Após protesto na COP 30, ministras anunciam novos passos sobre terras Munduruku
Sônia Guajajara e Marina Silva anunciaram, nesta sexta-feira (14/11), os próximos passos para a regularização territorial e para as demandas urgentes apresentadas pelo povo Munduruku
Após um protesto pacífico realizado na entrada principal da Zona Azul da COP 30, em Belém, as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) anunciaram, nesta sexta-feira (14/11), os próximos passos para a regularização territorial e para as demandas urgentes apresentadas pelo povo Munduruku.
Guajajara confirmou que a Terra Indígena Sawré Muybu avançou para a fase de demarcação física pela Funai, enquanto a Terra Indígena Sawre Ba’pim aguarda a assinatura da portaria declaratória pelo Ministério da Justiça. Marina Silva informou que não há licenciamento da Ferrogrão em análise no Ibama e que encaminhará ao Ministério dos Transportes a demanda dos indígenas sobre a privatização das hidrovias no Tapajós.
Sônia Guajajara classificou a manifestação como legítima e detalhou a situação das áreas reivindicadas. “O processo demarcatório do Sawré Muybu já foi assinado pelo ministro [Ricardo] Lewandowski, ainda no ano passado. Está agora com a Funai, que já está contratando uma empresa para fazer o processo da demarcação física, que é a instalação dos marcos”, afirmou. Sobre Sawre Ba’pim, explicou que o processo permanece no Ministério da Justiça aguardando portaria declaratória.
Guajajara também destacou a ampliação histórica da presença indígena na COP30. Segundo ela, 360 lideranças estão credenciadas para acompanhar as negociações na Zona Azul, sendo 150 de povos amazônicos. “Lógico que não houve ali a contemplação de todos os povos da Amazônia, uma vez que é uma diversidade imensa. [Mas] a Alessandra [Munduruku] está credenciada na zona azul. Ela está representando os Mundurukus nesse credenciamento. A gente conseguiu ampliar pela primeira vez na história a participação indígena. Essa participação nunca houve na história das COPs”, afirmou.
Já Marina Silva afirmou que não há pedido de licenciamento da Ferrogrão em análise: “Esse processo está judicializado. Quando foi apresentado o EIA/RIMA, estava muito ruim, o Ibama devolveu. Desde então, não foi reapresentado, mas a preocupação deles continua e é uma preocupação legítima.” Em relação ao decreto de privatização das hidrovias, disse que enviará a demanda ao Ministério dos Transportes.
O encontro entre as lideranças e as ministras ocorreu em um edifício anexo ao Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA), próximo à Zona Sul da conferência, após o ato que retardou a entrada de parte dos participantes, mas sem registro de incidentes. Participou também o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, que classificou o diálogo como “muito construtivo, muito positivo” e afirmou ter recebido formalmente dois documentos entregues pelos Munduruku. “Vamos procurar levar adiante todas as preocupações que eles têm”, disse.
As lideranças Munduruku reivindicam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revogue o Decreto nº 12.600/2025, que prevê a privatização de empreendimentos hidroviários federais — inclusive no Rio Tapajós — e denunciam os impactos da Ferrogrão, ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará. Segundo o movimento, o projeto ameaça modos de vida tradicionais e pressiona territórios indígenas.
Em nota, o Movimento Munduruku Ipereg Ayu afirma que o corredor Tapajós–Arco Norte é um dos principais vetores de avanço do agronegócio sobre a Amazônia, citando dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O povo também critica negociações climáticas globais que, segundo eles, tratam florestas nativas como ativos de crédito de carbono. Cartazes traziam frases como “Nossa Floresta não Está à Venda” e “Não Negociamos a Mãe Natureza”.
A liderança Alessandra Munduruku reforçou o pedido de audiência com o presidente Lula: “A gente quer uma resposta do Lula, principalmente [sobre] o decreto.” Ela destacou que a comunidade precisa ser consultada antes de qualquer decisão: “A gente precisa ser mais ouvido, precisa ser mais consultado dentro do território. Eu não posso falar pelo meu povo sozinha, eu tenho que consultar meu povo, sempre foi falado isso. A decisão é coletiva”.
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