LUÍS ERNESTO LACOMBE

Formado em jornalismo, trabalha desde 1988 em televisão. Foram 20 anos na Rede Globo e passagens pela Rede Manchete e Bandeirantes. Hoje, tem dois programas na Rede TV!, dois projetos na internet e ainda é colunista de três grandes jornais do país. É autor de quatro livros, um deles best seller. Em 2021, venceu o prêmio Comunique-se, o mais importante da área de Comunicação no Brasil, em duas categorias. | lacombe@brasilmediahouse.com

O país do carnaval

Luis Ernesto Lacombe

Aquele carnaval que passou, o de 2020, foi “contagiante”. O governador de São Paulo estava animadíssimo... “Tanto riso. Oh! Quanta alegria”. E não vou atravessar o samba, entrar em especulações, discutir se teria sido melhor cancelar a folia dois anos atrás, se foi melhor mesmo cancelar a festa no ano passado, neste ano. O que poderia ter sido, o contrafactual não vale muito, talvez nem o verso curto de um samba, uma rima apenas de um estribilho chiclete.

A Universidade Johns Hopkins, que não é escola de samba, que não vive no mundo da fantasia, disse que, nesse enredo de combate à covid, a adoção do lockdown foi uma bobagem. Grande parte da imprensa, um Pierrô apaixonado pela Colombina, pelo “fica em casa”, pelo “fecha tudo”, ignorou o estudo. Uma matéria curta quase oculta, uma notinha no jornal, confete sem plural, coisa pouca, nada que entregasse o amor sem sentido de outrora.

Os jornalistas também podem ser ruins da cabeça, doentes do pé... São como aqueles presidentes ou patronos de escola de samba, aqueles que ninguém pode contrariar, contradizer. Um surdo de marcação no compasso errado, e a gente da imprensa relativiza o que é aglomeração. Tem seus próprios conceitos, sua verdade própria, e sempre o mesmo culpado por tudo, das mortes por covid à guerra, passando pela falta e pelo excesso de chuva.

Os governantes proibiram os blocos, mas teve bloco, bloquinho, festa privada lotada. Teve bateria completa e feijoada nas quadras, minidesfiles de escolas de samba, um mundo de gente, milhares de foliões empolgados, “livres, leves e soltos”. Os jornais descreveram: “foi um carnaval improvisado e inusitado”, feito por quem “não suportava mais os dois anos de jejum momesco”. Pela cobertura empática e fofinha da imprensa, acabou a pandemia (o que é ótimo!), mas vai o Bolsonaro dizer isso, vai o Bolsonaro aparecer na praia... Genocida é a fantasia que lhe vestem.

Então, entre para o arrastão do “Bloco Acorda pra Vida”! “Estamos em uma democracia”, disse o prefeito de uma capital, você não soube? A bateria deu uma virada, mudou o andamento... Ninguém mais vai humilhar o povo, impedir a circulação das pessoas, ninguém mais vai nos impedir de trabalhar. Se tentarem de novo, vamos fingir que estamos festejando. Um tambor e um abadá resolvem, não importa a época do ano... E criança na escola de verdade, agora e sempre, é como criança na escola de samba, no carnaval, não precisa usar máscara contra vírus nenhum.

O dia vai clarear, e todos entenderão que a vida não pode mesmo ser um carnaval de ilusões, tem alegorias e fantasias, mas tem realidade, tem verdades. Tem adereços e tem o que a pode enfear, desalinhar, desguarnecer. Vamos evoluir, no tempo necessário, sem o enredo da hipocrisia, que, ao contrário do samba, precisa ter hora para acabar. E a hora é agora! Ou talvez nunca mais parecerá positivo, de novo, ser o país do carnaval.

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Luis Ernesto Lacombe
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