Beto Faro afirma que COP 30 será um teste para a diplomacia climática latino-americana
A menos de 100 dias da COP 30, líderes expõem distância entre discurso e ação climática

O senador Bato Faro (PT/PA), afirma que, por mais nobres que sejam as intenções das cúpulas internacionais sobre o clima e por mais atraentes que pareçam termos como “transição justa”, “financiamento climático” e “integração regional”, o verdadeiro desafio não se resolve em auditórios, mas sim no “terreno árido da política”. É ali, segundo o parlamentar, que decisões custam caro, afetam setores econômicos poderosos e exigem escolhas impopulares.
A menos de cem dias da COP 30, esse contraste, segundo Faro, ficou evidente na reunião desta quarta-feira (6), no Senado. A II Cúpula Parlamentar sobre Mudança Climática e Transição Justa da América Latina e do Caribe, organizada pela Cepal e liderada por parlamentares brasileiros, buscou aproximar intenção e execução. Sob o tema “33 anos depois da Cúpula da Terra, 20 do Protocolo de Quioto, 10 do Acordo de Paris”, o encontro trouxe uma pergunta: afinal, o que realmente foi implementado ao longo dessas décadas?
A secretária de Mudança do Clima, Ana Toni, que participou de forma virtual, defendeu que a COP 30 precisa deixar um legado em três frentes: global, nacional e local. Para ela, o arcabouço jurídico já consolidado pelo Acordo de Paris deve, finalmente, ser convertido em políticas públicas efetivas. O entrave, segundo reconhece, está no verbo “implementar”, onde o discurso costuma tropeçar na prática.
O presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, apresentou uma agenda ambiciosa baseada em cinco pilares, mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação, que ele compara às “estrelas do Cruzeiro do Sul”. Contudo, alertou que o maior desafio é conquistar corações e mentes para a transição justa. De forma diplomática, admitiu o que muitos evitam dizer: sem medidas compensatórias, a transição energética pode gerar desemprego, distorções de mercado e tensões sociais, como mostram as mobilizações de agricultores na Europa e os impactos sobre trabalhadores da indústria fóssil no Sul Global.
O senador Jaques Wagner reforçou que “não há transição justa sem financiamento adequado”, lembrando a nova meta de US$ 300 bilhões anuais para países em desenvolvimento até 2035, um valor muito abaixo da necessidade real, estimada em US$ 1,3 trilhão por ano. A diferença entre o que se anuncia e o que efetivamente se desembolsa, disse, continua “ensurdecedora”.
Participando a distância, enquanto se recupera de uma pneumonia, o senador Beto Faro avaliou que a COP 30 será um teste de fogo para a diplomacia climática latino-americana. “Mais do que uma conferência, a COP será um chamado da Terra que já não pode esperar”, declarou.
Faro também destacou que, diante das críticas sobre a infraestrutura de Belém, é preciso compreender que a capital paraense não representa uma Amazônia idealizada, mas sim a Amazônia real, marcada por lutas históricas por direitos básicos e por exclusão das agendas nacionais. Para ele, sediar a COP significa encarar de frente as desigualdades concretas que atravessam a crise climática.
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