Quem te viu, quem te vê... Linomar Bahia 22.01.23 20h40 Bolos foram servidos e medalhas concedidas em celebração dos 407 anos de fundação desta Santa Maria de Belém do Grão Pará sem, contudo, sinalizar um futuro animador, estimulando a nostalgia sobre um passado que sobrevive apenas na saudade. Quando muito, consolam vestígios do que tem sobrevivido à terrível associação entre a ação do tempo e a carência administrativa. Consolados pelo adágio de que recordar é viver, pensamentos viajam e vão buscar o bem-querer nas relíquias que ainda restam. Cada aniversário enseja a reflexão sobre o quanto Belém continua engrossando a lista da “terra do já teve”. Recorrendo à história, encontramos a primeira capital brasileira a ter lampião nas ruas e gás encanado nas casas, sediar a agência número 3 do Banco do Brasil, os charmosos bondes de poltronas de palhinha e fiel cumpridor da pontualidade britânica. Ou fazer ouvir na famosa acústica do palco do Teatro da Paz a nata dos intérpretes e companhias da ópera internacional, sob medida ao fausto de então. Estreitas relações com o “Velho Mundo” nos presentearam com os parques e jardins e boulevares no estilo cosmopolita da “Art Nouveau” predominante na Europa do final do século XIX, sob uma atmosfera intelectual e artística que valeu à capital paraense a denominação de “Paris dos Trópicos”. Também contam capítulos desse “ontem” as caixas d´água monumentais, de que resta apenas a de São Brás, os mercados de ferro trazidos da Inglaterra, uma “Palmeira” de pães e doces e os galpões do porto. Nesses 407 anos do aporte de Caldeira Castelo Branco, fustigado pelos franceses de Napoleão Bonaparte, foram plantadas mangueiras para atenuar a temperatura equatorial e dar frutos agradáveis aos paladares e danosos aos carros. Construíram templos e palácios correspondentes à bonança e bom gosto da época, enriquecidos pela fase áurea da borracha. O caboclo Plácido encontrou a imagem de Nazaré e inaugurou a devoção, renovada a cada outubro nos tantos louvores à Virgem. Quem te viu e quem te vê, Belém. Vê traços desbotados de um tempo que não volta mais. Pouco mais que a visão das águas pelas bordas da cidade que a incúria municipal permitiu ocupar. Vagas lembranças do Largo da Pólvora, um depósito de munição transformado em Praça da República. Uma Praça Batista Campos desfigurada, como desfigurados têm sido praças e prédios, que de tanto “tombados” pelas custódias patrimoniais, vão tombando literalmente para reviverem apenas na saudade. Essa cidade de toques europeus, que inspiraram o pernambucano Manuel Bandeira a poetizar seus encantos em “Bem-Bembelelém - Viva Belém, morena gostosa, em te quero bem...” vai morrendo na perda das joias arquitetônicas e no sepultamento do que já foi a metrópole mais europeia do Brasil. Quem sabe, o espírito de Antonio Lemos encarnará em alguém que restabeleça os encantos que, apesar dos pesares, continuam sendo cantados por renitentes amantes, para celebrar os anos que virão. Linomar Bahia é jornalista e escritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave Linomar Bahia linomar bahia COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Linomar Bahia . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM LINOMAR BAHIA Linomar Bahia Aonde vamos? 12.03.24 16h46 Linomar Bahia Juízo final 21.02.24 12h56 Linomar Bahia Estão faltando “Eles” 21.02.24 12h53 Linomar Bahia Desvios de rumos 26.01.24 12h42