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Trasladação chega à Catedral Metropolitana após cinco horas de duração

Apesar do atraso no início por causa do no atrelamento da corda, procissão teve ritmo ágil e foi acompanhada por 1,4 milhão de fiéis

Victor Furtado e João Thiago Dias

Na véspera de uma lua cheia, a Trasladação deste ano ganhou uma luz a mais no céu. Durante a missa que antecedeu a romaria, uma intenção foi posta para a fé e orações dos romeiros: pedir à Nossa Senhora de Nazaré paz e proteção ao Brasil, principalmente para as crianças e jovens. Historicamente, a romaria vem crescendo em público participante. A estimativa da Diretoria da Festa era de 1,4 milhão de pessoas no percurso de 3,7 quilômetros. Visualmente, não parecia ser menor do que a procissão principal do Círio, que reúne, em média, 2 milhões de pessoas.

CONFIRA COMO FOI A TRASLADAÇÃO EM TEMPO REAL

A tarde deste sábado (12) foi de chuva fina e insistente, apesar do sol forte. Depois, uma noite de calor e muito abafada. Essa combinação aumentou o sacrifício dos romeiros. Muitos costumam participar da Trasladação por ser um evento noturno; na teoria, com clima mais ameno. Desde o atrelamento da Berlinda à corda, as estações e núcleo já estavam bem tumultuados. Alguns promesseiros e voluntários se dedicavam a abanar quem estava na corda. Outros ajudavam na hidratação, com água para beber ou se refrescar.

Trasladação

Pontualmente, a missa começou às 16h30. A celebração foi feita pelo núncio apostólico, dom Giovanni D'Aniello. Num comentário pessoal, declarou: "Este é o meu terceiro Círio. Cada Círio é uma descoberta. Cada Círio nos provoca reações diferentes". Dom Giovanni está à frente da coordenação do Círio, em lugar do arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira. Dom Alberto está no Sínodo da Amazônia, a convite do papa Francisco.

As canções tradicionais da Quadra Nazarena ecoavam pela avenida Magalhães Barata. Milhares de pessoas, dentro e fora do Colégio Gentil Bittencourt,, formavam um coral improvisado e muito forte.

Na corda, os promesseiros e devotos tentavam se inspirar de força e resistência. Entoavam homenagens gritadas à Nossa Senhora de Nazaré. Como se fossem guerreiros se preparando para uma batalha. Não deixava de ser uma batalha contra o cansaço e o clima, para conseguir mostrar a fé na Virgem de Nazaré. Fosse para pedir uma graça ou agradecer uma já alcançada. Era como se estivessem em outra realidade. As palavras de dom Giovanni não chegavam a eles. Em parte, porque o sistema de som não deu conta. Foi uma reclamação recorrente.

 

Leituras na missa ilustram Maria como uma mulher em contato direto com Deus

Como o tema do 227º Círio é "Maria, Mãe da Igreja", as leituras extraídas da Bíblia simbolizavam esse tema. A primeira foi uma leitura do livro de Ester, na qual a rainha salvava o povo judeu, ao interceder junto ao rei por eles.

A outra vinha do enigmático e metafórico Apocalipse de João, que retrata a vinda de uma mulher revestida de sol e com a lua nos pés. Ela era mãe de um menino destinado a liderar as nações pagãs. Um menino cobiçado por um dragão (simbolismo do mal), mas que foi arrebatado por Deus. A mulher então foi protegida por Deus em um retiro, enquanto o Dragão era combatido por anjos.

Por fim, uma leitura, na Proclamação do Evangelho, do livro de João, na qual Jesus transformou água em vinho, durante um casamento na Galileia. Maria ordenou aos trabalhadores do casamento que obedecessem tudo o que Jesus dissesse. E houve vinho novamente na festa.

 

Partida da romaria começa com atraso e ritmo instável

Às 17h30, a Imagem Peregrina foi conduzida à Berlinda, ornada com cravos brancos e orquídeas da Amazônia. Foi uma simbologia a Jesus Cristo, dado à luz do mundo por Maria. As flores foram trazidas de São Paulo, especialmente para a ocasião. As orquídeas foram fornecidas por produtores regionais.

A previsão era de que a Trasladação começasse às 17h30. Pouco antes disso, a imagem peregrina já estava na Berlinda. Foram quase 20 minutos de atraso, até que os fieis começassem a puxar a corda. O atrelamento foi difícil e tumultuado, pela quantidade de pessoas e clima propício ao desgaste físico. Foi difícil organizar e partir.

Quando a Berlinda começou a se mover, o ritmo foi moderado. Mas as paradas para as primeiras homenagens acabaram tornando o ritmo mais lento. E reorganizar o movimento, que começou com dificuldade, era desafiador. Só nas homenagens do Colégio Santa Catarina de Sena, Clube do Remo e Colégio Marista, foram mais de 10 minutos.

Chegando ao cruzamento da avenida Nazaré com a travessa Quintino Bocaiúva, mais uma parada, para a homenagem do Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA) e da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (Codem). Não com fogos, mas com sirenes. Por ser uma área mais aberta, a parada deu chance aos devotos de chegar mais perto da santa. E de guardar a desejada foto para se lembrar depois daquele encontro.

Com o estreitamento da via, a velocidade da Berlinda aumentou. Mas isso acabou penalizando ainda mais os promesseiros e devotos na corda. O clima continuava abafado, sem vento. Muita gente começou a passar mal e o trecho não tinha deslocamento fácil para os voluntários da Cruz Vermelha Brasileira no Estado do Pará. Com mais água sendo consumida, mais resíduos plásticos ficavam pelo chão e misturavam-com água e papelão. O desafio para os romeiros só aumentava.

Mas em ritmo mais rápido, a imagem chegou à avenida Presidente Vargas às 19h40.

Agilidade e ausência de chuva 

Apesar da leve chuva no início da procissão, o tempo foi favorável para que a berlinda fosse conduzida com agilidade até a Catedral da Sé. Na esquina da avenida Presidente Vargas com a avenida Nazaré, a única água que ainda molhava os romeiros vinha de copos de água mineral distribuídos por vários colaboradores para amenizar a sede e o calor.

Neste cruzamento, considerado por muitos fiéis como um dos pontos mais complicados para driblar o tumulto, soldados do Exército já redobravam a força em um cordão para conter empurrões e escorregões em torno das estações da corda. Ao todo, os romeiros se dividem em cinco estacões, além do núcleo da berlinda e a cabeça da corda, estruturas de ferro que compõem esse ícone que reflete promessas e agradecimentos. 

Ainda nesta esquina, no edifício Manoel Pinto, moradores fotografavam e filmavam a passagem da berlinda com brilho nos olhos e visão privilegiada em vários andares iluminados e decorados com fitas, faixas e balões coloridos. Era difícil e concorrido encontrar uma posição confortável ali por baixo, na rua, mas a santa entrou na avenida Presidente Vargas mediante as vozes emocionadas do coral da Prefeitura de Belém, posicionado no início da arquibancada.

Ao longo da avenida Presidente Vargas, no perímetro da Praça da República, as luzes das arquibancadas lotadas reforçavam o brilho da berlinda, que este ano recebeu um reforço com 16 novos pontos de iluminação externa. Para este ano, a decoração com 15 mil flores, dentre cravos brancos e orquídeas da Amazônia, foi pensada para sugerir a ideia de que a imagem estivesse entre as nuvens.

Dentre as homenagens na avenida Presidente Vargas, o Banco da Amazônia (Basa) caprichou na chuva de pétalas e nos fogos in-door. Também houve a apresentação do coral Vozes da Amazônia, formado por empresários e ex-empregados do banco; do grupo AMA, que completou o vigésimo ano participando da arquibancada do Basa; e do grupo Anjos de Resgate. 

Já na avenida Boulevard Castilhos França, muitas famílias aguardavam a passagem da santa em cadeirinhas de praia em frente à Estação das Docas. Um dos momentos mais aguardados foi a queima de fogos na Praça dos Estivadores, que foi aplaudida em coro. Com as estações sendo desatreladas quase no início do Ver-O-Peso, a peregrinação ganhou mais ritmo na reta final do percurso. 

Próximo ao mercado do Ver-O-Peso, embarcações iluminadas e decoradas chamavam bastante atenção. Toda a Praça do Relógio estava tomada por fiéis posicionados desde cedo para acompanhar o encerramento da Trasladação. Na última curva, na avenida Portugal, já se aproximando da Catedral da Sé, a berlinda era reverenciada diante de cansaço embasado de dedicação e fé. 

Apos rodear a Praça Dom Frei Caetano Brandão, na Cidade Velha, a berlinda se misturou às belezas dos pontos turísticos do Complexo Feliz Lusitânia e, por volta das 22h39, quase 50 minutos antes do horário previsto, chegou ao palco montado em frente a Catedral Metropolitana, onde foi recebida pelo Cônego Roberto Vacalli. Muitos fieis ainda seguiram em vigília em frente à Sé, ao longo da madrugada, aguardando o Círio. 

Jovens

A participação de adolescentes e jovens é bastante expressiva na procissão das luzes. Seja na corda ou em trechos mais tranquilos, é possível perceber a juventude engajada emanando fé e solidariedade. 

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Secretaria de Turismo, 70% do total de participantes são pessoas com menos de trinta anos. 

Segurança

Durante a Trasladação, a Polícia Militar disponibilizou cerca de 720 agentes, sob a coordenação do Comando de Policiamento da Capital I. Além de assegurar o policiamento ostensivo nas transversais próximas, os policiais militares acompanharam a condução da corda. Vinte policiais militares foram posicionados nos dez pontos de observação dispostos na avenida Presidente Getúlio Vargas.

A Segup solicitou ao comando aéreo regional a criação de uma zona de exclusão de tráfego aéreo no polígono da Trasladação. O objetivo da medida foi evitar a circulação de aeronaves em baixa altitude sobre a multidão, colocando em risco as milhares de pessoas que acompanham as procissões.

Além disso, o Corpo de Bombeiros atuou com 200 homens ao longo do trajeto e 16 postos de atendimento médico. E a Delegacia de Polícia Civil reforcou os plantões das Seccionais de São Brás, Comércio e Cremação, para atender as possíveis demandas de ocorrências durante a procissão.

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