Biblioteca versus ChatGPT Mayara Domont 02.10.25 7h00 O comando era: todos devem ir à biblioteca e pesquisar sobre a Belle Époque. O alvoroço era gigante, pois qualquer atividade extraclasse já era sinônimo de uma diversão. Grupinhos de trabalho se formavam para a possibilidade de mergulhar em livros, revistas e periódicos. Buscar uma informação a ser desenvolvida pelo grupo se tornava uma aventura. A bibliotecária enlouquecia com o alvoroço dos jovens! Para os mais compenetrados, o silêncio absoluto era necessário. Outros iam mais para curtir a saída eventual, e quem sabe encontrar um namoradinho. De lá já se saía com aquele bloco de papel ao maço, com a capa e o cabeçalho interno para ser entregue ao professor. Às vezes dava tempo de comer aquela pipoca do tio na esquina da Rui Barbosa. Velhos tempos de pesquisa, de beber da fonte, de manusear papéis, aquele cheirinho clássico. E o friozinho da biblioteca?! Alguns até cochilavam por ali mesmo, em cima de gibis dos super-heróis. E hoje? É você e o computador, ou é você e seu smartphone procurando conteúdo no Google, Wikipédia… Ah, já ia esquecendo: agora tem o ChatGpt. Esse sistema treinado de inteligência artificial, em uma conversa, te entrega tudo que precisas. Sem oportunidade de sociabilidade, ou pesquisa manual, ou produção de texto, que dirá aquele dom da sintetização de informações, a revolução da conversa com robôs quase cria um relacionamento de amizade e reciprocidade. E ele não te deixa na mão. Ele responde, resume, desenha, cria, formula, gera ideias... faltam verbos para explicar! Em um toque, ou pela voz, você já está de cara com o seu trabalho pronto! O grupo? Reúne online mesmo e só designa quem vai apresentar. Ensaio da apresentação? Ah, para que, né gente?! Baixa aquele App teleprompter, que te ensina a falar pausadamente, sem perceberem que você está lendo. Te cuida, William Bonner! De repente, um vídeo pronto e, em segundos, se envia tudo para o professor por e-mail. Nada de escrever, passar corretivo ou usar canetas coloridas para enfeitar. Tudo está muito digital! Voltando para nossas bibliotecas públicas, tentem lembrar aquele prazer de folhear livros ou revistas, que foi substituído pelo “prompt de comando” perfeito e elaborado, que já te entrega as imagens e a apresentação pronta. A cultura de pesquisa rápida chegou, e com ela a facilidade de não precisar ir a uma biblioteca física. A bibliotecária? Saudade dela também! Já “segurava” aquele livro disputado para você, lembra? A velocidade, a versatilidade da internet e apps de busca trouxeram essa realidade: aliou-se o útil ao agradável. Usar buscadores digitais não é de todo ruim, mas redigir um texto próprio, escrever a punho, tem seu valor também. Não é meus poetas? As bibliotecas físicas foram fechando, perdendo incentivos financeiros. Os livros foram tomados por traças. O tempo foi o inimigo e a tecnologia também. Algumas conseguiram transpor para sites todo seu acervo. E, em vez de passear em corredores cheios de estantes, agora navegamos na internet. Com o tempo, bibliotecas físicas tornaram-se virtuais, onde papéis viraram PDFs e o acesso gratuito agora virou uma assinatura paga mensal. Um verdadeiro streaming literário. A tecnologia trouxe essa agilidade nas informações e, lógico, isso facilitou nossas vidas. Porém, o raciocínio se perde, assim como as traças em livros. O tour, com a galera abrindo livros e mais livros, agora é virtual. Inclusive, você pode “levar pra casa” o livro e ler no seu Kindle. Sai da tela, levanta e vai! As bibliotecas ainda sobrevivem! Use a inteligência artificial ao seu favor, mas não deixe de explorar essa possibilidade infinita da inteligência humana de, inclusive, criar uma outra inteligência. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas Descomplic@ coluna descomplica Mayara Domont COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Descomplica . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!