Milhões ao mar Linomar Bahia 27.03.23 13h38 Frequentemente nos deparamos com o quanto pode valer a pena voltar no tempo e refletir sobre adágios como o de que recordar é viver, ensinando uma das formas de evitar dissabores e prejuízos diante do imponderável. Quando foram anunciadas as obras de contenção e urbanização da orla conhecida como “pracinha” em Salinópolis, me vieram à lembrança testemunhos do quanto as marés poderiam avançar sobre o continente, destruindo tudo que de natural e artificial possa obstruir o seu curso. Existem memórias e documentos, inclusive estudos geológicos e oceanográficos de órgãos oficiais sobre o movimento das águas, registrando os fenômenos a que o litoral está sujeito, o confirmados cada vez que as águas dos mares assumem maiores proporções nas alturas das ondas e na força com que se deslocam, especialmente nos meses de março setembro de cada ano, constituindo os efeitos astronômicos conhecidos como “equinócio”, em que o sol está mais próximo da linha do Equador. Entretanto, as conveniências políticas e eleitoreiras em detrimento das indispensáveis preocupações técnicas e, até, científicos, indicam a falta de cuidados com a verdade de que o mar sempre procura retomar os espaços que lhe são usurpados pelas mãos do homem, a exemplo do que se tem visto em várias localidades litorâneas no país e mundo afora. Ao longo do tempo, muros de arrimo e avenidas têm sido tragados pelas águas no nordeste e em orlas gaúchas, restando apenas escombros de invasores. Em Salinópolis e no Mosqueiro, para ficarmos nas regiões praianas mais vistosas do Estado, as águas já avançaram em mais de mil metros no Maçarico, deixando apenas nas lembranças da época edificações como o bar e restaurante “Telhadão” obrigando manter floresta num manguezal como barreira, embora privando a visão do mar. No Atalaia, as marés vem empurrando as barracas para as dunas, enquanto no lado do “Farol Velho” mansões tentam resistir com muralhas solapadas a cada batida das ondas. Não foi diferente na “pracinha”, onde foram consumidos 56 milhões de reais em muro de arrimo, espaços de esportes e convivência. Tivessem consultado registros fotográficos de época, testemunhos de antigos frequentadores e a memória do que era há algum tempo, teriam sabido que a beirada já foi há mais de meio quilômetro, consumidos pelas marés em uma semana, processo de que o “Barlavento”, na curva do hotel “Salinópolis” foi a última vítima, arrancado aos pedaços pelas batidas das ondas. Como recordar é viver, repórter de “A Província do Pará” nos anos 1950 e, posteriormente, frequentador do balneário, tenho testemunhado essa disputa entre o homem e a natureza, em que os humanos sempre serão perdedores. Acaso estejam para concretizar as obras anunciadas também na orla do “Atalaia”, será de bom alvitre fazer a pesquisa padrão sobre o comportamento das marés salinenses nos últimos 100 anos, evitando jogar novamente milhões literalmente ao mar. Linomar Bahia é jornalista e escritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave Linomoar Bahia linomar bahia COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Linomar Bahia . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM LINOMAR BAHIA Linomar Bahia Aonde vamos? 12.03.24 16h46 Linomar Bahia Juízo final 21.02.24 12h56 Linomar Bahia Estão faltando “Eles” 21.02.24 12h53 Linomar Bahia Desvios de rumos 26.01.24 12h42