Ausência dos EUA nas negociações climáticas é criticada pelo presidente da COP 30
O país não esteve presente nas discussões preparatórias realizadas em Bonn, reuniões que antecedem a conferência do clima

André Corrêa do Lago, embaixador e presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), afirmou que a guerra comercial dos Estados Unidos, os conflitos militares e o crescimento da direita nas eleições europeias estão comprometendo as ambições das negociações para a conferência climática. A assertiva foi dita durante uma entrevista publicada no último domingo, 20, pela Folha de S.Paulo. Aparentemente, a articulação com o governo norte-americano permanece difícil, já que o mesmo não esteve presente nas discussões preparatórias realizadas em Bonn.
“As negociações evoluem muito de acordo com as circunstâncias internacionais, e não preciso dizer que vivemos circunstâncias internacionais particularmente complexas”, declarou o presidente da COP 30 sobre o cenário atual.
A ausência dos Estados Unidos nas negociações está ocorrendo depois que Donald Trump anunciou a saída do país do Acordo de Paris, em 2017. Este tratado estabelece metas contra o aquecimento global e foi elaborado para incluir o país norte-americano, que não participou do Protocolo de Kyoto.
A retirada dos EUA representa um obstáculo para as discussões, considerando que o país ocupa a 2ª posição em emissões de gases de efeito estufa e lidera o ranking histórico de emissões. A conferência em Belém será a 1ª a ser sediada pelo Brasil sobre mudanças climáticas desde a Rio-92.
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Um dos principais objetivos da COP 30 será apresentar o “roadmap”, documento que o Brasil e Azerbaijão devem elaborar para indicar como o mundo poderá alcançar US$ 1,3 trilhão (R$ 7,2 trilhões) em financiamento climático. Este valor é considerado necessário pelos países em desenvolvimento para enfrentar a crise climática.
A meta atual de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão), aprovada na COP 29 no Azerbaijão, ficou abaixo do esperado. Esta insatisfação levou alguns países a tentarem reabrir as negociações sobre financiamento durante o encontro preparatório em Bonn, na Alemanha, em junho de 2025, paralisando as discussões por 2 dias.
Apesar da ausência do governo federal americano, 37 Estados dos Estados Unidos manifestaram intenção de seguir o Acordo de Paris. “Eles vão ter uma participação importante, são 37 Estados americanos que pretendem seguir o que é decidido no Acordo de Paris, e esse grupo representa cerca de 70% do PIB americano”, disse o embaixador.
Sobre a ausência do país nas negociações, do Lago questiona se isso beneficia outras nações: “Ganha espaço, mas com a ausência de um ator muito importante. É uma vitória discutível”. Ele também criticou Trump por impor investigações comerciais contra o Brasil.
Em relação à redução do uso de combustíveis fósseis, Corrêa do Lago lembrou que o termo “transitioning away” já foi aprovado na COP28. “É importante lembrar o seguinte: o ‘transitioning away’, ou seja, a famosa frase para nos afastarmos dos fósseis, já foi aprovada por consenso em Dubai”, afirmou.
Quanto à China e União Europeia, outros dois grandes emissores globais, o presidente da COP30 disse que ambos ainda não apresentaram suas novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).
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