Moradora do edifício Manoel Pinto da Silva relembra visitas de Dom Vicente Zico durante o Círio

A vista privilegiada para acompanhar a romaria do Círio de Nazaré, da sacada do edifício Manoel Pinto da Silva, localizado na avenida Nazaré com a Presidente Vargas, no Centro de Belém, é uma benção da Padroeira da Amazônia, garante a devota Arminda Souza, 84 anos, que reside no imóvel há 40 anos. Nesse período, ela colecionou diversas lembranças das comemorações em seu apartamento nos dias dos traslados, mas a principal delas é a ilustre companhia de Dom Vicente Joaquim Zico, falecido em 2015.

Nascida em berço católico, a aposentada conta que morar no emblemático prédio sempre foi um sonho, pois ela sentia no coração a vontade de estar mais perto das procissões. “Quando criança, morava perto da Paróquia São Francisco de Assis, Capuchinhos, e já acompanhava o Círio com os meus pais. Desde aquela época, eu já sonhava em morar aqui. Minha mãe dizia que era difícil, pois meu pai era padeiro e minha mãe trabalhava como costureira, mas eu dizia que para Deus nada é impossível”, comentou.

A devota reside no edifício Manoel Pinto da Silva há 40 anos (Filipe Bispo/O Liberal)

Arminda conta que os pais já falecidos não conseguiram passar o Círio ao lado dela no edifício, no entanto, outros familiares e amigos tiveram essa oportunidade, como é o caso do mineiro e 8º arcebispo de Belém, Dom Vicente Zico. “Ele era muito meu amigo, me chamava de madrinha, e dizia que era os meus pais. Ele vinha pra cá e confirmava que todos os anos iria passar o Círio aqui. Minha sacada virou um ponto onde Dom Vicente gostava de vir para ver a Trasladação e o Círio”, afirmou.

Ela conta que a amizade entre os dois começou quando a devota ia confessar para ele na Arquidiocese de Belém. “Onde ele estivesse eu ia atrás, Dom Vicente era meu confessor antes de ser arcebispo. Ele veio como predecessor de Dom Alberto Gaudêncio Ramos, então nossa amizade era muito antiga. Logo quando ele adoeceu, chegou a vir aqui, era um mineiro que amava Belém, chegou a escrever um livro com poesias para a cidade, e amava comer um peixe com açaí. Mesmo nos últimos dias de vida, me dizia que gostaria de tomar açaí e eu dava para ele, com permissão dos médicos”, contou.

A última visita de Dom Vicente à eterna amiga Arminda Souza, no edifício Manoel Pinto da Silva, ocorreu em 2014. Na época, o ex-arcebispo chegou a realizar uma missa no local antes dos festejos do Círio. Durante as procissões, Dom Vicente costumava acenar para os fiéis da sacada do apartamento da devota. Vários desses e outros momentos inesquecíveis para Arminda foram registrados em fotografia, que encontram-se em vários pontos da sua casa, seja em porta-retratos, quadros ou em banners.

Arminda Souza segura em porta-retrato dela ao lado de Dom vicente Zico (Filipe Bispo/O Liberal)

Para o Círio 2022, além de enfeitar a sacada do apartamento com balões e outras ornamentações temáticas, ela ganhou uma imagem de Dom Vicente Zico, com cerca de 1 metro de altura por 80 centímetros de comprimento, feita em PVC, por um amigo em forma de pagamento de promessa. A imagem será colocada na sacada nos dias da Trasladação e Círio para que os fiéis possam se sentir perto do ex-arcebispo novamente.

“Quero colocá-lo na sacada, para ele abençoar todos os devotos que estarão na procissão, todos meus amigos e familiares que estarão aqui conosco, pois sei que ele esteve com a gente durante esses últimos dois anos que foram muito difíceis por causa da pandemia, de alguma forma ele esteve nos protegendo. Ficamos dois anos sem Círio, e a saudade é enorme, e esse retorno será muito especial, tenho fé em Nossa Senhora que a nossa festa aqui continuará sendo especial como sempre foi”, disse a devota.