SILVIO NAVARRO

Formado em jornalismo, acompanhou os principais fatos políticos do país nas últimas duas décadas como repórter do jornal Folha de S.Paulo em Brasília e na capital paulista, editor de Veja e âncora da Jovem Pan. É comentarista político da RedeTV! e escreve para a revistaoeste.com e o jornal O Liberal. Autor do livro "Celso Daniel - Política, corrupção e morte no coração do PT". | silvionavarrojornalista@gmail.com

A ciranda partidária sem fim

Silvio Navarro

Assim que o carnaval chegar ao fim – com ou sem blocos na rua –, o país vai acompanhar uma frenética troca de filiações partidárias de políticos que pretendem disputar as eleições de outubro. Trata-se da tal "janela" imposta pela legislação, com prazo de validade de um mês, para quem pretende jogar com outra camisa neste ano. Ao que tudo indica, a dança de cadeiras será intensa.

Antes de apontar o "quem ganha e quem perde", é importante lembrar que a Câmara dos Deputados tem hoje 24 partidos representados – alguns, como a barulhenta e advocatícia Rede, conta só com uma parlamentar. Mas, acredite, são 33 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dessa lista, 23 recebem dinheiro do fundo partidário, porque as demais não atingiram a cláusula de desempenho em 2018 – um montante de quase R$ 1 bilhão por ano, destinado somente a custear as despesas da agremiação, especialmente os salários dos seus dirigentes.

Outro detalhe: esse dinheiro não tem relação com o fundão eleitoral, aquela montanha de recurso público que sai do Orçamento para bancar campanhas a cada dois anos – e depois o Ministério Público e a Polícia Federal descobrem que parte das cifras foi parar em mãos erradas.

No próximo mês, a principal movimentação envolverá o recém-criado União Brasil (UB), resultado do abraço da ala antibolsonarista do PSL com o DEM – que troca de figurino pela terceira vez desde que a Arena deu origem ao PFL nos anos 1980. A agremiação larga com 81 deputados federais, embora quase metade tomará outro rumo. Os principais destinos devem ser o PL, que já foi PR numa fusão com o Prona e depois retomou o nome inicial, e o PP, que já foi PDS, PPR, PPB… A sopa de sílabas não tem fim.

Dificilmente, as conversas para se montar uma "federação" vão prosperar. Esse é o nome dado à nova ferramenta eleitoral que permite às siglas disputarem eleições juntas, desde que o casamento dure por quatro anos. A chance é quase nula porque se já é difícil formar alianças nos Estados, imagine numa corrida com mais de 5.500 municípios em 2024?

Então, o que deve ser observado nesse xadrez?

1) Quem vai subir no barco do PT, já que a tal "frente ampla de esquerda" parece natimorta;

2) Quantas das tantas "terceiras vias" vão sobreviver até agosto?;

3) Quanto tempo vai demorar para os donos dos partidos que dominam a cena política há décadas admitirem que a prioridade será mesmo eleger uma bancada forte na Câmara.

A Justiça Eleitoral pode mudar as regras do pleito a cada dois anos, mas a ciranda será sempre a mesma em Brasília: com pelo menos 30 deputados eleitos em outubro, o partido já poderá reivindicar um ministério, quiçá uma diretoria de estatal em janeiro do ano que vem.

 

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