Amazônia abriga o maior aquífero do mundo, com água para 250 anos de consumo global

Estudo da UFPA mostra que aquífero amazônico pode abastecer a população mundial por séculos

Gabriel Pires

Com capacidade para abastecer a população mundial por 250 anos, o maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta está na Amazônia. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificaram o Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga), que concentra mais de 150 quatrilhões de litros de água - volume suficiente para suprir toda a população mundial por dois séculos e meio e inclusive abastecer regiões do Pará. Localizado em sua maior parte no Brasil, onde ocupa cerca de 75% da extensão total, perpassando também o território do Pará, o Saga supera o Aquífero Guarani em volume e dimensão.

Fruto de uma tese de doutorado, o estudo sobre o Saga foi orientado pelo professor - atualmente aposentado - da UFPA, Francisco de Abreu, e desenvolvido por André Montenegro Duarte, que teve como objetivo inicial quantificar os recursos hídricos da Amazônia. O reservatório subterrâneo de água possui 162.000 km³, superando em quatro vezes o Aquífero Guarani, até então considerado um dos maiores da América do Sul, com 39.000 km³, como explica o professor Francisco. “Um aquífero é um sistema geológico que não só armazena, mas também produz água. Começamos a estudá-lo com o interesse inicial de quantificar os recursos hídricos da Amazônia”, afirma Francisco.

“O Saga ocupa uma área de aproximadamente 1,35 milhão de quilômetros quadrados, dimensão quase equivalente à do estado do Pará, que tem cerca de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. A formação se estende desde a Cordilheira dos Andes até a Ilha do Marajó, atravessando regiões como Manaus, Parintins e Santarém ao longo de seu percurso. A cobertura do Saga no Pará abrange aproximadamente 30% a 35% da área total do estado. Mas toda a região do Pará não possui o sistema da Grande Amazônia”, afirma.

Apoio financeiro

Enquanto o Aquífero Guarani recebeu 25 milhões de dólares para estudos, o Aquífero Saga nunca obteve apoio financeiro de nenhuma instituição, apesar de sua importância estratégica para o Brasil e a América do Sul, como explica o professor. O reservatório foi descoberto há mais de 10 anos. E, às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), o debate sobre a importância dos recursos hídricos ganham mais força.

A descoberta do Saga ressalta a imensa riqueza hídrica da Amazônia, como explica o professor, e levanta questões importantes sobre a gestão e conservação desses recursos vitais para o planeta. A compreensão da dimensão e do funcionamento desse aquífero será fundamental para futuras políticas de desenvolvimento e proteção ambiental na região. “Toda a água visível na Amazônia, presente em rios e nuvens, corresponde a 16% do ciclo hidrológico. Os 84% restantes são águas subterrâneas, sendo os aquíferos, como o Saga, os mais importantes”, observa Francisco.

“Se todo o volume de água do Aquífero Saga fosse armazenado em um único reservatório, e considerando que a população mundial de 9 bilhões de habitantes consumisse 150 litros de água por dia cada, esse reservatório poderia abastecer a humanidade por um período de 250 a 300 anos”, explica o professor.

Essa água que sustenta a floresta amazônica desempenha um papel crucial para o Brasil em níveis social e econômico. Por meio de um processo de evaporação e evapotranspiração, a Amazônia transfere uma média de 8 quatrilhões de litros de água por ano para as regiões Centro e Sul do país, conforme explica o professor. Essa quantidade de chuva é o pilar que sustenta o agronegócio brasileiro, setor responsável por parte do Produto Interno Bruto (PIB).

Serviço ecossistêmico

Para o professor, a Amazônia oferece um serviço ecossistêmico crucial, assegurando tanto a produtividade econômica quanto a segurança hídrica. A água subterrânea, por sua vez, desempenha um papel fundamental no abastecimento urbano. “O Saga possui valor ecossistêmico, pois sustenta grande parte da economia do Brasil e da América do Sul. Além disso, algumas cidades, como Santarém e Parintins, dependem significativamente da água subterrânea para o abastecimento humano. Em Belém, aproximadamente 35% a 40% da água distribuída na região metropolitana provém dos aquíferos subterrâneos”, detalha.

Ciclo hidrológico

Em meio a isso, o professor lembra que a importância do Saga se conecta ao ciclo hidrológico amazônico também é de suma importância, pois ele contribui com 70% dos reservatórios que geram energia elétrica no Brasil. A remoção da floresta, que já atinge cerca de 18% a 20% da Amazônia, intensifica as cheias e diminui a infiltração da água no solo. Quando a floresta é retirada, a água da chuva cai diretamente no solo e chega rapidamente aos rios, causando grandes cheias.

Além disso, a infiltração, por sua vez, é crucial porque libera lentamente a água subterrânea para os rios, mantendo-os ativos mesmo durante períodos de seca. É fundamental manter o equilíbrio da relação floresta-água para controlar as cheias e garantir o abastecimento contínuo dos rios ao longo do ano.

“A água subterrânea tem um grande potencial para sustentar o abastecimento em cidades, podendo ser utilizada para consumo humano, para a indústria e para a população em geral. Os tomadores de decisão ainda não têm uma percepção clara da importância do que isso significa, não apenas para o abastecimento da cidade, mas para a questão fundamental do equilíbrio”, acrescenta o pesquisador.

SOBRE O SISTEMA AQUÍFERO GRANDE AMAZÔNIA (SAGA)

O que é:

Contém mais de 150 quatrilhões de litros de água, suficientes para abastecer a população mundial por 250 a 300 anos.

Supera o Aquífero Guarani em volume e dimensão.

Localização e extensão:

Ocupa uma área de 1,35 milhão de km² — quase o tamanho do estado do Pará.

Estende-se da Cordilheira dos Andes até a Ilha do Marajó.

Passa por regiões como Manaus, Parintins e Santarém.

75% de sua extensão está em território brasileiro.

No Pará, cobre cerca de 30% a 35% da área total do estado.

Capacidade e comparação:

Volume total: 162.000 km³.

É quatro vezes maior que o Aquífero Guarani (39.000 km³).

Representa 84% das águas subterrâneas da Amazônia — os rios e nuvens respondem por apenas 16% do ciclo hídrico.

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