CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Conheça os moradores que interditaram por 43 horas a Rua dos Comerciários

Durante três dias, Mário Covas ficou bloqueada. Prefeitura de Belém promete reunião para a próxima terça-feira (11)

Dilson Pimentel
fonte

"Pela minha idade, não era para eu estar ali. Né, verdade?". A declaração é da pensionista Persides Moreira de Souza, de 64 anos. Ela mora há 23 anos na rua dos Comerciários, no bairro da Cabanagem, via que precisa de saneamento básico. Para pressionar as autoridades a executar serviços de drenagem e pavimentação, iniciados em 2015, e ainda não concluídos, os moradores começaram um protesto no dia 3 de junho que perdurou por vários dias.

Muitos dormiram na rua, ao relento, como foi o caso de Persides, mais conhecida como dona Preta. No total, foram três dias consecutivos de fechamento de um trecho da Avenida Mário Covas, bem no cruzamento que dá acesso àquela rua, em Ananindeua - mas a rua fica na área de jurisdição da Prefeitura de Belém. Ao todo, foram 43 horas de protestos e de interdição. "A gente não sabia nem o que era  tomar um banho. A gente ficava lá mesmo, não queria sair de lá. Não era confortável", disse a pensionista. "Pra mim, foi um esforço. E se eu puder fazer mais....", contou.  

Dona Preta disse que é muito difícil morar em uma rua precária. "Ainda mais com crianças. Tenho muitos netos. Cansei de levar meus netos no colo, porque as mães trabalham, para a escola, para eles não pisarem na água. Às vezes, levava uma garrafinha de água. E, quando chegava na frente da escola, lavava os pezinhos deles", contou. O pedreiro Arquimino Ribeiro tem 42 anos e mora na rua há 22. É uma das lideranças da comunidade. Participando ativamente dos protestos, ele também dormiu na rua, durante os três dias de protesto. "Dormir, dormir a gente não dorme. Fica conversando, tomando cafezinho e aguardando uma posição (da prefeitura)", contou.

image Arquimimo mostra a quantidade de documentos que já foram protocolados na Prefeitura de Belém (Igor Mota / O Liberal)

Para lutar por melhorias para a sua comunidade, ele contou que deixou seu trabalho em segundo plano. "Tem obra (de construção civil) parada", afirmou. "São três dias nessa luta. Três dias sem sossego e sem sucesso.  A gente tá lutando e não veio, até agora, o representante da prefeitura para falar com a gente, alguém da Sesan (Secretaria Municipal de Saneamento), para dar solução pra gente. A rua é desse jeito aí. Intrafegável. Mato, lixo, bueiros abertos. Onde tem mato é bueiro aberto", afirmou. 

"As pessoas vivem no mato", diz morador

Arquimino contou que, na manhã do dia 6 de junho, uma pessoa foi até sua casa para dizer que a interdição da Avenida Mário Covas prejudicou a coletividade. "Eu sei que prejudicou muita gente. Mas não é nossa intenção prejudicar e nem ofender ninguém. Estamos aqui para procurar melhorias para essa comunidade", contou. Ele disse que a Rua dos Comerciários dá acesso à avenida Augusto Montenegro e, se estivesse em boas condições, poderia servir como uma rota alternativa de escoamento de tráfego para quem transita naquela região. "Tem várias saídas. Serviria até para desobstruir o trânsito", observou.

Arquimino contou que, ao comprar um carro, a pessoa paga todas as taxas para os órgãos competentes. "Deixa tudo legalizado, paga certinho. Mas quem vai querer meter o seu veículo em uma rua dessa aqui? É um absurdo. A rua, desse jeito, é uma humilhação para a população", disse. O pedreiro acrescentou que muitos moradores têm vergonha de dizer que residem na Rua dos Comerciários. "A rua é cheia de água todo tempo. Essa água não seca nunca", completou. 

Os moradores estão na expectativa de que, na próxima terça-feira (11), uma comissão de moradores se reúna com o prefeito Zenaldo Coutinho. Arquimino disse, na quinta-feira (6), que não estava programada uma nova interdição de rua. "Não vamos trabalhar com protesto. Vamos trabalhar com papelada", afirmou. Ele disse que vai recolher as assinaturas dos moradores da rua e registrar esse abaixo-assinado em cartório, para, na terça-feira, apresentá-lo ao prefeito. Arquimino carregava um monte de documentos e ofícios, protocolados, na prefeitura, desde 2015. "Mas, até agora, nada foi resolvido. Queremos que ele (o prefeito) conclua a obra, que começou em 2015. Não estamos aqui para julgar o prefeito e nem para julgar ninguém. Queremos a melhoria para a nossa comunidade. As pessoas vivem no mato, na lama, no lixo. O lixo está no meio da rua. Isso é demais, cara", lamentou. Arquimino acredita que, em seus três dias, o protesto tenha reunido em torno de 250 moradores, dos quais 150 ficavam fixos no local da interdição, em sistema de revezamento. 

Estado espera prestação de contas da Prefeitura

A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria de Saneamento (Sesan), já havia informado que as obras de saneamento na Rua dos Comerciários, no bairro da Cabanagem, "fazem parte de um convênio com o Governo do Estado, para a realização de obras de pavimentação e drenagem. A Sesan aguarda a aprovação da prestação de contas para liberação da próxima parcela do convênio para a retomada das obras". O governo estadual, por sua vez, informou que "a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) e a Prefeitura de Belém tem um convênio com o governo do Estado, de 2016, onde foram repassadas duas parcelas de recursos à administração municipal. Entretanto, não houve prestação de contas da Prefeitura dos recursos destinados. Assim, por questões legais, a Sedop não pode fazer novo repasse até que seja entregue a referida prestação de contas ao Estado pela gestão da capital". A Prefeitura de Belém informou que uma equipe técnica da Secretaria de Saneamento (Sesan) esteve, na quarta-feira (5), na Rua dos Comerciários, conversando com moradores e verificando a situação em que se encontra a via.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
O Liberal
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!