O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A cabana de cada um

Océlio de Morais

A cabana rústica, bem típica dos climas tropicais do interior amazônico, era toda construída de palha selvagem.  Entre seis a doze meses, a cobertura precisava ser trocada porque, pelos efeitos do Sol,  a palha vai secando, e vai envelhecendo ou apodrecendo, pelos efeitos das chuvas constantes. No piso de terra batida, também habitat natural delas, surgiram um ou outro ninho de formigas rurais, num ou noutro canto da palhoça.

Sem quartos de privacidade, cozinha de jantar ou alpendre de recepção,  a palhoça foi construída no meio de um roçado, numa daquelas colônias à moda antiga, numa pequena cidade da Amazônia brasileira.

Raios do Sol nascente penetravam as frestas entre palhas do teto e das quatro paredes, avisavam que o dia estava chegando, também anunciado  pelos cantos dos passarinhos, e pelos grunhidos de macacos-de-cheiro e guaribas de pelos ruivos ou castanho-escuro. 

Uma criança com seus 9 a 10 anos de idade via naqueles raios solares um dedo de Deus, indicando alguma esperança...

O ar puro e refrescante de todas as manhãs era a voz da  liberdade no meio da floresta – voz  especialmente  anunciada sempre num domingo por mês, quando o padre ia na colônia e as famílias se reuniam no culto religioso na pequena capela-palhoça: ali os valores cristãos, éticos e morais eram ensinados.

O padre aconselhava que era pecado aos olhos de Deus e também crime aos olhos da Lei justa, roubar/furtar e matar, lembrando o 6º e 8º mandamentos que Deus outorgou  à humanidade,  incumbindo a Moisés anunciá-los ao povo dispersivo e descrente. 

 Mas o padre também ensinava que os pais deveriam ser honrados e respeitados como forma de manter a família.  Tudo isso – dizia o padre – com os olhos e corações voltados para Deus, a quem se deve amar com toda força do coração e da mente sobre todas as formas de poder do mundo: era   a boa nova anunciada por Jesus no Novo Testamento. 

A criança passou a entender que a família  era um valor cristão, a mais importante viga-mestra da sociedade. E que Deus – o Criador Soberano e Sublime – está acima de todos os poderes e instituições criados e defendidos pelos homens. 

Aquela cabana rústica abrigava uma família cristã, tal como outras daquela localidade amazônida – famílias  que realmente acreditavam que os pecados mortais  do furto, do roubo  e  assassinatos sempre desagradavam  a vontade de Deus. 

A criança cresceu e foi para a cidade, outro paradigma de valores e  de cultura, meio urbano onde é mais evidente a disrupção dos bons  valores  humanos como consequência das más escolhas do livre arbítrio – más escolhas que, geralmente, envolvem o poder  político. 

Todos minimamente conscientes sabem: a vida adulta possibilita perceber  com mais clareza que uma vida rústica ensina que a simplicidade das coisas necessariamente não retira a dignidade, mas a enobrece, a partir  da vivência dos valores cristão e outros valores humanos fundamentais. 

A liberdade anunciada pelos raios do Sol matinal, também filtrados nas copas das  árvores, era uma espécie de farol da esperança de que as chances que a vida oferece  não podem ser desperdiçadas pelas escolhas erradas – escolhas, por óbvio, que podem levar à corrupção da natureza humana e  das coisas.

A cabana rústica pode entrar no imaginário como a moradia  da simplicidade tão necessária para ninguém deixar fugir entre os dedos a chance de vivê-la com plenitude de convicção as virtudes cardeais e teologais.

A disrupção das virtudes tem o poder de ir definhando e mortificando a liberdade.  Mas, a cabana está em todos os lugares. Nela, todos podem habitar. Basta o desejo convicto com toda a força da alma.  A simplicidade é um desafio permanente  para a livre escolha para lapidar os bons valores tão necessários como exemplos inafastáveis à  sociedade. 

É a simplicidade fundada nessas virtudes  – portanto, não corrompida pelas más escolhas – que dá significado especial às garantias e aos direitos  fundamentais da liberdade.

A cabana de cada um pode abrigar os mandamentos de Deus, como virtudes indispensáveis à vida, e para abrigar as leis justas, como referências para dirigir condutas lícitas. 

A cabana da simplicidade  de cada um resulta das boas escolhas (livre arbítrio) ao que é lícito e  aos  éticos valores, estes, antídotos contra a corrupção  da condutas  humana e das coisas. 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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