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SILVIO NAVARRO

Formado em jornalismo, acompanhou os principais fatos políticos do país nas últimas duas décadas como repórter do jornal Folha de S.Paulo em Brasília e na capital paulista, editor de Veja e âncora da Jovem Pan. É comentarista político da RedeTV! e escreve para a revistaoeste.com e o jornal O Liberal. Autor do livro "Celso Daniel - Política, corrupção e morte no coração do PT". | silvionavarrojornalista@gmail.com

Quanto vale o vice

Silvio Navarro

Uma das principais pedras no tabuleiro eleitoral é a escolha do vice para compor a chapa. Há até quem diga que o vice seja uma figura decorativa, com papel insignificante na engrenagem da máquina pública e, no caso de Brasília, não deveria passar de um político para mudar a mobília de lugar no Palácio do Jaburu – ou assinar alguns papéis quando o presidente viaja. A história recente, contudo, deixou algumas lições.

Os cinco presidentes eleitos desde a redemocratização tiveram experiências muito diferentes com os seus copilotos. Fernando Collor de Mello deixou o Palácio do Planalto pelas portas dos fundos e entregou o país para o folclórico mineiro Itamar Franco. A "República do Pão de Queijo" deu a largada à estabilidade econômica depois de anos de inflação sem rédeas e moeda frouxa. Itamar terminou o mandato com mais de 40% de aprovação, algo raro desde José Sarney, e passou a faixa para Fernando Henrique Cardoso em 1995.

Durante os oito anos que administrou o país, FHC teve ao seu lado o pernambucano Marco Maciel, do antigo PFL – sigla egressa da Arena, que depois mudou para DEM e hoje não se sabe mais o que será. Maciel passou 44 anos na política, foi ministro, presidente da Câmara dos Deputados, senador e governador. Era discretíssimo, raramente dava entrevistas, detestava câmeras de TV e sempre foi extremamente gentil, inclusive com adversários. Deixou a vida pública sem um único relato de intriga que incomodasse FHC. “Se há uma palavra para caracterizar Marco Maciel é lealdade”, disse o tucano, em junho do ano passado, quando o amigo morreu.

A escolha do mineiro José Alencar para disputar a eleição de 2002 com Luiz Inácio Lula da Silva é um caso bem-sucedido de marketing puro de campanha – mas, leia-se: bem-sucedido. Empresário articulado, sua presença ajudou a fazer do petista alguém palatável para o mercado financeiro. Foi além: Lula tinha na figura de Alencar uma espécie de coringa para apagar incêndios na Esplanada dos Ministérios – não à toa, o vice chefiou a pasta da Defesa quando o PT queria exercer influência sobre os militares.

No final do seu segundo mandato, mesmo com o passivo do mensalão e do petrolão nas costas, Lula conseguiu eleger Dilma Rousseff. Mas a equação já era completamente diferente das disputas anteriores: havia o PMDB embrenhado nela. O vice-presidente eleito era o experimentado político Michel Temer.

Apeada da Presidência da República em 2016 por crime de responsabilidade contra a Nação, a petista afirma ter sido vítima de um golpe parlamentar comandado pelo PMDB de Temer. Até hoje ela não digeriu.

Na confusa eleição de 2018, que marcou o fim do projeto de poder do PT, foi o vice, Fernando Haddad, quem acabou sendo colocado na urna porque Lula estava preso – e o partido tentou usar um truque na campanha que não colou. O então candidato Jair Bolsonaro escolheu o general Hamilton Mourão como parceiro na chapa, numa relação que nunca foi muito amistosa, nem tampouco deve se repetir neste ano.

Nos próximos meses, tanto o atual presidente quanto o petista terão de escolher seus vices para a corrida de outubro. Bolsonaro não dá muitas pistas – é possível que opte por um militar de confiança ou uma mulher. Já Lula segue em sua paquera com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin.

Quem conhece a trajetória de embates do PT paulista, sua enorme base sindical no Estado e o PSDB desde os tempos de Mario Covas – de quem Alckmin herdou o Palácio dos Bandeirantes em 2001 – jamais apostaria na prosperidade dessa união. Mas aí tudo depende de quanto Lula achar que vale o vice – é ele quem decide o preço.

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Silvio Navarro
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