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LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Até quando?

Linomar Bahia

A exemplo da interpelação de Cícero à devassidão de Catilina no antigo senado romano, essa pergunta deve torturar as cabeça dos quantos esperam por alguma solução, em algum momento, para os graves problemas morais, políticos e sociais que afligem o país. Os mesmos que ficam desconfortáveis com o “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, nas contradições entre práticas inadequadas no trato de dinheiro público, o mesmo dinheiro que falta ao essencial das pessoas.

Ganhou destaque com a revelação dos gastos de R$ 6,6 milhões nas recentes viagens presidenciais, dos quais R$ 3,2 milhões só em hospedagens de luxo, exorbitantes até para marajás dos petrodólares. Ainda mais gritante quando comparada às despesas dos países ricos nas mesmas viagens, repercutindo nos R$ 14 milhões consumidos no cartão corporativo da Presidência em apenas quatro meses, enquanto 30 milhões passam fome e outros 100 milhões sobrevivem na linha da miséria.

Contrassensos entre o discurso e a prática na vida nacional refletem a insensibilidade daqueles que deveriam combater as causas das profundas desigualdades sociais com o próprio exemplo. Paradoxos que também se manifestam nas reuniões a pretexto de equacionar soluções para superar a pobreza, sem que as caras tremam quando se banqueteiam em regabofes requintados e se locupletam com os recursos bilionários que políticos atribuem a si mesmos e aos seus interesses.

Enquanto os desvarios e deslumbramentos causam estranheza ao mundo na mesma proporção em que parecem não constranger os praticantes, cresce e se amplia a lista das necessidades básicas dos brasileiros sem sinais de que venham a ser superadas. Somam 100 milhões aqueles que não dispõem de esgotos e ultrapassam os 35 milhões quantos não dispõem de água tratada, razões de moléstias, deficiências na segurança pública e deixam o sistema de saúde pela hora da morte.

Nas ruas brasileiras, cresce o número de pedintes e moradores de rua, engrossando a legião dos “sem teto”, situação que coloca o Brasil entre os cinco piores no mundo. Somente em Brasília onde, segundo Nelson Rodrigues, não há inocentes, porque todos são culpados e cúmplices, superam 200 mil os seres em situação de rua, constituindo uma triste e lamentável síntese da miséria de um país que já foi cantado como “país do futuro”, fazendo Brasília também capital das desigualdades.

Até quando? Eis a pergunta que constitui um desafio à paciência popular, lembrando reações históricas que têm na Revolução Francesa o maior exemplo. Ao mesmo tempo em que suscita a interrogação “Até quando abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?” contida nas “Catilinárias” com que Cícero verberou a devassidão que o senador Catilina promovia no senado romano de então.

 

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

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