Vegetação e planejamento urbano ajudam a reduzir calor no Círio
Professora da UFPA defende corredores verdes, sensores e ações de gestão para melhorar o conforto térmico dos romeiros

Além de diagnosticar a tendência de aumento do calor em Belém, a ciência também pode contribuir para tornar a experiência dos romeiros do Círio de Nazaré mais segura e confortável. A professora Maria Isabel Vitorino, diretora da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), defende a integração entre dados meteorológicos e planejamento urbano. “O conhecimento científico vem auxiliar as atitudes da administração pública. Isso é o que os países de primeiro mundo fazem”, afirma.
Ela destaca que cidades como São Paulo já possuem núcleos de meteorologia integrados à gestão municipal. “O prefeito está diretamente ligado a esses servidores, que trabalham para abastecer e dar respostas. Belém precisa desse olhar”, sugere.
Monitoramento específico para as romarias do Círio
Durante o Círio, previsões diárias são fornecidas por órgãos como o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), mas, segundo a professora, essas previsões poderiam ser mais detalhadas.
“É possível fazer estudos específicos para as romarias. Nós temos uma série de 50 anos de dados e podemos analisar o aspecto horário, diário e mensal para apoiar o planejamento”, explica.
Ela também sugere a instalação de sensores ao longo do trajeto. “Seria extraordinário coletar medidas contínuas durante o evento, ano a ano, para alimentar visitantes e autoridades com informações confiáveis”, propõe.
Vegetação urbana ajuda a amenizar altas temperaturas
Para mitigar o calor sentido pelos romeiros, a urbanização de Belém precisa ser repensada com foco em sombreamento e áreas verdes. “Tem que ter corredores de vegetação adequados para que a gente tenha sombra e parques”, afirma Maria Isabel. “Belém tem nichos importantes, como o Utinga e o Bosque Rodrigues Alves, mas a cobertura vegetal urbana ainda é muito insuficiente”.
Ela também relaciona esse cuidado com a natureza à fé. “O tema do Círio 2025 fala de Maria como Rainha de toda a criação. A criação não é só natureza: é o ser humano, é o espaço urbano, é tudo o que precisa de cuidado”, afirma.
Mudança climática exige ação e educação ambiental
A professora alerta para os efeitos das mudanças climáticas, que já afetam o cotidiano. “Encontramos um planeta maravilhoso e o alteramos ao nosso bel-prazer. Agora estamos colhendo os efeitos”, diz. Ela defende a educação ambiental desde o ensino básico e políticas públicas integradas.
“É preciso planejar o futuro, porque o Círio vai continuar crescendo e a cidade precisa estar preparada para receber milhões de pessoas com dignidade e segurança térmica”.
A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.
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