Feitos de cera e fé: objetos traduzem e materializam a gratidão dos devotos

Objetos utilizados para o pagamento de promessas são tradição no Círio

Ronan Frias
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A tradição dos ex-votos é um exemplo da forte religiosidade paraense e demonstra a devoção dos fiéis em busca de proteção divina, principalmente em momentos difíceis.

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Pela saúde dos filhos, a aposentada Antônia Silva encomendou e entregou em honra à Virgem de Nazaré duas pequenas estátuas de cera no formato de um menino e de uma menina. “A minha filha foi diagnosticada com um mioma e precisou fazer a retirada do útero, mas eu orei à Nossa Senhora e ela nos atendeu. O meu filho teve problemas na tireoide, mas eu não fraquejei, mantive minha fé e ele também foi curado. Agora eu procuro um rim de cera para promessa que fiz pela saúde do meu genro. Tenho certeza que Nossa Senhora de Nazaré vai nos ajudar mais uma vez”, assegura a devota.

Essa demonstração de fé ganha destaque em peças com diversos formatos, como partes do corpo humano (braços, corações e seios), formas de animais, veículos, casas e até de livros, carteiras de trabalho e bolas.

Em uma das lojas mais tradicionais de objetos de cera, os devotos podem escolher entre 92 opções prontas ou encomendar um ex-voto mais específico. “Aqui nós produzimos cerca de 120 mil peças por Círio. O número é tão grande quanto a devoção. Produzimos todas as partes do corpo. Normalmente as que mais saem são as em forma de pulmão, coração e cabeça”, afirma o vendedor Pedro Manuel.

Dentro da Basílica Santuário de Nazaré existem dois locais especiais onde os ex-votos podem ser depositados. Os objetos também são entregues nos carros dos ex-votos durante o Círio. Após a festividade, alguns elementos são expostos no museu Memória de Nazaré. Cada item depositado é um testemunho de perseverança.

A igreja reconhece e valoriza esse gesto espontâneo. “Tudo isso é manifestação de gratidão por uma bênção alcançada. E a igreja contempla esse gesto como uma forma espontânea, valiosa e concreta do povo de Deus”, afirmou o padre Francisco Maria Cavalcante, pároco da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro.

Tradição

Os ex-votos, feitos atualmente em cera, são muito mais do que simples objetos de devoção. São representações da esperança do povo ao longo do tempo. Desde os primeiros Círios é comum encontrar registros de ex-votos feitos com materiais diferentes dos fabricados atualmente.

Alguns exemplares do século XIX foram feitos com pedaços maciços de madeira e estão em exposição no Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP). De acordo com o professor da UFPA e diretor do IHGP, Aldrin Figueiredo, os ex-votos tornaram-se populares no Brasil a partir do século XVIII, e foram popularizados principalmente durante o Círio de Nazaré.

“A cera já estava nas velas no século 19. No século 20, com a industrialização e a necessidade de produzir em grande quantidade, a cera entra em ação ainda com mais força. Você passa a ver isso claramente a partir dos anos 40, quando além das velas, a variedade passa para os objetos”, explica Aldrin.

Você sabia?

Os ex-votos estão presentes desde os primeiros Círios. Alguns exemplares do século XIX foram feitos de madeira. No Pará, a cera começa a ser utilizada para criações de objetos religiosos a partir dos anos 1940.

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Círio de Nazaré
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