LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Novo apenas o calendário

Linomar Bahia

Em março de 1814, o político francês Charles Talleirand publicou que “eles não aprenderam nada e não esqueceram nada”. Referia à França sob o reinado de Luís XVIII, quando os Bourbons retornavam ao poder, 25 anos após terem sido expulsos, repetindo os mesmos erros que os haviam derrubado. Dois séculos depois, essa frase frequenta os noticiários sobre a volta de personagens dos maiores escândalos do país, atualizando o dizer de um ministro dos anos 1990 de que “no Brasil, até o passado é incerto”.

Pelo que se está vendo e ouvindo, por mais otimistas e melhores as intenções nos desejos de “Feliz Ano Novo” de cada “réveillon”, é inevitável constatar que “novo” continuará somente o anuário do antigo calendário romano, baseado nas fases da lua. Já naquela época antes de Cristo, arranjos assim objetivavam atender conveniências dos imperadores em acomodarem festividades à imagem e semelhança do “pão e circo” com que há milênios desviam as atenções do povo das agruras de cada época.

Para atender ao populismo de então, a nova contagem do tempo estabelecia que janeiro, março, maio, julho, agosto, outubro e dezembro teriam 31 dias, enquanto os demais contariam 30 dias. Excetuaram fevereiro que, a cada quatro anos, passa de 28 para 29 dias, por isso classificado como ano bissexto de 366 dias, em vez dos 365, pelo arredondamento do excedente de um quarto para mais um dia inteiro, demonstrando que muitas mudanças convenientes e decisões de hoje têm passado bem remoto.

Em 1572, Luís de Camões escreveu no épico “Os Lusíadas”, considerada a obra prima da literatura em língua portuguesa, que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança. Tomando sempre novas qualidades”. Para frustração das projeções do escritor lusitano, desde priscas décadas, os tempos no Brasil não têm sido acompanhados pelas desejadas e prometidas mudanças nas tantas gestões e regimes que se sucedem há 500 anos.

Sai ano e entra ano e os brasileiros têm visto se esvaírem rapidamente as promessas das campanhas e as esperanças de que tudo vai melhorar. Pelo contrário, ressuscitam piores no Ano Novo, prenunciando piorar cada vez mais. Anúncios dos próximos agentes governamentais desanimam com o resgate de envolvidos em ilícitos administrativos e financeiros que, em condições normais, seriam reprovados pelas exigências constitucionais de notório saber e reputação ilibada para exercer funções públicas.

Atos e práticas reveladores de que nada aprenderam e nada esqueceram indicam que também no Ano Novo, os pobres continuarão mais pobres e mais numerosos, enquanto os ricos estarão mais ricos, aprofundando as desigualdades sociais, pelas quais os governantes são responsáveis. A propósito, coincidentemente com a diplomação dos eleitos, reprise da novela “O Rei do Gado” exibia o “senador Caxias”, interpretado pelo ator Carlos Vereza, classificando de “balela” tudo quanto chamam de democracia.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

 

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