Romeiros mantêm a fé mesmo com ausência de procissões

Em tempos normais, a peregrinação em honra a Nossa Senhora de Nazaré toma as PAs e BRs que levam a Belém num dos gestos mais representativos para quem vê no sacrifício físico a moeda mais justa para o pagamento de promessas no Círio de Nazaré. Desde o ano passado, no entanto, a estratégia vem sendo reinventada, assim como a maior parte da Festa. Mas o carinho, compromisso e cumplicidade que marca essa relação continua a mesma. E a depender da Diretoria da Festa de Nazaré a fase de pandemia será atravessada sem que nada disso mude.

A engenheira da computação Niellen Menescal, 30, é testemunha dessa relação sobrenatural. Ela  engravidou aos 22 anos e recorreu a Nossa Senhora pela saúde do filho. A mãe, dona Nilma, também fez promessa pela cura do neto. Arthur superou as dificuldades e hoje tem oito anos de vida. Desde então, Niellen paga promessas no Círio e distribui água aos romeiros, junto com um grupo de amigos, na procissão do segundo domingo de outubro.

“Me sinto filha de Maria também, além de ver nela a mãe que um dia quero poder ser pro meu filho. Quero ensinar ao Arthur a importância da empatia, do amor e do respeito ao próximo. Quero que ele saiba que ser cristão é saber partilhar e olhar o outro com amor, independentemente de raça, classe ou gênero. É assim que vejo Maria na minha maternidade”, conta Niellen.

Como em 2020, a ausência de procissões impede que as promessas sejam cumpridas no trajeto que leva da Catedral de Belém à Basílica Santuário. Mas o tradicional almoço, realizado logo após a romaria e que fecha com ‘chave de ouro’ quem acompanha o percurso, continua sendo programação indispensável para quem vive o Círio em Belém. “Agora que tenho a minha casa a movimentação do almoço do Círio é simples, mas não deixa de ter. Amigos e familiares são sempre bem vindos.”

Promessas podem ser pagas no CAN

A Diretoria da Festa de Nazaré criou uma estrutura que permite o pagamento de promessas em alguns carros expostos no Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN), em frente a Basílica Santuário. Inclusive com o depósito de ex-votos, partes do corpo humano e outros artefatos moldados a cera depositados no carros dos milagres durante as procissões do Círio e da Trasladação. Os objetos, de acordo com a Diretoria da Festa, são recolhidos assim que o carro fica cheio e levados para dentro da Basílica, a exemplo do que acontece durante a procissão do Círio.

“A novidade este ano está no carro que recolhe mantimentos. A Basílica tem intensificado o auxílio a famílias em situação de risco e vulnerabilidade social neste tempo de pandemia. É importante que as pessoas entendam a situação difícil que muitas pessoas têm passado o nos ajudem a ajudar essas famílias”, explica o diretor de Arraial e Arrecadação do Círio de Nazaré, Sérgio Reis.

A Niellen, que pelo segundo ano seguido não terá como entregar água aos romeiros como parte da promessa que sempre cumpre, entendeu bem a mensagem da Diretoria da Festa e trocou os copos d'água por alguns quilos de alimentos. “O importante é contribuir e ajudar quem realmente precisa. Espero que no próximo ano as coisas estejam normalizaras e o Círio volte a reunir tantas pessoas em torno da berlinda”, conclui.

Você sabia?

Desde 2010, a Diretoria da Festa de Nazaré criou um espaço exclusivo para o acolhimento de romeiros oriundos das mais diferentes cidades e comunidades do interior paraense. Estas pessoas chegam à capital depois de caminhar por dias ou horas como compromissos firmados por meio de promessas a Nossa Senhora. É a Casa de Plácido, que funciona no Centro Social de Nazaré com a ajuda de 1.200 voluntários. Com a ausência das procissões, o espaço permanecerá fechado em 2021, repetindo uma decisão já adotada em 2020. O nome é uma homenagem ao caboclo Plácido José de Souza, que no ano de 1.700 encontrou a imagem original às margens de um igarapé e, ali, ergueu uma pequena ermida em honra à Santa. No local, foi construída a igreja onde hoje está a Basílica Santuário de Nazaré.