteiro (INPE), Vanessa Grazziotin (OTCA).
Quinta-feira (20/11)
Palestra Magna, às 9h: Emergência Climática, Segurança Hídrica E Gestão Adaptativa. Com Suzana Montenegro (APAC).
Mesa redonda, às 10h: Extremos Climáticos e Impactos nos Recursos Hídricos no Brasil. Moderação: Suzana Montenegro (APAC). Participação: Eduardo Mario Mendiondo (USP), Eduardo Sávio Martins (Funceme), Paulo Pontes (ITV), Ronaldo Mendes (UFPA).
Palestra Magna: Mudanças Climáticas e Saúde Mental. Com Flavio Pereira Kapczinski (UFRGS).
Mesa redonda, às 15h: Mudanças Climáticas e Saúde. Moderação: Célia Regina da Silva Garcia (USP). Participação: Bruno Caramelli (USP), Lívia Casseb (MS), Cintya Souza (MS), Giselle Maria Rachid Viana (MS), Tânia do Socorro Souza Chaves (MS), Irene Soares (USP).
Sexta-feira (21/11)
Palestra Magna, às 9h: Os Desafios na Ciência das Mudanças Climáticas. Com Paulo Artaxo (USP).
Mesa redonda, às 9h30: Estratégias de mitigação e adaptação climática viáveis do ponto de vista da ciência. Moderação: Aldenize Xavier (UFOPA). Participação: Márcia Barbosa (UFRGS), Moacir Araújo Filho (UFPE), Dácio Roberto Matheus (UFABC), Christiano Peres Coelho (UF Jataí).
Painel Científico da Amazônia, às 14h: Assessment Report. Carlos Nobre (PSA) e Emma Torres (PSA).
Mesa redonda 1, às 15h: Como Aumentar Nossa Resiliência e os Avanços Tecnológicos. Moderação: Jorge Audy (ABRUC). Participação: Francisco Ribeiro da Costa (UNIFESSPA), Fernando Rizzo (CGEE), Airton Sieben (UFNT).
Mesa redonda 2, às 16h: Como Envolver as Populações Locais e as Tecnologias Sociais no Enfrentamento das Mudanças Climáticas. Moderação: Sandra Goulart Almeida (UFMG). Participação: Gilmar Pereira da Silva (UFPA), Francisco Do Ó Lima (Univ. Reg. Cariri), Giorgina Gonçalves dos Santos (UFRB)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA