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Tradição centenária mantém viva a arte dos ex-votos no Círio

Peças de cera, produzidas desde o fim do século XIX, guardam histórias de cura, gratidão e promessas pagas aos pés de Nossa Senhora

Gabriel da Mota e Vito Gemaque
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Desde o fim do século XIX, uma oficina de cera no bairro da Cidade Velha em Belém molda, ano após ano, pequenos símbolos de fé que atravessam gerações. A prática começou quando um dos fundadores, imigrante português, enfrentou um grave problema de saúde e decidiu reproduzir em cera o órgão afetado, oferecendo-o a Nossa Senhora de Nazaré como promessa. “Assim ela foi crescendo na família, depois saiu de dentro de casa e tomou essa proporção tão grande que eu costumo dizer que hoje é um tripé: a promessa, o romeiro e Nossa Senhora”, recorda Pedro Manoel Barbosa, 63, responsável por preservar o ofício.

image Pedro Manoel Barbosa, proprietário da Casa Círio (Carmem Helena / O Liberal)

Ao longo das décadas, os pedidos mais recorrentes permanecem: casas e cabeças. “O sonho de todo brasileiro é ter sua casa própria. Já em relação à cabeça, há diversas situações que se pode imaginar e criar o que o promesseiro precisa”, explica. Outros formatos surgem conforme as demandas do tempo, como miniaturas de celulares ou peças relacionadas a doenças específicas.

Um ofício herdado

A ligação de Barbosa com o trabalho veio nos anos 1980, quando a antiga fábrica, criada por três portugueses — João, José e Joaquim —, estava prestes a encerrar as atividades. “O seu Joaquim foi o último dos precursores. Os filhos não quiseram continuar”, lembra. Na época, Barbosa não trabalhava com cera, mas no ramo farmacêutico. Tinha farmácias em sociedade, mas mantinha acesso à fábrica.

“O dono dizia: ‘Só passo se for pro Pedrinho’. E assim ficou para mim”, conta.

image Casa Círio tem uma história quase tão antiga quanto a própria Festa de Nazaré em Belém (Carmem Helena / O Liberal)

Depois de um período em sociedade com outro gestor, assumiu definitivamente e deixou os negócios anteriores para se dedicar ao ofício, há 40 anos. “Passei a me dedicar só para isso. Nosso trabalho se estende o ano todo, com produção para igrejas no Pará, no Maranhão e em outros estados”, afirma.

Promessas

Entre as muitas encomendas, Barbosa cita um casal de Barcarena, na região metropolitana de Belém, que, todos os anos, pede um boneco grande em agradecimento pela cura do filho de um grave problema oncológico. Ele também menciona o casal de professores que, vivendo no Paraná, solicitou um bebê de cera com o peso exato do filho recém-nascido para celebrar a recuperação da criança. “São coisas que a gente vê que [a fé] não é uma utopia, funciona. Todos nós aqui somos católicos e acreditamos no que fazemos. É também uma devoção nossa”, pontua.

image Produção das ceras é feita pelo ajudante geral, João do Socorro Santana (Carmem Helena / O Liberal)

Barbosa observa que a presença dos jovens entre os que cumprem promessas com ex-votos é menor. “Hoje em dia o jovem tem outra forma de acreditar e expressar a fé. Quem mais compra é o idoso, a mãe, a avó”, comenta. Ainda assim, acredita que a prática não deve se perder. “Isso aqui é um tripé que não pode parar. É a promessa, o promesseiro e Nossa Senhora. É um triângulo amoroso que não pode ser encerrado nunca”, finaliza.

A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.

 

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Círio 2025
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