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LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Dividir para governar

Linomar Bahia

Muito se falam em pacificação nacional e superar a divisão meio-a-meio ideológico e partidário em que os brasileiros estão enredados, mas nada sinaliza passar das palavras às ações. Pelo contrário, ninguém parece disposto a depor as armas e empunhar a bandeira branca da paz, propiciando a suposição de que o divisionismo interessa aos antagonistas, alimentado pelas práticas e manifestações que mais escondem do que revelam.

Corporações públicas e privadas costumam estimular a competição entre os componentes em busca dos “louros da vitória”, estratégia atribuída a Luís XI de França, em relação aos Habsburgos, fragmentando as estruturas e impedindo a junção de grupos menores. “Divide et ipera” também foi arma de César na Roma antiga, Filipe II da Macedónia e Napoleão Bonaparte. Aulo Gabínio dividiu a nação judaica em cinco convenções.

Em “La binancia política”, Traiano Boccalini refere ao "divide et impera" como forma de controle do soberano sobre grupos de diferentes interesses, que poderiam se opor ao governo. Nicolau Maquiavel cita estratégia militar parecida, doutrinando que um capitão deve se esforçar ao máximo para dividir as forças do inimigo, pela desconfiança nos homens nos quais confiava antes, ou criando situações para separar e enfraquecer as forças.

Variações dessa estratégia têm sido adaptadas a cada situação e momentos, consistindo basicamente em criar ou estimular as divisões para evitar composições que poderiam desafiar as lideranças e dar poder político aqueles que estão dispostos a cooperar com o comando, fomentar a inimizade e a desconfiança entre os governantes locais, incentivar gastos sem sentido que reduzam a capacidade de despesas políticas e militares.

Assim como existem os objetivos políticos e empresariais em torno do dilema “shakespeareano” entre o consenso de ideias políticas e posições ideológicas e as razões pela divisão da sociedade, sempre haverá alguma concordância. O saudoso cronista e teatrólogo Nelson Rodrigues, por exemplo, provocou polêmica quando cunhou a frase de que “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.

No Brasil, a divisão das opiniões e preferências políticas atingiu tal nível de contaminação da sociedade, que tanto parece impossível ser superada como pode interessar aos grupos divergentes manter o “status quo” em preservação das respectivas lideranças. Ainda mais diante da possibilidade de mudanças de lado, comum na política, motivo da célebre constatação do mineiro Bonifácio de Andrada de que até boi pode voar.

Nos quatro milhões de anos da existência humana, tem se repetido que as massas seguem as lideranças, não havendo como convencer qualquer delas a pugnar contra seus interesses. Há uma tensão somente comparável aos tempos em que PSD, UDN e o antigo PTB eram os partidos que se alternavam no poder e provocavam cismas profundos, inclusive entre familiares, enquanto “dividir para governar” parece interessar aos litigantes.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

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